Presidente chinês Xi Jinping. (AFP/AFP)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 10 de novembro de 2021 às 06h00.
Os principais líderes do Partido Comunista da China estão reunidos desde a última segunda-feira, 8, em um encontro que deve consolidar ainda mais o poder do presidente Xi Jinping. Quase 400 membros participam, na sexta-feira, 11, (ainda quinta-feira no Brasil) da sessão plenária do XIX Comitê Central do partido. A reunião acontece a portas fechadas, como todos os encontros da cúpula do regime chinês.
A agência estatal de notícias Xinhua afirmou que Xi abriu a reunião, no começo da semana, com um relatório de trabalho e "apresentou explicações sobre um projeto de resolução que envolve as principais conquistas alcançadas e a experiência histórica acumulada de 100 anos de esforços do Partido".
A resolução do Comitê Central seria a terceira do tipo na história do Partido Comunista da China. A primeira, aprovada sob o governo de Mao em 1945, ajudou a estabelecer sua autoridade sobre o partido quatro anos antes da tomada de poder na China. Com a segunda, sob Deng Xiaoping em 1981, o regime adotou reformas econômicas e reconheceu os "erros" da era Mao.
A resolução marcará o tom do 20º congresso partidário do próximo ano, no qual se espera que Xi declare que terá um terceiro mandato no poder, cimentando sua posição como o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-Tung.
Chris Johnson, do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais, afirmou ao podcast "Sinocism" que a nova resolução pode representar uma oportunidade para que Xi "limpe (...) algumas partes da história que não o agradam, inclusive os excessos de reformas econômicas do fim dos anos 1990.
Xi lançou recentemente uma campanha de "prosperidade comum" para enfrentar a desigualdade de renda e endurecer o controle sobre as grandes empresas do país.
Com a nova resolução, Xi poderia "de fato fazer com Deng o que Deng fez com Mao, ao criticar os excessos das reformas e políticas de abertura de Deng Xiaoping", acrescentou Johnson.
Ainda faltaria um ano para Xi conseguir o terceiro mandato no congresso, que acontece a cada cinco anos. Xi Jinping eliminou os limites para os mandatos de governo com uma reforma constitucional em 2018, e não designou um sucessor, o que sugere que pretende governar pelo menos até 2027.
"Xi Jinping já começou a reescrever a história do partido em livros didáticos, universidades e na imprensa... reduzindo fortemente seus erros como o Grande Salto Adiante e a Revolução Cultural, e glorificando sua ação como secretário-geral do partido", disse Alice Ekman, do Instituto da União Europeia para Estudos de Segurança.
A nova resolução é "claramente parte dos esforços de Xi Jinping para prolongar sua presença como líder do partido", completou.
A economia pós-pandemia e a questão de Taiwan - uma ilha de governo democrático que a China reivindica como própria - também podem figurar na agenda da reunião.
A imprensa estatal exaltou a liderança de Xi antes da reunião. A Xinhua publicou que é um homem de pensamentos e sentimentos profundos, um homem que herdou um legado, mas que ousa inovar, e um homem visionário comprometido com o trabalho incansável".
O governo de Xi é marcado por ações de luta contra a corrupção, políticas repressivas em Xinjiang, Tibete e Hong Kong, assim como uma abordagem cada vez mais assertiva nas relações internacionais.
Também criou um culto à personalidade que impede críticas e elimina seu rivais, além de ter apresentado a própria teoria política, conhecida como 'O Pensamento de Xi Jinping', a estudantes.