Conselho de Segurança da ONU: membros do Conselho durante votação do projeto de resolução dos EUA que pede eleições presidenciais na Venezuela, em NY, EUA (Lucas Jackson/Reuters)
AFP
Publicado em 1 de março de 2019 às 06h49.
Rússia e China vetaram nesta quinta-feira (28) um projeto de resolução apresentado pelos Estados Unidos na ONU que exigia a realização de eleições "justas" na Venezuela, mas uma contraproposta de Moscou também naufragou ao não obter os votos necessários.
As fracassadas votações deixaram em evidência a divisão entre as potências mundiais na ONU sobre o caminho a seguir na Venezuela, mergulhada numa grave crise política e com sua economia em colapso.
O texto americano, que também pedia o ingresso "sem exigências" de ajuda humanitária, recebeu o apoio de nove dos 15 membros do organismo, entre eles França, Grã- Bretanha, Alemanha, Peru e República Dominicana.
O texto seria aprovado caso não fosse a China e Rússia. A África do Sul votou contra, enquanto Indonésia, Guiné Equatorial e Costa do Marfim se abstiveram.
O texto russo, que expressava preocupação por "ameaças do uso da força" na Venezuela, obteve apenas quatro votos a favor (Rússia, China, África do Sul e Guiné Equatorial), sete contra e quatro abstenções.
"Lamentavelmente, ao votar contra esta resolução alguns membros deste Conselho continuam protegendo Maduro e seus cúmplices e prolongando o sofrimento dos venezuelanos", lamentou no Conselho o representante americano para Venezuela, Elliott Abrams.
Apesar do resultado, o diplomata americano celebrou o apoio recebido pela proposta.
"Os Estados Unidos parecem ter esquecido o que é o direito internacional (...) Isto é uma cortina de fumaça, a única coisa que desejam é uma mudança de governo (...) disfarçada de assistência humanitária", declarou o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia. "Já vimos isto na Líbia, Iraque, Síria e Afeganistão".
O texto americano garantia que o governo de Maduro provocou um "colapso econômico", que é necessário impedir o crescimento da crise humanitária e exigia o "ingresso sem exigências".
Também estabelecia a realização de"eleições livres, justas e confiáveis" na presença de observadores internacionais e descrevia a reeleição de Maduro em maio passado como fraudulentas.
O embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, denunciou após avotação o "roubo de mais de 30 bilhões de dólares" do povo venezuelano por parte dos Estados Unidos e Grã-Bretanha, que bloquearam seus ativos.
Para o russos, a proposta americana gerava preocupação pelas "ameaças do uso da força" na Venezuela e "tentativas de intervenção em assuntos" internos do país. Para Moscou, deve-se buscar uma "solução política" e "pacífica" da crise, além de defender que o governo Maduro é o único que tem autoridade para solicitar ajuda e coordenar sua entrada e e distribuição.
A Venezuela atravessa a pior crise de sua história moderna, com hiperinflação e uma escassez de alimentos e medicamentos que jáprovocou o exílio de 2,7 milhões de pessoas desde 2015.