Rapaz usa cachimbo no Uruguai: "ou ele tem dois discursos, um para o Uruguai e outro para os que são fortes?", disse Mujica sobre representante da ONU (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de maio de 2014 às 09h15.
Montevidéu - O presidente do Uruguai, José Mujica, pediu nesta sexta-feira ao presidente da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife) da ONU, Raymond Yans, que "não minta" quando disser que as autoridades do país não quiserem recebê-lo e o acusou de ter um discurso duplo sobre a maconha.
"Diga a esse velho que não minta: comigo qualquer um se reúne na rua. Que venha ao Uruguai e se reúna comigo quando quiser. Que não fale para a tribuna", afirmou ao ser questionado por um repórter do "Channel 4", em declarações reproduzidas nesta sexta-feira.
Mujica acrescentou que Yans, "porque está em um posto internacional, acredita que pode dizer qualquer mentira e pediu ao representante da ONU que seja claro com "o que passa em um monte de Estados norte-americanos, onde cada um deles, só com a capital, superam a população do Uruguai".
"Ou ele tem dois discursos, um para o Uruguai e outro para os que são fortes?", questionou o líder, em alusão à diferente reação da Jife perante a legalização da maconha na nação sul-americana, de 3,3 milhões de habitantes, e a aprovação de leis similares em vários estados dos Estados Unidos.
Em entrevista exclusiva à Agência Efe em Viena na quinta-feira, Yans se mostrou muito crítico com a lei uruguaia e ressaltou que não respeitar os convênios internacionais dos quais faz parte é próprio de "piratas".
A aplicação da lei viola a Convenção sobre drogas de 1961, da qual fazem parte 186 Estados, incluindo o Uruguai, afirmou Yans, que lamentou a suposta falta de diálogo com as autoridades de Montevidéu.
Yans se queixou que o representante uruguaio em reunião da Jife em novembro nem sequer participou para explicar a situação e assegurou que as autoridades do Uruguai não o permitiram viajar para manter um encontro direto com Mujica.
O Senado uruguaio ratificou na quarta-feira um projeto de lei aprovado em julho pela Câmara dos Deputados que regulariza a produção e venda de maconha no país, onde seu consumo já era legal há quatro décadas, e o país tem agora 120 dias para redigir um regulamento com o qual aplicá-lo.
A nova norma, que ainda não foi promulgada por Mujica, dispõe a criação de um ente estatal regulador encarregado de outorgar licenças aos consumidores e controlar a produção e distribuição da droga, que será feita em clubes e farmácias.
Mujica falou da iniciativa pela primeira vez em junho de 2012 como uma nova forma de combate ao narcotráfico, após denunciar que a via da resposta violenta e repressiva contra as organizações criminosas fracassou.