Mundo

Renúncia de Bento XVI desmistificou figura do papa

Em entrevista publicada hoje pelo jornal mexicano "Reforma", Leonardo Boff disse que a renúncia foi "um gesto de desespero pessoal" de Bento XVI


	Bento XVI: entre os problemas que perturbaram o papa alemão, Boff mencionou os impedimentos para permitir que os sacerdotes pedófilos fossem entregues à justiça civil.
 (Alberto Pizzoli/AFP)

Bento XVI: entre os problemas que perturbaram o papa alemão, Boff mencionou os impedimentos para permitir que os sacerdotes pedófilos fossem entregues à justiça civil. (Alberto Pizzoli/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de março de 2013 às 09h24.

México .- O teólogo Leonardo Boff afirmou nesta terça-feira que a renúncia de Bento XVI é "o grande legado" de seu pontificado por seu caráter inédito e por ter "desmistificado a figura do papa".

Em entrevista publicada hoje pelo jornal mexicano "Reforma", Boff disse que a renúncia foi "um gesto de desespero pessoal" de Bento XVI "em conjunto com suas limitações físicas e psicológicas" diante dos problemas enfrentados pela Igreja Católica.

Entre os problemas que perturbaram o papa alemão, mencionou os impedimentos para permitir que os sacerdotes pedófilos fossem entregues à justiça civil, o vazamento de informações e documentos do "Vatileaks" e os escândalos do Banco do Vaticano.

No final, disse, Bento XVI "recebeu um balanço altamente negativo da situação da cúria, pois tinha sido instalado, praticamente, um governo paralelo da Igreja" e "o seu mundo veio abaixo".

"O papa se deu conta de que já não conseguia dirigir a Igreja. Outro deveria vir para regular a situação. Renunciou com elegância, sem denunciar ninguém e fazendo menção somente as suas limitações de saúde. Mas foi uma advertência fortíssima à cúria vaticana, que deve agora esperar profundas reformas", apontou.

Para o teólogo, Bento XVI "é um intelectual refinado e um professor, não tem carisma e é extremamente tímido. Se sentiu o sucessor de Pedro, mas não soube dirigir o governo da Igreja".

"Eu, que o conheci, sempre imaginei o quanto sofria quando tinha que enfrentar as multidões de fiéis. Sua grande preocupação era a secularização da Europa e o relativismo da modernidade", comentou.


"Para nós (os latino-americanos), que estamos na periferia do mundo e no meio dos pobres, optar pela Europa significa, politicamente, optar pelos ricos", destacou.

Boff considerou que Bento XVI entrará para a história como "uma pessoa que enquanto era presidente do ex-Santo Ofício condenou mais de 100 teólogos, dos melhores, especialmente da Teologia da Libertação", uma corrente de pensamento que "nunca entendeu".

Boff reprovou o fato de Bento XVI aceitar "a versão dos críticos" da Teologia da Libertação, "os militares e as elites opulentas (latino-americanas) que acusavam qualquer tentativa de mudança da realidade social, como livrar os miseráveis de sua pobreza, como coisa de comunistas".

Nascido em Concordia (1938), Boff é um dos mais destacados representantes da Teologia da Libertação e terminou abandonando a Igreja por suas divergências com o Vaticano.

Hoje considera a Igreja Católica "demasiada ocidental, patriarcal, machista e antifeminista", e afirmou que a instituição necessita "dialogar com o mundo" urgentemente.

O ex-frade franciscano chegou a ser castigado com o silêncio pela Congregação da Doutrina da Fé do Vaticano quando esta era comandada pelo então bispo Joseph Ratzinger, atual pontífice e que encerrará seu papado na próxima quinta-feira. 

Acompanhe tudo sobre:Bento XVIPaíses ricosPapasReligiãoVaticano

Mais de Mundo

Há chance real de guerra da Ucrânia acabar em 2025, diz líder da Conferência de Segurança de Munique

Trump escolhe bilionário Scott Bessent para secretário do Tesouro

Partiu, Europa: qual é o país mais barato para visitar no continente

Sem escala 6x1: os países onde as pessoas trabalham apenas 4 dias por semana