Mundo

Eleição trouxe 'calma econômica' para a Argentina, diz CEO da Flybondi

Mauricio Sana espera que reformas se acelerem após vitória governista e comenta alta do número de viagens aéreas na Argentina

Mauricio Sana, CEO da companhia aérea argentina Flybondi (Divulgação)

Mauricio Sana, CEO da companhia aérea argentina Flybondi (Divulgação)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 27 de outubro de 2025 às 18h43.

Última atualização em 27 de outubro de 2025 às 18h46.

Buenos Aires - O resultado da eleição legislativa da Argentina, vencida pelo partido do presidente Javier Milei, deverá dar início a um momento de cenário econômico mais positivo, avalia Marcelo Sana, CEO da companhia aérea Flybondi, uma das maiores do país, 

“Está chegando um período em que o ambiente econômico será positivo e que uma espécie de calma política continuará, o que se refletirá em uma espécie de calma econômica. Haverá um Congresso mais equilibrado, o que deve eliminar um pouco desse ruído e dos problemas de governança que o governo atual tinha”, diz Sana, em conversa com a EXAME, em sua sala, na sede da empresa, em Buenos Aires.

Sana, que é colombiano, comanda a primeira empresa aérea de baixo custo da Argentina, que também atua no Brasil. Na conversa, ele analisa também o crescimento das viagens aéreas pelos argentinos, mesmo durante anos de crise, e questiona a estagnação do mercado aéreo brasileiro, que andou de lado nos últimos anos. 

Como vê o cenário da economia da Argentina após o resultado das eleições deste domingo?

Há que lidar com situações que não eram necessariamente o que esperávamos há alguns dias. Hoje acordamos com uma queda do dólar. Estamos à beira de 1.400 (pesos por dólar), quando, na sexta-feira, fechamos em quase 1.600. Houve crescimento no preço dos títulos argentinos, de quase 30%. As principais empresas estão recuperando muito terreno que haviam perdido nas últimas semanas no mercado de ações. 

Acho que está chegando um período em que o ambiente econômico será positivo e que uma espécie de calma política continuará, o que se refletirá em uma espécie de calma econômica. Haverá um Congresso mais equilibrado, o que deve eliminar um pouco desse ruído e dos problemas de governança que o governo atual tinha.

Com isso, muitas leis, muitas regulamentações, muitos projetos provavelmente avançarão, e alguns outros se acelerarão. É o primeiro dia de um bom momento e espero que dure muito tempo. Mas é o primeiro dia; são as primeiras horas. Vamos esperar para ver o que acontece.

A que se deve a vitória do governo nas urnas, em sua avaliação?

Tem a ver com a forma como a Argentina está entendendo esses movimentos em direção ao futuro, como a Argentina está entendendo que a situação política afeta a situação econômica, e é daí que vem a mensagem. Os argentinos estão dizendo que querem paz daqui para frente e estão jogando esse jogo para garantir a paz e ver como os resultados em casa melhoram, na privacidade de suas famílias. 

Avião da Flybondi (Divulgação)

A Flybondi planeja colocar uma quantidade recorde de voos neste verão. Como a demanda por voos tem se comportado em um cenário econômico tão incerto na Argentina?

Temos observado um crescimento no mercado há vários anos, o que realmente atribuímos ou entendemos ao surgimento de um modelo que reduz as barreiras econômicas ao acesso ao transporte aéreo, certo? Em 2019, houve um número recorde de passageiros no mercado doméstico, com cerca de 12 milhões de passageiros. Em 2023, foram 16 milhões. Em 2023 e 24, tivemos 10 milhões de passageiros e este ano, estamos projetando cerca de 17 milhões no mercado doméstico e cerca de 13 ou 14 milhões no mercado internacional. O mercado doméstico está crescendo 10%, 12% em relação ao ano passado, e o mercado internacional está acima de 12%, então não há razão para pensar que não fecharemos com esses números, faltando apenas alguns meses para o final do ano.

