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Relação entre Rússia e Otan ganha ares de Guerra Fria

Crise ucraniana levou a Rússia e a Otan a desenterrarem os velhos métodos de propaganda e manipulação esquecidos desde o fim da Guerra Fria


	Parede da Otan: "Otan e Moscou lembraram que já foram os maiores inimigos do mundo", resume um oficial
 (©AFP / Jean-Christophe Verhaegen)

Parede da Otan: "Otan e Moscou lembraram que já foram os maiores inimigos do mundo", resume um oficial (©AFP / Jean-Christophe Verhaegen)

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Da Redação

Publicado em 11 de abril de 2014 às 14h02.

Bruxelas - A crise ucraniana levou a Rússia e a Otan a desenterrarem os velhos métodos de propaganda e manipulação esquecidos desde o fim da Guerra Fria.

"A Otan e Moscou lembraram que já foram os maiores inimigos do mundo", resume um oficial baseado em Bruxelas, onde a Aliança Atlântica tem sua sede.

"Os militares mais antigos voltam a recorrer aos reflexos que haviam abandonado há vários anos", indica este militar que pediu o anonimato.

Nos escritórios da Otan, os mapas da Ucrânia já têm seu lugar nas paredes junto aos do Afeganistão, país que concentrava até pouco tempo toda a atenção. "Os especialistas da Rússia voltam a ser muito ouvidos", ressalta um diplomata.

Nos últimos dias o tom voltou a subir entre Moscou e a Otan, que se acusam mutuamente de ressuscitar o espírito da Guerra Fria.

"Ninguém quer uma nova Guerra Fria. A Rússia deve deixar de querer voltar atrás", exigiu na quinta-feira o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen.

É a Aliança que "cultiva a retórica da Guerra Fria", denunciou em resposta a diplomacia russa.

Moscou recebeu mal a decisão de março dos 28 países-membros da Otan de suspender "a cooperação prática" bilateral em reação à anexação da Crimeia, com a exceção dos programas de luta contra o terrorismo e o narcotráfico.

Esta decisão se traduziu nesta semana por uma limitação ao acesso à sede da Otan da delegação russa credenciada ali. Agora apenas quatro pessoas, entre elas o embaixador, podem entrar.

"A introdução destas restrições mostra mais uma vez que a Otan não consegue fugir da mentalidade da época da Guerra Fria, prefere a linguagem das sanções ao diálogo", reagiu o ministério russo das Relações Exteriores.

Na quinta-feira, ambas as partes travaram um novo confronto através da imprensa. A Otan publicou fotos de satélites de tanques e helicópteros, assegurando que se tratavam das tropas russas mobilizadas perto das fronteiras com a Ucrânia.


A Aliança buscou a maior repercussão possível a esta difusão de imagens feitas, segundo ela, no fim de março e início de abril, recorrendo ao Twitter e convidando a imprensa a Mons, sede do comando supremo das forças aliadas na Europa (SHAPE).

A Rússia reagiu sem demora afirmando que as fotos foram tiradas durante os exercícios militares realizados no verão de 2013.

Mas a Otan respondeu no mesmo dia publicando novas fotos para "demonstrar claramente que as afirmações das autoridades russas são totalmente falsas".

É impossível verificar tanto uma versão quanto a outra.

Estas disputas são observadas com prudência pelos especialistas. No entanto, eles afirmam que, apesar das tensões com a Ucrânia, a perspectiva de um confronto armado é atualmente mais que improvável.

"As alusões à Guerra Fria são uma heresia tanto em nível político quanto militar", afirmou Philippe Migault, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS).

"A Rússia de Vladimir Putin não tem as ambições globais que a União Soviética tinha" e "não ameaça diretamente nenhum país da Otan", explicou. Além disso, "o equilíbrio entre os dois blocos já não existe", já que o orçamento militar dos países da Otan é duas vezes superior ao da Rússia.

A crise ucraniana é considerada a mais grave nas relações Otan-Rússia desde o desmembramento da União Soviética. Mas não é a primeira, já que os pontos de discórdia foram muitos: a ampliação da Otan a Leste (países bálticos, Polônia, Romênia...), a crise do Kosovo ou o escudo antimísseis que Moscou encara como uma ameaça.

Apesar disso, as duas partes conseguiram lançar uma série de programas de cooperação, como no Afeganistão ou na luta contra a pirataria marítima.

"Não nos equivoquemos: as relações Otan-Rússia sempre foram caóticas e não há razão para que isso mude", afirma um diplomata sediado em Bruxelas.

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