Homem mascarado e armado das forças especiais ucranianas fica de guarda em frente ao prédio da administração regional de Kharkiv, Ucrânia (Olga Ivashchenko/Reuters)
Da Redação
Publicado em 9 de abril de 2014 às 18h20.
Moscou/Bruxelas - O governo russo afirmou ao Ocidente nesta quarta-feira que as conversações entre quatros partes, com representantes da Ucrânia, Rússia, Estados Unidos e União Europeia, devem se concentrar em promover o diálogo entre os ucranianos e não nas relações bilaterais entre os participantes.
O chanceler russo, Sergei Lavrov, passou esta mensagem em uma conversa telefônica com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, segundo o Ministério das Relações Exteriores da Rússia. A pasta afirmou que Lavrov e Kerry pediram a todos os lados que se abstenham de violência no leste e sul da Ucrânia.
Na terça-feira, a União Europeia informou que diplomatas da UE, Rússia, Ucrânia e Estados Unidos se reuniriam na próxima semana para discutir a crise, mas a Rússia disse querer saber mais sobre a agenda dessa reunião.
"Lavrov observou que esse formato pode ser útil se o objetivo não for a discussão de vários aspectos de uma ou outra relação bilateral, mas ajudar a organizar um diálogo interno entre os ucranianos, amplo e igual, com o objetivo de chegar a um acordo para uma reforma constitucional mutuamente aceitável", assinalou o ministério.
A Rússia, que deixou a Ucrânia e o Ocidente furiosos quando anexou a região ucraniana da Crimeia, no mês passado, não quer ser forçada a negociar com o governo interino em Kiev que derrubou o presidente Viktor Yanukovich, aliado dos russos, em uma ação que Moscou qualificou como golpe de Estado estimulado pelo Ocidente.
A Rússia acusa o governo interino ucraniano de ignorar os direitos e interesses da população de língua russa no leste e sul da Ucrânia e defende uma nova Constituição que conceda a essas regiões amplos poderes e mantenha a Ucrânia fora da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Lavrov disse a Kerry que "as autoridades de Kiev devem finalmente responder às demandas legítimas das regiões leste e sul do país", assinalou o ministério russo.
Mais tarde, o ministério afirmou que Kerry telefonou a Lavrov novamente para dizer que os EUA estavam pedindo ao governo ucraniano que abra um diálogo nacional para diminuir as tensões no leste e sul do país e promova uma reforma constitucional.
Na terça-feira, Kerry acusou agentes e forças especiais da Rússia de instigar a agitação separatista no leste da Ucrânia.
A crise na Ucrânia começou depois que Yanukovich cancelou os planos de assinar acordos comerciais e políticos com a UE, em novembro, e em vez disso procurou estreitar os laços com a Rússia, o que deu origem a manifestações de protesto que resultaram em várias mortes e na sua destituição do poder.
A Rússia anexou a Crimeia em março, depois de um referendo realizado após as forças russas terem tomado o controle dessa península do Mar Negro, o que provocou a maior crise Leste-Oeste desde o fim da Guerra Fria.
Nesta quarta-feira, a UE criou um grupo de apoio dedicado a aconselhar a Ucrânia sobre reformas políticas e econômicas e estabelecer uma coordenação com outros doadores e financiadores internacionais.
Apoio da UE
O grupo, com sede em Bruxelas, tem a intenção de canalizar a ajuda da UE e orientação à Ucrânia por meio de uma única entidade coordenadora, e reforçar o apoio da UE para o novo governo, que está tentando estabilizar a economia ucraniana enquanto a tensão com Moscou continua elevada.
Segundo a Otan, a Rússia concentrou dezenas de milhares de soldados perto de sua fronteira com a Ucrânia.
"É importante que haja esse suporte para as... reformas políticas e econômicas que a Ucrânia precisa fazer para se tornar um país sustentável, independente, moderno", disse o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, em um comunicado.
No mês passado, a UE disse que estava disposta a fornecer 15 bilhões de dólares em empréstimos e subsídios para a Ucrânia ao longo dos próximos anos. O Fundo Monetário Internacional anunciou o empréstimo de 14 bilhões a 18 bilhões de dólares para Kiev, em troca de duras reformas econômicas.