Há um mercado em crescimento, uma demanda bastante forte que se manteve crescente nos últimos meses, e o que estamos fazendo é gerar oferta adicional durante o período de maior crescimento, o pico do verão, que é basicamente o período de crescimento real do mercado. Vamos operar cerca de 15.000 voos entre dezembro e março, o que representa cerca de 2,7 milhões de passageiros no mercado. Quando comparamos, é basicamente o que movimentamos em um semestre inteiro.

Por que as pessoas querem viajar mais para a Argentina? É pela taxa de câmbio, por que o peso está mais forte? 

É difícil relacionar isso à situação econômica ou à taxa de câmbio. Houve crescimento em cenários totalmente diferentes? Em 2019, o mercado cresceu, em 2023, o mercado cresceu, em um ano que foi economicamente difícil na Argentina, e o mercado aéreo cresceu. Em 2024, houve uma mudança radical na política econômica e cambial.

A mudança tem mais a ver com as condições do país. Este é um país muito grande, com muita atividade turística, muito crescimento, muitos centros de crescimento industrial. No fim das contas, os argentinos precisam de mobilidade, e nós somos uma opção de mobilidade que não existia antes [os voos de baixo custo].

Os últimos relatórios da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo) mostram que, nos últimos 10 anos, a Argentina cresceu cerca de 25% a 26% em viagens per capita. Passou de 0,45% para 0,6%. Nos últimos 10 anos, foi criada mais capacidade no mercado, pelo modelo de baixo custo, que reduziu barreiras de entrada para passageiros que antes não voavam: 20% dos passageiros que atendemos até agora nunca tinham voado antes.

Quais são as perspectivas da empresa para o mercado brasileiro?

O Brasil é um mercado muito importante para os argentinos. Temos identificado onde estão esses potenciais de crescimento. Estamos abrindo uma rota de Córdoba para o Rio de Janeiro. Neste verão, teremos operações para Maceió, que não operávamos antes. Há um grande mercado em ambas as direções, com brasileiros chegando e argentinos indo para o Brasil. Então, vamos continuar fortalecendo nosso produto, onde encontrarmos demanda.

As empresas aéreas do Brasil têm tido muitos problemas, com Azul, Gol e Latam passando por processos de recuperação. Isso abriria espaço para a Flybondi ampliar sua presença no país?

Em princípio, não estamos olhando para como a Gol ou a Azul estão se saindo. Mas o que vemos? Nos últimos 10 anos, as viagens per capita na Argentina cresceram 28%. No mercado boliviano, as viagens per capita cresceram 10% nos últimos 10 anos. Obviamente, o Chile teve um tipo diferente de crescimento e está em torno de 50%. No Brasil, cresceu 0%. 

O país continua com taxa de viagens per capita abaixo de 0,5. Estão em torno de 0,48. Isso significa que para cada 100 brasileiros, apenas 48 viagens são feitas por ano. Em uma população de 200 milhões de habitantes. Claramente, há uma oportunidade aí para qualquer companhia aérea, porque parece que há um mercado subabastecido, uma condição semelhante à que tínhamos na Argentina. Agora, alguém diz ‘é estranho’ porque há três empresas muito grandes, muito sólidas, que estão aqui há 10 anos, mas as viagens per capita não cresceram.

Há chance de retomar os planos de entrada no mercado doméstico do Brasil?

Nós já analisamos, trabalhamos nisso no passado e continuamos torcendo por condições mais positivas para a entrada de um novo player no mercado. O que vimos na época foram muitas barreiras do ponto de vista legal e legislativo que fizeram o negócio parar. Os índices de litígio no Brasil são extremamente altos para situações comuns a uma companhia aérea. O business case para nós, era muito arriscado. 

Acompanhe tudo sobre:ArgentinaJavier MileiFlybondi

Mais de Mundo

Venezuela denuncia suposto plano da CIA que atacaria Maduro

Tática 'Milei ou nada' deu certo, mas duração da lua-de-mel é dúvida

Com 92 anos, presidente mais velho do mundo é reeleito em Camarões

Milei adia reestruturação de governo após vitória nas eleições