Coronavírus: governo de Boris Johnson é criticado por conta da gestão da pandemia (Aaron Chown/Getty Images)
Isabela Rovaroto
Publicado em 19 de maio de 2020 às 11h46.
Última atualização em 19 de maio de 2020 às 15h28.
O número oficial de mortos pela covid-19 no Reino Unido chegou a quase 43.000, reforçando o status do país como o mais atingido na Europa e levantando mais perguntas sobre a resposta do primeiro-ministro Boris Johnson à crise.
Novos números oficiais da Inglaterra e do País de Gales elevaram o número de mortos a pelo menos 42.990, apontou um levantamento da Reuters, que inclui dados publicados anteriormente da Escócia e da Irlanda do Norte, além de mortes hospitalares recentes na Inglaterra.
Os dados desta terça-feira do Instituto Nacional de Estatísticas britânico também revelaram um quadro sombrio em casas de repouso, que foram especialmente afetadas pelo vírus que já matou mais de 317.700 em todo o mundo.
O número de mortos em casas de repouso em todo o Reino Unido ultrapassou 10 mil em 8 de maio, mostraram os dados.
Embora diferentes maneiras de contar dificultem as comparações com outros países, o número confirmou que o Reino Unido estava entre os mais afetados pela pandemia.
Um número tão alto de mortes aumenta a pressão sobre Johnson. Os partidos de oposição dizem que ele foi muito lento para impor um confinamento, introduzir testes em massa e levar equipamento de proteção suficiente aos hospitais.
Os deputados britânicos criticaram a gestão da pandemia por parte do governo e denunciaram uma capacidade "inadequada" de realizar testes de diagnóstico, o que teve graves consequências para os lares para idosos.
O governo conservador de Boris Johnson é acusado de agir tarde demais frente a uma pandemia que matou quase 35.000 pessoas no Reino Unido.
O próprio Johnson precisou ser internado na UTI, devido à COVID-19.
Os testes diários de diagnóstico chegaram a 100.000 no final de abril, mas ainda assim a capacidade foi "inadequada para a maior parte da pandemia", escreveu o presidente do Comitê parlamentar de Ciência e Tecnologia, deputado conservador Greg Clark, em uma carta a Johnson.
"A capacidade não aumentou com rapidez suficiente, ou com ambição", denuncia ele na carta de 19 páginas.
"Tínhamos pouca capacidade no início", reconheceu a ministra do Trabalho e Pensões, Therese Coffey, à BBC na terça-feira.
O comitê presidido por Clark fez várias audiências com cientistas, especialistas em saúde pública e consultores governamentais e comparou as conclusões com as estratégias adotadas em outros países.
Em seu relatório, ele aponta que, se 100.678 testes de COVID-19 foram realizados no país no domingo passado, isso significa que foram apenas 1.215 em 10 de março, duas semanas antes da implementação do confinamento.
As autoridades britânicas decidiram, então, reservar os poucos testes disponíveis para os pacientes mais graves.
Essa medida teve graves consequências para asilos, que não conseguiram acessar os testes "no momento em que o vírus estava se espalhando mais rapidamente", diz Clark.
Trabalhadores temporários empregados para substituir funcionários isolados em suas casas como medida de precaução espalharam o vírus em vários lares para idosos, de acordo com um estudo do serviço público de saúde inglês, realizado de 11 a 13 de abril e publicado hoje pelo jornal "The Guardian".
Mais de 12.500 pessoas que moram em lares para idosos na Inglaterra e no País de Gales morreram em dois meses, vítimas do novo coronavírus, segundo dados oficiais.
Depois, os testes foram estendidos a trabalhadores de setores-chave e a residentes e funcionários de casas de repouso.
Na segunda-feira, o ministro da Saúde Matt Hancock anunciou que qualquer pessoa sintomática com mais de cinco anos de idade agora pode solicitar o teste. O governo espera ter uma capacidade de 200.000 testes por dia até o final de maio.