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Repórter preso insiste que polícia de Mianmar plantou documentos secretos

O repórter que começou a ser interrogado na semana passada, disse que seguiu a ética jornalística em sua reportagem sobre um massacre de muçulmanos rohingya

Wa Lone insistiu em dizer que não violou a lei de imprensa de Mianmar (Ann Wang/Reuters)

Wa Lone insistiu em dizer que não violou a lei de imprensa de Mianmar (Ann Wang/Reuters)

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Reuters

Publicado em 23 de julho de 2018 às 12h20.

Yangon - Um repórter da Reuters preso disse a uma corte de Mianmar nesta segunda-feira que os documentos que o levaram a ser acusado de violar leis de segredo de Estado para obter foram plantados por um policial, que lhe entregou papéis que ele não pediu para poder incriminá-lo. Depois disso o policial mentiu à corte sobre o que aconteceu, afirmou.

Wa Lone, de 32 anos, que começou a prestar depoimento na semana passada em um tribunal do norte de Yangon, também disse ao ser interrogado por procuradores que seguiu a ética jornalística em sua reportagem sobre um massacre de muçulmanos rohingya no ano passado.

Wa Lone e seu colega da Reuters Kyaw Soe Oo, de 28 anos, se declararam inocentes das acusações ligadas à Lei de Segredos Oficiais da era colonial, que implica em uma pena máxima de 14 anos de prisão, em um caso visto como um teste da liberdade de imprensa em Mianmar.

Na inquirição de horas a que foi submetido, e que continuou nesta segunda-feira, Wa Lone disse várias vezes que os dois repórteres foram incriminados pela polícia, que lhes entregou documentos "sem que os pedissem" minutos antes de serem presos no dia 12 de dezembro.

O procurador principal, Kyaw Min Aung, questionou Wa Lone sobre os documentos, perguntando se o repórter acreditava que seu conteúdo poderia ser prejudicial ao Estado se entregue a insurgentes e por que ele foi preso com os papéis.

Wa Lone respondeu que não analisou os documentos adequadamente antes de ser preso e que por isso não poderia comentar seu conteúdo.

Ele insistiu em dizer que não violou a lei de imprensa de Mianmar.

"Os documentos encontrados em minhas mãos foram entregues pelo policial Naing Lin para nos incriminar e nos prender", disse Wa Lone à corte.

Naing Lin depôs durante as audiências pré-julgamento afirmando que se encontrou com os repórteres em um restaurante no dia 12 de dezembro, mas que não lhes entregou nada. Wa Lone disse ao tribunal nesta segunda-feira que Naing Lin prestou um depoimento falso.

Kyaw Min Aung não quis falar ao final dos procedimentos do dia.

O porta-voz do governo de Mianmar, Zaw Htay, não quis responder perguntas após os procedimentos, dizendo que as cortes do país são independentes e que o caso será conduzido de acordo com a lei. Ele tampouco respondeu a telefonemas pedindo comentários nesta segunda-feira.

Kyaw Soe Oo começou a depor na tarde local desta segunda-feira, mas pouco depois o juiz Ye Lwin encerrou a sessão. O julgamento continua na terça-feira.

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