Partidários do Talibã seguram retrato de Bin Laden: após dez anos de caçada, CIA localizou o fundador da Al Qaeda morando em um sobrado a poucos metros de uma importante academia militar (Banaras Khan/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2013 às 23h08.
Islamabad - Osama bin Laden conseguiu viver à vista de todos por quase uma década -- tendo sido inclusive parado uma vez por excesso de velocidade --, por causa da incompetência dos serviços paquistaneses de inteligência e segurança, disse um relatório oficial do Paquistão sobre a morte do líder militante islâmico.
Após dez anos de caçada, a CIA localizou em 2011 o fundador da Al Qaeda morando em um sobrado a poucos metros de uma importante academia militar em Abbottabad, nos arredores de Islamabad.
Em missão secreta na calada da noite, uma força especial da Marinha dos Estados Unidos invadiu o local e matou Bin Laden, num episódio que humilhou os militares paquistaneses e abalou fortemente os laços entre os dois países.
O relatório oferece detalhes fascinantes sobre a vida do homem mais procurado do mundo, que, segundo aponta o documento, usava um chapéu de cowboy para evitar ser visto de cima.
Escrito por uma comissão liderada por um juiz, o relatório é baseado em entrevistas com 201 fontes, incluindo membros de sua família e vários funcionários.
Em um depoimento mostrando o quão perto Bin Laden esteve de ser capturado, "Maryam", a esposa de um de seus assessores mais confiáveis, contou que seu carro foi parado pela polícia paquistanesa na região de Swat.
"Uma vez, quando estavam todos ... em uma visita ao bazar eles foram parados por excesso de velocidade por um policial", diz o relatório. "Mas o marido dela (Maryam) rapidamente resolveu a questão com o policial e seguiu adiante."
Para evitar ser identificado do alto, Bin Laden passou a usar um chapéu de cowboy quando se deslocava sobre seu complexo na cidade de Abbottabad, disseram suas esposas aos investigadores.
O aguardado relatório de 336 páginas, obtido e divulgado na segunda-feira pela TV Al Jazeera, do Catar, aponta sinais de incompetência em praticamente todos os níveis do vasto aparato de segurança paquistanês, e também critica a liderança nacional por não ter conseguido detectar as atividades da CIA em seu território antes da ação.
Já os EUA são criticados pela maneira ilegal como a operação foi conduzida. "Os EUA agiram como bandidos", disse a chamada Comissão de Abbottabad, instituída um mês depois da morte de Bin Laden.
"Mas, acima de tudo, a tragédia se refere ao abrangente fracasso do Paquistão em detectar a presença de Osama bin Laden em seu território durante quase uma década, ou de discernir a direção da política dos EUA para o Paquistão, que culminou na inevitável humilhação do povo do Paquistão."
O relatório, cheio de termos duros, não descarta explicitamente o possível envolvimento de elementos infiltrados no próprio serviço paquistanês de inteligência, uma questão delicada de ser abordada mesmo em um documento desse nível.
"Quanto a (não ter detectado) a rede da CIA, houve negligência culpável e incompetência. Quanto à conivência, isso não foi estabelecido em nenhum nível", diz o texto.
"Embora a possibilidade de algum grau de conivência dentro ou fora do governo não possa ser inteiramente descartada, nenhum indivíduo pode ser identificado como culpado de conivência." O governo e as autoridades de segurança do Paquistão não se pronunciaram sobre o relatório na segunda-feira.