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Romênia realiza eleição após anulação de pleito anterior sob suspeita de interferência russa

Extrema direita entra fortalecida na disputa, que pesquisas de intenção de voto indicam estar aberta

Eleições na Romênia: Líder do partido nacionalista AUR, George Simion, aguarda ex-candidato de extrema impedido de concorrer, Calin Georgescu, depositar seu voto durante o primeiro turno da eleição presidencial  (Daniel Mihailescu/AFP)

Eleições na Romênia: Líder do partido nacionalista AUR, George Simion, aguarda ex-candidato de extrema impedido de concorrer, Calin Georgescu, depositar seu voto durante o primeiro turno da eleição presidencial (Daniel Mihailescu/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 4 de maio de 2025 às 08h45.

Última atualização em 4 de maio de 2025 às 08h46.

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Eleitores romenos voltaram às urnas neste domingo, para repetir o pleito presidencial anulado de novembro, que deixou o país em profunda turbulência política, com a expectativa de que um candidato de extrema-direita vença o primeiro turno.

O Tribunal Constitucional romeno cancelou a eleição do ano passado, vencida por Calin Georgescu, um crítico da Otan, que foi impedido de participar da nova disputa. O radical agora apoia o candidato George Simion, também de extrema direita, agora apontado como o favorito.

Georgescu foi excluído da nova votação, pois as autoridades notaram uma campanha massiva no TikTok e fizeram alegações de interferência russa, gerando protestos. Ele foi substituído por Simion, líder do partido nacionalista AUR, que é um dos 11 candidatos presidenciais que disputam o cargo, em grande parte cerimonial, mas influente na política externa.

Fã declarado de Donald Trump, Simion é frequentemente visto usando um boné com o slogan do presidente dos EUA "Make America Great Again" (Tornar a América Grande Novamente). Ele diz que espera se tornar o "presidente MAGA" da Romênia.

Em campanha com a promessa de colocar a Romênia em primeiro lugar, espera-se que o favorito de 38 anos conquiste pelo menos alguns dos votos de Georgescu.

— É hora de retomarmos o nosso país — disse Georgescu, que foi barrado, após votar ao lado de Simion em Mogosoaia, nos arredores de Bucareste.

— Estamos aqui com uma única missão: retornar à democracia... e trazer justiça à Romênia — disse Simion.

Um pequeno grupo reunido em frente à seção eleitoral gritou "Calin, nós te amamos" e "Georgescu para presidente".

Compromisso com a "dignidade"

As urnas abriram às 7h (01h00 em Brasília) e fecharão às 21h (15h), com a divulgação das pesquisas de boca de urna prevista para logo em seguida.

Simion tem feito campanha principalmente on-line, em parte na tentativa de atrair os influentes eleitores romenos no exterior. Ele se descreve como "mais moderado" que Georgescu, mas compartilha sua aversão ao que chama de "burocratas não eleitos de Bruxelas".

Simion acusa autoridades da UE de terem interferido nas eleições da Romênia e prometeu restaurar a "dignidade" de seu país dentro do bloco europeu.

Embora critique frequentemente a Rússia, ele se opõe ao envio de ajuda militar à Ucrânia e quer que a Romênia reduza o apoio a refugiados ucranianos.

Sua campanha foi bem recebida por Stela Ivan, de 67 anos. Após décadas dominadas pelos mesmos partidos políticos desde o fim do comunismo, ela disse esperar "de todo o coração" que um presidente de extrema direita trouxesse "mudanças" para a Romênia.

Silvia Tomescu, uma enfermeira de 52 anos, disse que espera uma "vida melhor, salários mais altos e um presidente" do qual possa se "orgulhar" e que "não ficará do lado da Rússia".

Sob análise

Há quatro candidatos principais disputando um provável segundo turno em 18 de maio, incluindo Simion.

Crin Antonescu, apoiado pela coalizão pró-europeia que governa a Romênia, fez campanha com a promessa de oferecer estabilidade. O prefeito de Bucareste, Nicusor Dan, prometeu combater a elite política "corrupta" e "arrogante".

E em quarto lugar nas pesquisas está o ex-primeiro-ministro social-democrata Victor Ponta, que aposta em uma campanha "Romênia Primeiro" ao estilo de Trump.

— A disputa ficou muito acirrada — disse Remus Stefureac, diretor da empresa de pesquisas INSCOP Research, à AFP. — Cada um dos quatro pode ganhar a Presidência.

O grande número de eleitores indecisos pode "mudar completamente" a classificação atual com base nas pesquisas, disse Stefureac.

Após a anulação da votação do ano passado — uma medida rara na UE — a repetição da votação será analisada de perto. Milhares de pessoas na Romênia protestaram nos últimos meses contra o cancelamento, denunciando o que chamaram de "golpe".

Até os Estados Unidos se manifestaram sobre a anulação, com o vice-presidente J.D. Vance condenando a decisão.

Para evitar a repetição da turbulência do ano passado, as autoridades intensificaram as medidas preventivas, bem como a cooperação com o TikTok, afirmando estarem comprometidas com eleições "justas e transparentes".

Antes das eleições de domingo, a extrema direita alegou "múltiplos sinais de fraude", enquanto o governo apontou várias campanhas de desinformação que considerou "novas tentativas de manipulação e interferência por parte de atores estatais".

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