Usina termelétrica em New Haven: o embate em torno dessas emissões mostra como as negociações ainda estão distantes de uma conclusão (©AFP/Arquivo / Saul Loeb)
Da Redação
Publicado em 29 de novembro de 2012 às 13h28.
Brasília – Além das emissões de gases de efeito estufa previstas em função de atividades industriais e econômicas, por exemplo, o mundo pode ter que absorver um excedente de mais de 13 bilhões de toneladas de gás carbônico. O volume de emissões extras vem de uma espécie de sobra dos países desenvolvidos e de economias em transição econômica, como as antigas repúblicas soviéticas e os países do Leste Europeu.
Essas economias cumpriram as metas do primeiro período de compromisso do Protocolo de Quioto, emitindo menos do que o limite permitido. A margem que conquistaram por ter emitido menos, nos últimos anos, foi resultado da recessão enfrentada por essas economias que reduziu o ritmo das fábricas, mantendo os níveis de poluição atmosférica abaixo do estipulado.
A decisão sobre o uso desse excedente a partir de agora tem sido uma das principais preocupações dos observadores brasileiros que acompanham as negociações da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática. A COP18, como é conhecido o evento, reúne, desde o último dia 26, especialistas de mais de 190 países em Doha, no Catar, na busca por soluções para manter a elevação da temperatura do planeta abaixo dos dois graus celsius (2ºC) – valor definido como ideal para reduzir os impactos do aquecimento global, como as enchentes e secas extremas.
Há quatro dias, negociadores da Rússia, Ucrânia e Polônia têm pressionado as delegações de outros países para garantir que o uso do excedente dessas emissões seja autorizado para o segundo período do Protocolo de Quioto. O novo tratado deve começar a partir de janeiro do próximo ano, quando expira o prazo das atuais metas que têm sido cumpridas pelos países para reduzir emissões de gases nocivos ao planeta.
“Estão jogando duro para poder ‘carregar’ seu excedente para o segundo período”, disse o coordenador do programa de mudanças climáticas e energia do WWF Brasil, Carlos Rittl, que acompanha as negociações no Catar. Ele destacou que esse movimento tem contribuído para que as metas de redução de emissões de outros países sejam mais “tímidas”.
A intenção dos três países é usar o excedente para atingir suas metas ou vender esse excedente para outros países. Do outro lado da mesa, negociadores de países em desenvolvimento e alguns países europeus estão tentando evitar que essa autorização seja um resultado da COP18. “Com a urgência do problema das mudanças climáticas, isso tornaria praticamente impossível evitar que o aquecimento global passe dos 2°C, o que traria consequências catastróficas para todos os países”, explicou Carlos Rittl.
O embate em torno dessas emissões mostra como as negociações ainda estão distantes de uma conclusão. Nessa fase da conferência, os especialistas tentam chegar a um texto mais consensual, que será analisado a partir do próximo dia 4 de dezembro por ministros dos quase 200 países representados na COP18.
Aliado às polêmicas, o novo tratado não terá o compromisso dos Estados Unidos, do Canadá, da Russia, do Japão e da Nova Zelândia. E a União Européia, que chegou a sinalizar que aumentaria sua meta de redução das emissões em 30%, recuou em função da crise econômica e tem sinalizado a intenção de manter o atual patamar de redução de 20% também para os próximos anos.
“O risco maior na negociação é de termos um segundo período muito pouco efetivo em termos de redução de emissões”, avaliou Rittl. “Há muitos riscos nessa negociação, nada de aumento de ambição em metas e em financiamento climático, muitos assuntos sem soluções fáceis. Mas negociação só termina no último minuto”, acrescentou, otimista, lembrando que as negociações ainda prosseguem por mais oito dias no Catar.