Candidato republicano à Presidência, Mitt Romney, chega à comício de campanha em Miami, na Flórida (Jim Young/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de setembro de 2012 às 14h39.
Washington - As últimas semanas foram terríveis para o candidato republicano a presidente dos EUA, Mitt Romney.
Uma convenção partidária morna, uma resposta precipitada à crise no Oriente Médio, relatos de divergências internas na campanha e um vídeo gravado secretamente no qual Romney desqualifica quase metade do eleitorado deixaram sua equipe abatida e levaram muitos republicanos a temerem uma surra nas urnas em 6 de novembro.
E não é só isso.
O presidente Barack Obama, democrata, abriu uma ligeira vantagem sobre Romney nas pesquisa nacionais, e novos levantamentos indicam que Obama tem uma vantagem significativa onde mais importa: Ohio, Virgínia e Flórida, os mais cobiçados entre nove Estados considerados indefinidos, e que são cruciais para reunir os 270 votos necessários para a vitória no colégio eleitoral.
Então, a sete semanas da eleição, isso significa que está tudo acabado para Romney? Ainda não. Apesar das grafes em série e das muitas dúvidas sobre a sua campanha, o ex-governador de Massachusetts continua ao alcance do presidente.
Há três debates presidenciais em outubro, e Romney há várias semanas vem deixando de lado os compromisso de campanha a fim de se preparar para esses duelos, nos quais pretende provar ao eleitorado que está mais qualificado do que o rival para comandar uma recuperação econômica.
Obama continua vulnerável a esse discurso, porque o desemprego se mantém elevado, em 8,1 por cento, a economia não está decolando, e um grande número de eleitores considera que os EUA estão no caminho errado.
"Romney acaba de sair de um dos piores meses na política presidencial na memória recente, e ainda está por aí", disse o estrategista republicano Rich Galen. "Se eu fosse um dos caras do Obama em Chicago, estaria pensando: ‘O que é preciso para se livrar desse cara? Ele não vai embora.'" Romney, no entanto, também enfrenta enormes desafios.
As pesquisas mostram que a maioria dos norte-americanos sente que Obama se identifica mais com seus problemas do que Romney, um ex-executivo do setor financeiro, dono de uma fortuna estimada em até 250 milhões de dólares.
Humanizar Romney foi uma das maiores preocupações da convenção republicana, mas esse efeito parece ter sido efêmero. E o vídeo recém-divulgado parece ter contribuído com a imagem dele traçada pelos democratas, como um político elitista e alheio aos problemas das pessoas comuns.
Na gravação, feita em maio num evento privado com doadores ricos, Romney diz que 47 por cento dos eleitores votarão em Obama de qualquer maneira, porque se consideram vítimas do sistema, não pagam impostos federais e dependem excessivamente de ajudas governamentais.
Imagem mais branda
Para ter esperança numa virada, Romney precisa projetar uma imagem mais calorosa, segundo analistas.
Foi isso que ele pareceu tentar na noite de quarta-feira, na Flórida, quando abrandou o tom das críticas à reforma da saúde feita por Obama e à imigração ilegal. Tentando consertar a fala sobre os "47 por cento", ele disse à rede hispânica de TV Univision que "essa é uma campanha para os 100 por cento".
Ao mesmo tempo, sua campanha passou a atacar Obama como sendo um presidente comprometido com a redistribuição de riquezas - ideia que apavora eleitores conservadores.
"A questão para Romney é se ele pode fazer o que não tem conseguido fazer, que é reverter sua imagem pessoal e tornar as pessoas mais confortáveis com ele", disse Andrew Kohut, especialista em pesquisas do Pew Research Center.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos nesta semana mostrou que 40 por cento dos eleitores passaram a ver Romney de forma mais negativa por causa do vídeo. Outra pesquisa, do USA Today/Gallup, apontou que quase um terço dos eleitores independentes se tornou menos propenso a votar no republicano por causa do vídeo.
"A simpatia de Romney ainda não é enorme. As pessoas não o consideram confiável, não veem empatia nele", disse Kohut. "Ele precisa encontrar uma forma de superar todas essas coisas." Muitos republicanos têm recomendado a Romney para que seja mais duro com Obama e mais específico em suas propostas.
Em artigo publicado na quinta-feira pelo Wall Street Journal, o estrategista republicano Karl Rove escreveu que "Romney está tendo uma semana ruim, mas pode se recuperar - se disser aos eleitores mais claramente o que faria como presidente." Será importante também que ele não cometa mais gafes na reta final. "Acho que realmente ajudaria se ele parar de cometer erros", disse Galen.
Muita coisa estará em jogo no primeiro debate presidencial, marcado para o dia 3 em Denver. Seu tema será a economia, ditando o tom da narrativa para o último mês da campanha.
"Romney terá sua melhor chance de traçar um retrato vívido e convincente de um futuro econômico mais brilhante", disse Whit Ayres, especialista em pesquisas do Partido Republicano.
A média das pesquisas nacionais calculada pelo site Real Clear Politics coloca Obama com 3,1 pontos percentuais à frente de Romney na quinta-feira. Na pesquisa diária Rasmussen, Obama tem vantagem de apenas 2 pontos; na do Gallup, a situação é de empate absoluto.
Mas outras pesquisas da semana dão uma margem maior para o presidente, e em algumas ele supera a marca dos 50 por cento de intenções de voto.
Na pesquisa Reuters/Ipsos da quinta-feira, Obama tem 48 por cento, contra 43 de Romney. A vantagem é de cinco pontos também na pesquisa NBC/Wall Street Journal (50 x 45 por cento), e ainda maior na pesquisa Pew (51 x 43).
Obama lidera também em oito dos nove Estados estratégicos, com disputa ainda indefinida, e isso lhe dá mais opções para conseguir os 270 votos do colégio eleitoral (em quase todos os Estados, a totalidade dos convencionais é dada ao candidato vitorioso, independentemente do percentual de votos).
Nesse cenário, Obama poderia ser reeleito se perder em Ohio ou na Flórida - ou mesmo em ambos -, ao passo que uma derrota em qualquer um desses dois Estados seria quase fatal para Romney.
"A vantagem que Obama tem nesses Estados críticos está longe de ser insuperável. Ela está em um dígito", disse Lee Miringoff, diretor da pesquisa do Marist College. "Se o diálogo nacional mudar em dois ou três pontos, esses Estados estratégicos ficaram empatados rapidamente."