Panama Papers: os dois repórteres alemães que divulgaram os escândalos não esperavam que as reações viriam do mundo todo (Christof Stache / AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2016 às 14h16.
Os dois jovens repórteres do jornal alemão "Süddeutsche Zeitung", os primeiros a receber os "Panama Papers", estão surpresos com a repercussão das revelações e antecipam que outras, igualmente espetaculares, estão a caminho.
"Nunca imaginei que teria tantas reações, que os canais de televisão falariam tanto sobre isto e que teríamos pedidos de todos os meios de comunicação do mundo", explica Bastian Obermayer, de 38 anos, em entrevista à AFP na sede do jornal em Munique.
O Süddeutsche Zeitung, segundo jornal da Alemanha em vendas, recebeu mais de 11 milhões de documentos procedentes do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, entregues por um informante anônimo.
O jornal liberal de esquerda as informações com outros meios de comunicação. Desde domingo passado, as revelações dos "Panama Papers" - sobre evasão fiscal ou uso de paraísos fiscais - já provocaram a queda do primeiro-ministro islandês, a renúncia de um dirigente da Uefa e deixaram o primeiro-ministro britânico David Cameron e o presidente argentino Mauricio Macri em posição delicada.
"Ainda estamos na metade das revelações", completa o colega Frederik Obermaier, de 32 anos.
"Nos próximos dias, serão mais temas, que afetam muitos países, e que vão a estar na primeira página", garante.
Nos muitos documentos "vemos os delitos mais diferentes, vemos como os cartéis lavam dinheiro, como os traficantes de armas estão envolvidos, como as sanções (econômicas) são esquivadas (como no caso da Síria, NR), vemos fraude fiscal", resume Bastian Obermayer.
"Se os dirigentes políticos querem realmente acabar com tudo isto, têm que agir agora. Precisamos de um martelo para destruir o sistema de empresas offshore", completa.
Mistério sobre a fonte
Ao falar sobre a identidade da fonte que está na origem do furo de reportagem, o jornalista afirma que não sabe o nome da pessoa que repassou os dados "há mais de um ano".
"Não sei se é um homem ou mulher, ou um grupo. Não conheço a identidade desta pessoa", afirma.
Para proteger a fonte, o repórter não revela se permanece em contato com a pessoa, nem como reagiu após as primeiras revelações.
"Mas suas motivações são claras e morais", destaca.
"A fonte deseja que estes crimes se tornem públicos. Nossa fonte viu muitos destes dados e pensou que era necessário publicá-los".
A fonte quer que a Mossack Fonseca cesse suas atividades", explica Bastian Obermayer.
Ele recebeu o primeiro e-mail da fonte anônima, que apresentava uma proposta de informações, sem entrar em detalhes.
"Não podemos especular sobre as razões pela qual fomos contactados e não outro jornal".
Após um ceticismo inicial, ele percebeu, ao lado de Frederik Obermaier, que os primeiros documentos recebidos eram autênticos. Mais tarde, eles decidiram compartilhar as informações com jornalistas de todo o mundo.
"O futuro do jornalismo está na cooperação internacional. Sempres somos mais fortes quando estamos juntos", afirma.
O Süddeutsche Zeitung, fundado em Munique em 1945, é um dos dois grandes jornais de referência do país, ao lado do Frankfurter Allgemeine Zeitung.
É o segundo em vendas da Alemanha, atrás do Bild, com 368.000 exemplares diários.