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Rússia começa a pagar o preço de seu isolamento

"O rublo está no nível mais baixo de sua história e a economia russa está claramente notando os efeitos das sanções" ocidentais, disse secretário americano


	Putin: seu decreto congela salários de funcionários do Kremlin e do Ministério das Relações Exteriores até 2016
 (AFP)

Putin: seu decreto congela salários de funcionários do Kremlin e do Ministério das Relações Exteriores até 2016 (AFP)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2014 às 15h33.

Moscou - A Rússia já está pagando o preço do isolamento com a contração da economia do país e o abandono de projetos como o gasoduto South Stream, enquanto espera impaciente o discurso sobre o Estado da Nação que será feito na quinta-feira pelo presidente Vladimir Putin.

O chefe de Estado promulgou nesta quarta-feira, perante ambas as câmaras do parlamento, um decreto que ordena o congelamento dos salários dos funcionários do Kremlin e do Ministério das Relações Exteriores até 2016.

"O rublo está no nível mais baixo de sua história e a economia russa está claramente notando os efeitos das sanções" ocidentais, disse John Kerry, secretário de Estado americano.

A economia russa registrou um crescimento nulo em outubro e, segundo o Ministério da Economia, encolherá em 2015, quando poderá entrar em recessão caso sejam mantidas as sanções pela Ucrânia e os preços do petróleo continuem em queda livre.

A moeda nacional segue em processo de desvalorização, os lucros empresariais caem e a fuga de capitais deverá beirar os US$ 100 bilhões neste ano, o que demonstra a pouca confiança dos investidores na recuperação da economia russa.

Os russos também já começaram a notar os efeitos da economia devido à redução do poder aquisitivo, o que obrigou muitos a desistirem de viajar para o exterior. Segundo a agência estatal de estatísticas Rosstat, a inflação de 2014 foi de 8,5%.

O fantasma do "crack" do rublo em agosto de 1998, quando as economias dos russos se transformaram em papel molhado da noite para o dia, paira no ar, embora ninguém espere uma nova moratória como aquela.

O líder russo repetiu, até não poder mais, que as dificuldades causadas pelo isolamento ocidental à economia russa são "mínimas", mas a queda dos preços do petróleo prejudicou seus prognósticos.

Ao longo das últimas semanas, Moscou elevou o mantra da reorientação comercial e energética para a Ásia, mas especialistas consideram que esses planos não deixarão de ser uma utopia até a metade do século.

Segundo os especialistas, ao contrário de 2009 - última vez que a economia russa se contraiu por causa da crise econômica internacional - nesta ocasião a crise foi criada por obra do próprio Kremlin.

Em meio a um novo ciclo de instabilidade econômica, o governo russo apostou em dar prioridade às ambições expansionistas, ao anexar em março a península ucraniana da Crimeia e apoiar em abril os separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia.

Todos esses fatores, segundo os especialistas, dificultarão o cumprimento do contrato social assinado por Putin com o povo após ser reeleito em 2012 e colocará a toda prova a lealdade dos russos, cujo sentimento patriótico aumentou à medida que crescia o isolamento internacional de seu país.

Por causa das divergências com a União Europeia, a Rússia teve que abandonar nesta semana o custoso gasoduto South Stream, um projeto estratégico destinado a evitar usar a Ucrânia como território de passagem do gás russo com destino ao sul da Europa e aos Bálcãs.

A Rússia já gastou US$ 5 bilhões nesse gasoduto e investiu outros US$ 25 bilhões, motivo pelo qual Putin viajou à Turquia em busca de alternativas, o que não evitará que Itália e Sérvia continuem dependendo do gás russo que chegue pela Ucrânia.

"Derrota diplomática de Putin", intitularam alguns jornais ocidentais, embora outros opinem que o Kremlin desistiu do South Stream por motivos puramente orçamentários.

No entanto, nem todos são fatores externos e geopolíticos, motivo pelo qual todos esperam a resposta de Putin no discurso de quinta-feira para o maior desafio internacional enfrentado desde que assumiu o poder, há mais de 15 anos.

O dilema é liberalizar a economia para romper o isolamento ou reforçar as linhas de um capitalismo de Estado que permitiu à Rússia superar a miséria pós-soviética e criar um fundo de estabilização contra as instabilidades financeiras.

Recentemente, após a proibição de produtos perecíveis ocidentais, Putin afirmou que a Rússia enfrenta uma situação histórica para reduzir sua dependência da importação de alimentos.

Por enquanto, o que substitui as maçãs polonesas, os pimentões espanhóis e os produtos lácteos bálticos são as frutas marroquinas, as verduras israelenses e os peixes e cítricos latino-americanos.

Os altos cargos mantêm a fé inabalável na política do Kremlin: "Que Deus lhe dê muita saúde! Se ele (Putin) governar por pelo menos outros dez anos, estaremos felizes", declarou Yelena Batanova, vice-governadora da região de Belgorod.

Prestigiados economistas como Sergei Guriev, que emigrou para Londres após divergências com o Kremlin, considera que a contração da economia se deve em grande parte à recusa de Putin à introdução de drásticas reformas estruturais.

"Putin sairá mais cedo ou mais tarde, mas a Rússia continuará e terá que procurar um lugar na grande Europa", disse na terça-feira Mikhail Khodorkovski, magnata russo que se exilou na Suíça após cumprir dez anos de prisão por causa de polêmicas sentenças.

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