Aos 58 anos, Rodrigo Paz se apresenta como um reformista moderado que busca um "capitalismo para todos" (AFP)
Repórter de ESG
Publicado em 19 de outubro de 2025 às 21h15.
Última atualização em 19 de outubro de 2025 às 21h47.
O senador Rodrigo Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), venceu o segundo turno das eleições presidenciais da Bolívia neste domingo, 19, com 54,5% dos votos contra os 45,4% do ex-presidente conservador Jorge "Tuto" Quiroga.
Cerca de 7,9 milhões de bolivianos foram às urnas, na primeira vez em duas décadas que um presidente de direita assume o cargo por meio de eleições populares e realizou um segundo turno. No primeiro turno, realizado em 17 de agosto, Paz registrou 32% dos votos, enquanto Quiroga obteve 26,7%.
O novo presidente assume em 8 de novembro diante de uma série de desafios como a inflação e escassez de combustíveis e terá que lidar com uma sociedade polarizada e um Congresso onde o MAS ainda mantém força significativa.
A eleição de Paz representa uma ruptura histórica na política boliviana. Desde 2006, o país foi governado pelo Movimento ao Socialismo (MAS), primeiro sob o comando de Evo Morales e, a partir de 2020, com Luis Arce.
A crise econômica que se aprofundou nos últimos anos, com a queda das exportações de gás natural e a escassez de produtos básicos, abriu espaço para a ascensão da oposição de direita e, consequentemente, a vitória de Quiroga.
Aos 58 anos, Rodrigo Paz se apresenta como um reformista moderado que busca um "capitalismo para todos". Nascido na Galícia, na Espanha, em 1967, durante o exílio de seu pai, o ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), viveu em dez países antes de chegar à Bolívia aos 15 anos.
Formado em Relações Internacionais, com mestrado em Gestão Pública pela American University, em Washington, Paz iniciou sua carreira política aos 32 anos como deputado por Tarija. Desde então, foi deputado, prefeito de Tarija e, atualmente, senador pelo departamento.
Filho de um dos principais líderes do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), partido que migrou da esquerda para a centro-direita, Paz passou por diferentes siglas até chegar ao PDC.
Paz chega à presidência com um enfoque pragmático e a promessa de recuperar a estabilidade fiscal da Bolívia. Entre os pilares de sua proposta está um plano de ajuste fiscal que prevê cortes de gastos públicos, mas com ressalvas.
"Não vamos prejudicar a saúde, a educação, a segurança nem os benefícios sociais", prometeu durante a campanha.
O presidente eleito garantiu que reduzirá impostos, dará acesso ao crédito e eliminará restrições às importações.
Além disso, pretende cortar subsídios aos combustíveis e descentralizar o orçamento. "O que me importa é que as pessoas possam comer e trabalhar, que o Estado não atrapalhe a vida de ninguém", afirmou à imprensa local, referindo-se ao que costuma chamar de "Estado travado".
Diferentemente de seu adversário Quiroga, Paz resiste a acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), mantendo um discurso moderado e estrategicamente afastado das ideologias mais radicais.
Apesar de se apresentar como outsider, Paz tem mais de duas décadas de carreira política. Curiosamente, no primeiro turno, não conseguiu se impor em Tarija, seu reduto político, terminando em terceiro lugar com apenas 19% dos votos; na capital do departamento, onde foi prefeito, alcançou apenas 15%.
Paz também foi acusado de suposta corrupção em obras públicas durante sua gestão como prefeito de Tarija, incluindo sobrepreços e contratos irregulares.
A escolha de Edman Lara como vice, um policial conhecido nos setores populares por denunciar corrupção no TikTok, foi estratégica para atrair o eleitorado jovem e popular, mas gerou controvérsias. "Lara foi fundamental no primeiro turno, mas pode ter se tornado um problema. Muitos eleitores estão receosos com Lara", afirmou Eduardo Gamarra, professor boliviano da Universidade Internacional da Flórida.
As eleições ocorreram em meio a uma grave crise econômica. A inflação alcança mais de 23% ao ano, com escassez de produtos básicos, principalmente combustíveis. Segundo diversas pesquisas, para 80% dos bolivianos a principal preocupação é a economia.
A Rede Observa, plataforma formada por 17 organizações da América Latina e do Caribe para acompanhamento eleitoral, confirmou que o dia de votação ocorreu sem grandes incidentes.
O ex-presidente Evo Morales, impedido pela justiça de concorrer, votou neste domingo e criticou o pleito nas redes sociais, classificando-o como uma "farsa eleitoral". Morales lançou uma campanha pelo voto nulo que alcançou 19% no primeiro turno.