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Relação de São Paulo com as águas é tema de livro

Pesquisa realizada na USP mostra que o problema da escassez de água para abastecimento e das inundações tem raízes históricas semelhantes

“Os rios ficaram assoreados demais para o transporte. Não dá para pescar e não servem para o lazer ou recreação", disse o autor (Wikimedia Commons)

“Os rios ficaram assoreados demais para o transporte. Não dá para pescar e não servem para o lazer ou recreação", disse o autor (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 1 de junho de 2012 às 09h41.

São Paulo - Dois problemas aparentemente opostos que afetam a Região Metropolitana de São Paulo – a escassez de água e as inundações – possuem raízes históricas semelhantes: políticas públicas equivocadas, guiadas muitas vezes por interesses particulares, e um processo de apropriação excludente dos recursos hídricos e áreas de várzea da capital.

A análise foi feita pela geógrafa Vanderli Custódio, professora do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), em livro recém-lançado pela Editora Humanitas.

A obra, publicada com auxílio da Fapesp, reúne textos produzidos durante o mestrado e o doutorado de Custódio – ambos realizados no Departamento de Geografia da USP.

Os três primeiros capítulos foram acrescentados para delinear o processo de urbanização que deu origem tanto ao problema de falta d’água quanto às enchentes.

“Houve uma apropriação perversa e excludente dos recursos hídricos da bacia do alto Tietê, que vai da nascente do rio em Salesópolis até a barragem de Pirapora do Bom Jesus. Priorizou-se a geração de energia, como se não houvesse uma metrópole que dependesse dessas águas para o abastecimento”, afirmou a pesquisadora.

Custódio se refere à concessão dada pelo governo paulista à empresa The São Paulo Tramway, Light and Power Company (conhecida como Light) no início do século 20, para explorar durante 90 anos os recursos hídricos da região para a geração de energia.


A medida ajudou a ampliar o parque industrial e a transformar São Paulo na “locomotiva do Brasil”, mas, como o crescimento não veio acompanhado de uma preocupação ambiental, a poluição gerada pelas indústrias e pelo adensamento populacional inutilizou as águas para qualquer outro fim.

“Os rios ficaram assoreados demais para o transporte. Não dá para pescar e não servem para o lazer ou recreação. Viraram canais de escoamento de esgoto, basicamente. Mas essa água poluída gerava energia, desenvolvimento e progresso”, disse Custódio.

Os efeitos dessa política começaram a ser notados no fim dos anos 1980, quando a Região Metropolitana teve de enfrentar os primeiros rodízios no abastecimento. A situação se agravou na década seguinte e hoje vive um equilíbrio frágil.

“A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), com todos os seus sistemas trabalhando na capacidade máxima, consegue produzir aproximadamente 67 metros cúbicos de água por segundo. A vazão do Tietê quando atravessa a Região Metropolitana é de 82 metros cúbicos por segundo. Daria para abastecer a todos e sobraria água”, disse Custódio.

No caso das inundações, questão ainda mais delicada e difícil de solucionar segundo Custódio, a Light também teve papel decisivo. A empresa foi a responsável pela retificação dos rios Tietê e Pinheiros e também pela inversão do curso deste último.

“Os rios ficaram estreitos e subdimensionados. A Light se apropriou das áreas de várzea, que se valorizaram, e as vendeu para o mercado imobiliário”, disse Custódio.


O projeto de construção das avenidas marginais foi outro grande equívoco da administração pública. “Priorizou-se o modelo rodoviarista. Para abrir espaço para as avenidas, o espaço dos rios foi reduzido. O solo foi impermeabilizado”, disse.

Custódio também cita como causa importante das cheias a forma inadequada como tem sido feita a terraplenagem durante os processos de construção de rodovias e abertura de loteamentos habitacionais.

“Você tem uma elevação ao sul, que é a serra do Mar. Ao norte temos a serra da Cantareira. Quando há movimentação de terra sem o devido cuidado, os resíduos vão para o fundo da bacia, ou seja, o rio Tietê. É mais caro fazer do jeito correto, então as pessoas deixam isso em segundo plano”, explicou.

Esses problemas, somados à falta de manutenção adequada das galerias pluviais e à tendência de aumento das chuvas fortes durante o verão, fazem a pesquisadora acreditar que a capital ainda sofrerá com as enchentes por muitos anos. “Sou pessimista. Não vejo solução definitiva ou de curto prazo”, disse.

Escassez de Água e Inundações na Região Metropolitana de São Paulo
Autora: Vanderli Custódio
Lançamento: 2012
Preço: R$ 25
Páginas: 172
Mais informações: www.editorahumanitas.com.br/detalhesLaSQL.php?cod=591.

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