Presidente da Turquia, Tayyip Erdogan: "O cinismo do governo turco não tem limites", acrescentou (Umit Bektas/REUTERS)
Da Redação
Publicado em 2 de dezembro de 2015 às 15h24.
A Rússia acusou nesta quarta-feira o presidente turco Recep Tayyip Erdogan e sua família de estarem diretamente envolvidos no tráfico de petróleo com a organização Estado Islâmico (EI) na Síria.
Essas novas acusações ocorrem mais de uma semana depois da destruição pela aviação turca de um caça-bombardeiro russo perto da fronteira síria, um ato que provocou uma crise nas relações entre os dois países.
No entanto, a diplomacia russa deu o primeiro sinal de apaziguamento, ao aceitar a ideia de um encontro com os turcos nos próximos dias em Belgrado.
"O principal consumidor do petróleo roubado de proprietários legítimos, a Síria e o Iraque, é a Turquia. Depois de informações obtidas, a classe dirigente política, com o presidente Erdogan e sua família, está envolvida neste comércio ilegal", denunciou o vice-ministro russo da Defesa, Anatoli Antonov.
"O cinismo do governo turco não tem limites", acrescentou. "A Rússia já advertiu em várias ocasiões sobre o perigo de flertar com o terrorismo".
"Ninguém se pergunta por que o filho do presidente turco é o dirigente de uma das principais companhias de energia do país e seu genro foi nomeado ministro da Energia? Que empresa familiar tão maravilhosa!" , ironizou Antonov, em alusão à recente nomeação de Berat Albayark à frente desta pasta.
É a primeira vez que Moscou denuncia diretamente Erdogan e sua família, depois da salva de acusações contra Ancara desde que a aviação turca derrubou em 24 de novembro um avião militar russo na fronteira síria.
Erdogan não tardou a reagir, afirmando que a Rússia não tem direito de "caluniar" a Turquia.
"Ninguém tem o direito de difundir calúnias contra a Turquia, dizendo que está comprando petróleo do Daesh", acrônimo árabe do grupo EI, afirmou Erdogan, aludindo às acusações da Rússia que ele estaria envolvido pessoalmente no tráfico de petróleo com os jihadistas.
Vladimir Putin já havia acusado Ancara na segunda-feira de "proteger" os combatentes do EI e de acobertar este tráfico que representa uma das principais fontes de renda do grupo extremista.
Putin foi mais longe, assegurando que a decisão de abater o avião "foi ditada pelo desejo de proteger as rotas de circulação do petróleo para o território turco".
Moscou exige desculpas
Esta guerra de palavras pareceu ganhar uma trégua nesta quarta, quando o chanceler russo, Sergei Lavrov, anunciou uma reunião com o seu colega turco Mevlüt Cavusoglu, primeiro encontro entre altos funcionários de ambos os países desde o início da crise.
"Nós vamos ouvir o que Mevlüt Cavusoglu tem a dizer. Talvez haja algo de novo que não tenha sido dito publicamente", afirmou Lavrov em uma coletiva de imprensa em Nicósia.
Esta reunião deve ser realizada à margem do Conselho de Ministros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), realizada em Belgrado nos dias 3 e 4 de dezembro.
Até agora, as autoridades russas haviam rejeitado qualquer contato com os turcos.
As autoridades russas exigem, sem sucesso, um pedido de desculpas oficial de Ancara. Mas Erdogan reiterou nesta quarta-feira que a Turquia não responderá as reações "emocionais" da Rússia.
Em retaliação à destruição de seu caça, Moscou adotou uma série de sanções econômicas, incluindo um embargo aos alimentos provenientes da Turquia, restrições no setor do turismo e a obrigação de visto para os turcos.
Neste contexto, o tenente-coronel Oleg Peshkov, o piloto do Su-24 abatido, foi sepultado nesta quarta-feira na presença de cerca de 10.000 pessoas em Lipetsk, no oeste da Rússia.
O militar de 45 anos foi morto quando descia de paraquedas após se ejetar do avião.
Seu navegador, capitão Konstantin Mourakhtine, foi resgatado depois de uma primeira tentativa fracassada em que um solado russo foi morto.
Estas foram as primeiras perdas do exército russo em solo sírio desde o início de sua intervenção em 30 de setembro.