Putin e Yanukovych: presidente russo informou que a Rússia aceitou reduzir em um terço o preço do gás vendido para a Ucrânia (AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de dezembro de 2013 às 14h47.
Moscou - O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou nesta terça-feira um acordo para eliminar os obstáculos comerciais entre Rússia e Ucrânia, além de um investimento de 15 bilhões em títulos, após um encontro com seu colega ucraniano, Viktor Yanukovich, no Kremlin.
"Levando em conta os problemas da economia ucraniana (...), o governo russo decidiu investir uma parte de suas reservas (...) em títulos do governo ucraniano, em um valor de 15 bilhões de dólares", declarou.
"Isto não está ligado a nenhuma pré-condição, nem a um aumento, nem a uma diminuição, nem ao congelamento de benefícios sociais, de aposentadorias, bolsas de estudo e despesas", acrescentou, referindo-se às condições impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para conceder um empréstimo a Kiev.
Putin também informou que a Rússia aceitou reduzir em um terço o preço do gás vendido para a Ucrânia, que passaria a custar 268,5 dólares por 1.000 metros cúbicos, ao invés dos mais de 400 dólares atuais.
No início do encontro, Yanukovich disse que Ucrânia e Rússia deveriam desenvolver uma "associação estratégica, e que o encontro de hoje é, em certa medida, estratégico".
A Ucrânia, país de 46 milhões de habitantes, está no centro de uma batalha diplomática desde que o presidente ucraniano decidiu não assinar um histórico acordo de associação com a União Europeia (UE) e tentar fortalecer as relações com a Rússia.
Uma zona de livre comércio
A oposição acusa Yanukovich de querer "vender" o país a Moscou, que tenta convencer a Ucrânia a aderir a uma união alfandegária com Rússia, Belarus e Cazaquistão.
No entanto, Putin afirmou que a questão da adesão da Ucrânia à união aduaneira liderada por Moscou não foi discutida durante as negociações.
"Gostaria de garantir a todos que nós nãos discutimos a adesão da Ucrânia à União Aduaneira", declarou.
Ainda assim, os dois países assinaram nesta terça um acordo destinado a retirar os obstáculos comerciais junto com uma série de outros documentos.
Yanukovich declarou, no entanto, que é preciso resolver o problema da queda do volume de negócios entre os dois países.
"Acredito que devemos coordenar o trabalho, não apenas entre Rússia e Ucrânia, mas também com os outros países da CEI (Comunidade de Estados Independentes - ex-repúblicas soviéticas) para que possa haver realmente uma zona de livre comércio", afirmou.
A oposição ucraniana, que protesta e ocupa a Praça da Independência, no centro de Kiev, há quase quatro semanas, convocou uma nova manifestação para esta terça-feira.
Quase 200 manifestantes se posicionaram na estrada que leva ao aeroporto, informou o partido Batkivchina (A Pátria), mas o presidente Yanukovich decidiu seguir para o terminal de helicóptero.
"O presidente tem medo dos ucranianos", afirmou Maxim Burbak, deputado do partido, o mesmo da líder opositora detida e ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko.
A súbita decisão do presidente ucraniano de rejeitar o Acordo de Associação com a União Europeia (UE) desencadeou as maiores manifestações contra o governo desde a Revolução Laranja de 2004, que marcou o início de uma aproximação da Ucrânia com o Ocidente.
Mas ela também deixou em evidência a profunda divisão entre o setor nacionalista de língua ucraniana, forte no oeste do país, e o leste russófilo alinhado com Moscou.
Os acontecimentos dos últimos dias sugerem que Yanukovich está cedendo às pressões e buscando uma forma de escapar da mais grave crise política de seus quatro anos de poder.
Na sexta-feira, uma reunião com três líderes opositores não teve êxito, mas o presidente destituiu autoridades que considerou responsáveis pela violenta repressão aos manifestantes durante os protestos do fim de novembro.
Os ministros europeus das Relações Exteriores tentaram tranquilizar o colega russo Serguei Lavrov, afirmando que uma eventual aproximação entre Ucrânia e UE não teria "impacto negativo" sobre a Rússia.
Mas em um sinal de degradação das relações, a Rússia deslocou baterias de mísseis de curto alcance Iskander-M para a região de Kaliningrado, perto da área da UE. O anúncio provocou preocupação na Europa e Estados Unidos.