Rio de lava do vulcão Nyiragongo na República Democrática do Congo nos portões de Goma (Justin KATIMWA /Albert KAMBALE/AFP)
AFP
Publicado em 23 de maio de 2021 às 19h16.
Última atualização em 24 de maio de 2021 às 22h06.
O rio de lava que descia do vulcão Nyiragongo, no leste da República Democrática do Congo (RDC), parou neste domingo a algumas centenas de metros do subúrbio de Goma, poupando a cidade, cujos habitantes começavam a voltar para casa, apesar do medo de uma nova erupção.
"A lava parou em Buhene, nas redondezas de Goma (...), a cidade se salvou", disse o general Constant Ndima. Segundo um novo balanço, 15 pessoas morreram, "nove delas em acidentes produzidos durante a fuga da população, e quatro na prisão central de Munzenze, de onde queriam fugir", informou na noite de hoje o porta-voz do governo.
"A maioria das milhares de pessoas que fugiram na noite de ontem voltava para casa ou estava prestes a fazê-lo", contou um morador da cidade. Em seu avanço, a lava atingiu várias casas, deixando ferros retorcidos e carbonizados.
O representante local da ONU Diego Zorrilla informou que quatro povoados foram "diretamente afetados e destruídos" pela lava, e que a organização irá apoiar o governo com ajuda humanitária.
A lava parou de avançar a algumas centenas de metros do aeroporto de Goma, de onde os aviões foram evacuados durante a noite, e onde todos os voos do dia foram cancelados, segundo uma fonte do local.
Em Goma, cerca de dez pequenos terremotos foram sentidos desde o amanhecer.
"Ainda há pequenos terremotos, no caminho de saída do rio de lava para Goma. Temos que permanecer muito atentos", afirmou um responsável do Observatório de Vulcanologia de Goma, Adalbert Muhindo. "Se esses terremotos provocam uma abertura, esta lava poderia avançar novamente para Goma", alertou.
Dezenas de milhares de pessoas fugiram para um posto fronteiriço com a Ruanda, ao sul de Goma, e ao sudoeste da cidade, para a região de Masisi.
Em Ruanda, a recepção de milhares de pessoas ocorreu de forma pacífica, canalizada e organizada pelas autoridades.
"Atualmente, os cidadãos da República Democrática do Congo que se refugiaram em Ruanda após a erupção do Nyiragongo estão voltando para o seu país", informou neste domingo a Agência de Radiodifusão de Ruanda (RBA).
Turistas que se escontravam perto da cratera no momento da erupção do vulcão Nyiragongo estão "sãos e salvos", informou neste domingo o Instituto Congolês para a Conservação da Natureza (ICCN), órgão de tutela do parque nacional de Virunga, onde se encontra o vulcão. "Os gorilas da montanha não estão ameaçados", acrescentou o órgão.
O parque de Virunga, a reserva natural mais antiga da África, inaugurado em 1925, é um santuário dos poucos gorilas de montanha que restam, também presentes em Ruand e na vizinha Uganda.
A grande erupção anterior do volcão Nyiragongo ocorreu em 17 de janeiro de 2002. Causou a morte de mais de 100 pessoas, cobrindo de lava quase toda a parte leste de Goma, incluindo metade da pista do aeroporto.
Neste domingo, as ruas de Goma recuperavam pouco a pouco sua animação habitual. "As pessoas começam a voltar para suas casas, a situção se acalmou", relatou um habitante. "Mas as pessoas se perguntam se o vulcão foi contido, ou se as erupções vão continuar", acrescentou.
Goma, a capital regional de Kivu do Norte, uma província conflituosa, vizinha de Uganda, onde abundam inúmeros grupos armados, tem quase 600.000 habitantes.
A cidade abriga um grande contingente de capacetes azuis e muitos membros da equipe da Monusco, a missão da ONU no país. Também é a base de muitas ONGs e organizações internacionais.
Em Roma, o Papa Francisco rezou "pela população da cidade de Goma, obrigada a fugir pela erupção do grande vulcão Nyiragongo", durante seu Angelus dominical.
A região de Goma é uma área de intensa atividade vulcânica, com seis vulcões, entre eles Nyiragongo e Nyamuragira, muito próximos um do outro e de 3.470 e 3.058 metros respectivamente.