Vladimir Putin: presidente russo acusou Ucrânia de ajudar terroristas envolvidos no ataque da semana passada
Redatora
Publicado em 25 de março de 2024 às 07h34.
O presidente russo Vladimir Putin alegou, sem evidências, que a Ucrânia havia "preparado uma janela" para que os terroristas envolvidos em ataque em Moscou na última sexta-feira, 22, atravessassem a fronteira da Rússia para a Ucrânia. Pelo menos 137 pessoas morreram no ataque.
No entanto, o grupo terrorista Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade pelo episódio. O EI também divulgou o que diz ser imagens do ataque. No sábado, a agência de notícias oficial do grupo, Amaq, gabou-se de que o Estado Islâmico havia matado uma "grande multidão de cristãos", segundo o jornal britânico The Telegraph.
Dois funcionários do governo dos EUA disseram na sexta-feira que os Estados Unidos tinham inteligência confirmando a reivindicação de responsabilidade do Estado Islâmico. Além disso, autoridades dos EUA disseram que haviam alertado a Rússia sobre informações de um ataque iminente ainda este mês.
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O presidente Vladimir Putin não mencionou publicamente o grupo militante islâmico em conexão com os agressores. Putin disse que algumas pessoas do "lado ucraniano" estavam preparadas para levar os atiradores através da fronteira. A Ucrânia negou qualquer envolvimento no ataque, e o presidente Volodymyr Zelenskiy acusou Putin de tentar desviar a culpa pelo ataque mencionando a Ucrânia.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, também questionou as afirmações dos EUA de que o Estado Islâmico estava por trás do ataque. Em um artigo para o jornal Komsomolskaya Pravda, ela disse que os Estados Unidos estavam evocando o "bicho-papão" do Estado Islâmico para encobrir seus "protegidos" em Kiev.
Ela também foi ao Telegram refutar as afirmações norte-americanas. “Gostaria que eles pudessem ter resolvido o assassinato do seu próprio presidente Kennedy tão rapidamente”, escreveu ela na rede social. “Mas não, há mais de 60 anos não conseguem descobrir quem o matou, afinal. Ou talvez fosse o EI também?”
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, posteriormente disse aos repórteres que a Rússia não poderia comentar a alegação do Estado Islâmico enquanto a investigação estivesse em andamento, e não comentaria sobre a inteligência dos EUA, dizendo que era informação sensível.
Os EUA também disseram ter recebido informações de que o grupo terrorista agiu sozinho. "O Isis é o único responsável por este ataque. Não houve envolvimento ucraniano algum", disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson, em comunicado.
Autoridades russas e mídia estatal ignoraram em grande parte as alegações do EI de estar por trás dos ataques. Meduza, um site independente em russo, relatou que a mídia estatal havia sido instruída pela administração Putin a enfatizar possíveis "rastros" de envolvimento ucraniano no ataque, de acordo com dois funcionários.
Olga Skabeyeva, uma apresentadora de televisão estatal, afirmou no Telegram que o serviço de inteligência militar ucraniano havia recrutado agressores "que se pareceriam com Isis. Mas isso não é Isis".
"A guerra na Ucrânia distraiu o Kremlin da ameaça terrorista do Estado Islâmico à Rússia", disse o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em seu discurso no último sábado, 23. Ele também negou qualquer ligação da Ucrânia com o ataque.
Zelensky acrescentou: "Se os russos estão prontos para morrer silenciosamente em 'Crocus Halls' [em referência à casa de shows atacada] e não fazerem perguntas às suas agências de segurança e inteligência, então Putin tentará usar tal situação novamente a seu favor".
Vera Mironova, associada do Davis Center da Universidade Harvard que estuda movimentos terroristas islâmicos na antiga União Soviética, disse ao Financial Times que o Estado Islâmico atingiu Moscou porque o risco de captura era menor. "É sobre a conveniência do alvo", disse ela.
Colin P. Clarke, especialista em terrorismo doméstico e transnacional do Soufan Group, uma empresa de consultoria em segurança global, disse ao The New York Times que "o Estado Islâmico tem se fixado na Rússia nos últimos dois anos", e disse que o grupo "acusa o Kremlin de ter sangue muçulmano nas mãos".