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Rússia e China impedem pressões da ONU à Assad

É a terceira vez nos 17 meses da crise na Síria e dos combates em Damasco que Moscou e Pequim se unem para refrear a pressão ocidental

Bashar al Assad: o duplo veto obteve a rejeição da ONG Human Rights Watch (HRW), que lamentou em comunicado a "cruel indiferença" da Rússia e China (Sana/Divulgação/Reuters)

Bashar al Assad: o duplo veto obteve a rejeição da ONG Human Rights Watch (HRW), que lamentou em comunicado a "cruel indiferença" da Rússia e China (Sana/Divulgação/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de julho de 2012 às 17h15.

Nações Unidas - Rússia e China reforçaram nesta quinta-feira seu papel como principais apoiadores do regime do presidente sírio, Bashar al Assad, ao exercer pela terceira vez seu poder de veto na ONU e impedir que o Conselho de Segurança pressione a Síria com uma ameaça de sanções se o governo não abandonar o uso de armamento pesado.

O principal órgão de decisão da ONU ficou novamente engessado em sua tentativa de refrear a crise na Síria ao se reiterar a diferença de opinião que divide os países ocidentais, respaldados pela grande maioria do Conselho, e Rússia e China, em sua resposta à tragédia que o país árabe vive.

Estava em análise um projeto de resolução apresentado pelos países europeus e pelos Estados Unidos, que ameaçava aplicar as sanções econômicas e diplomáticas do Capítulo VII da Carta da ONU se o regime não retirasse em até dez dias suas tropas dos centros urbanos e detivesse o uso de armamento pesado.

A proposta obteve voto positivo de 11 dos 15 países do Conselho (EUA, França, Reino Unido, Alemanha, Portugal, Colômbia, Guatemala, Índia, Azerbaijão, Togo e Marrocos), mas caiu ao receber a recusa da Rússia e da China, membros permanentes e com direito a veto. Paquistão e África do Sul se abstiveram.

É a terceira vez nos 17 meses da crise na Síria e dos combates em Damasco que Moscou e Pequim se unem para refrear a pressão ocidental - com o apoio dos países árabes - ao regime ditatorial.

Os primeiros dois vetos da Rússia e China "foram muito destrutivos, mas este é ainda mais perigoso e deplorável", disse a embaixadora americana na ONU, Susan Rice, que assegurou que a posição dos dois países é "contrária à maioria do Conselho de Segurança, à Liga Árabe, a mais de 100 países e às aspirações dos sírios, que merecem algo muito melhor" de Moscou e de Pequim.


"Só podemos esperar que um dia, antes que morram mais milhares de pessoas, Rússia e China deixem de proteger Assad e permitam a este Conselho desempenhar seu papel adequado na resposta internacional à crise na Síria", acrescentou Rice.

O governo dos EUA também considerou hoje "muito lamentável" e "deplorável" o veto e acrescentou que não apoia que a missão de observadores das Nações Unidas no país árabe seja estendida.

China e Rússia "estão do lado errado da história", disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, que acrescentou: "Não há dúvida que o futuro da Síria não inclui Bashar al Assad. Seus dias estão contados e é um erro apoiar ao regime, que está chegando a seu fim".

O porta-voz de Obama também se mostrou contrário à continuação da missão dos boinas azuis no país: "é absurdo enviar a observadores desarmados da ONU para enfrentar a brutalidade do regime de Assad".

A frustração foi clara também entre os embaixadores dos países que apresentaram a resolução, que acusaram ambos governos de "colocar seus interesses nacionais acima da vida de milhões de sírios", nas palavras do embaixador britânico, Mark Lyall Grant, um dos mais críticos com russos e chineses.

O embaixador russo, Vitaly Churkin, justificou seu voto defendendo que impede "uma intervenção militar estrangeira" e "outras ações que poderiam ser muito prejudiciais" para a Síria, embora o projeto ocidental só mencionasse uma ameaça de sanções diplomáticas e econômicas e em nenhum momento o uso da força no país árabe.

Além disso, o representante russo afirmou que no momento as potências ocidentais realizam "uma grande batalha geopolítica na Síria que não tem nada a ver com os interesses dos sírios" e "tudo a ver com o Irã".

A resolução ocidental previa também a ampliação do mandato da Missão de Observação das Nações Unidas na Síria (UNSMIS), que expira amanhã, e os membros do Conselho precisam chegar a um consenso sobre o que fazer com ela antes de deixá-la cair.


O Reino Unido já prepara um projeto de resolução para "uma ampliação final" da UNSMIS por 30 dias e, se não ocorrer uma redução da violência, conseguir sua retirada ordenada, informaram à Efe fontes diplomáticas.

Algumas delegações querem votar esse texto hoje mesmo, mas a Rússia, segundo Churkin, não está satisfeita com a versão que viu e prefere adiar a votação para amanhã.

Além do futuro da missão dos observadores, está em suspenso o papel do próprio mediador internacional, Kofi Annan, que hoje expressou sua "decepção" pela incapacidade do Conselho de Segurança de adotar "uma ação forte e combinada" contra o aumento da violência na Síria.

"Annan precisa da união da comunidade internacional. Ele pediu concretamente o uso do Capítulo VII, mas agora a comunidade internacional está dividida, por isso terá que esperar os próximos dias para ver se há algo mais a fazer pela via diplomática", reconheceu o embaixador francês, Gérard Araud.

O duplo veto obteve a rejeição da ONG Human Rights Watch (HRW), que lamentou em comunicado a "cruel indiferença" da Rússia e China "diante das violações que continuaram por sua série de vetos", e os acusou de "dar as costas mais uma vez aos sírios enquanto o governo segue seu brutal ataque sobre os civis".

Desde que os enfrentamentos entre as forças do regime de Assad e os grupos de oposição começaram, há quase 17 meses, mais de 15 mil pessoas morreram, dezenas de milhares de civis se refugiaram e mais de 1 milhão de pessoas precisam de assistência humanitária de urgência, segundo dados da ONU. 

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