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Reino Unido dá primeiros passos como país 'independente' após Brexit

Pela primeira vez em quase meio século o país tem novas regras fronteiriças, importantes desafios e profundas divisões

O primeiro-ministro Boris Johnson mostra sua satisfação após assinar o acordo comercial com a UE em 30 de dezembro de 2020 em sua residência oficial em 10 Downing Street. (AFP/AFP)

O primeiro-ministro Boris Johnson mostra sua satisfação após assinar o acordo comercial com a UE em 30 de dezembro de 2020 em sua residência oficial em 10 Downing Street. (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 1 de janeiro de 2021 às 13h20.

Depois de completar, no dia 31, o longo e turbulento processo do Brexit, o Reino Unido começou o ano, nesta sexta-feira, 1, como país "independente", pela primeira vez em quase meio século, com novas regras fronteiriças, importantes desafios e profundas divisões.

Sua saída da União Europeia, que dominou a política britânica desde o polêmico referendo de 2016, completou-se uma hora antes da meia-noite, quando, com o fim do período de transição pós-Brexit, o país abandonou completamente o bloco em que havia entrado em janeiro de 1973.

Entre o triunfalismo e a preocupação, a imprensa britânica refletia em suas manchetes essa mudança histórica, mas profundamente divisiva.

"Nosso Futuro, Nosso Reino Unido, Nosso Destino" é a manchete do tabloide ultranacionalista Daily Express, sobre uma imagem da bandeira britânica marcada com a palavra "Liberdade".

O jornal pró-europeu The Independent questionou, por sua vez, se os britânicos estão "libertos, ou abandonados à deriva?".

Com a separação da UE, terminou na sexta-feira a livre-circulação de pessoas entre as duas margens do Canal da Mancha. A partir de agora, cidadãos de todos os 27 países europeus precisarão de visto para trabalhar e estudar no Reino Unido, embora aqueles que residiam lá antes da separação manterão seus direitos.

Também nas fronteiras de um país que importa grande parte do que consome voltam a ser realizados controles aduaneiros esquecidos durante décadas, apesar da assinatura de um acordo comercial com Bruxelas que evitou o caos nas trocas.

Fluidez nas fronteiras

Durante a noite, quase 200 caminhões cruzaram sem problema o túnel subaquático que liga o continente europeu à Grã-Bretanha.

"Todos os caminhões cumpriram as formalidades" agora impostas pelo Brexit, "não houve recusas", disse um porta-voz à AFP.

Natacha Bouchart, prefeita da cidade francesa de Calais, onde fica a entrada continental do túnel, apertou simbolicamente o botão que autorizou a passagem do primeiro caminhão após a meia-noite.

"Este é um momento histórico (...) são 48 anos de retrocesso com consequências para as quais ainda não temos todas as dimensões", declarou.

Também chegaram de madrugada ao porto britânico de Dover, sem atraso e sem confusão, os primeiros veículos pesados transportados por balsa.

"É bom ver que o porto foi preparado e que não há atrasos", disse Alan Leigh, 52, enquanto caminhava ao longo das falésias com vista para o cais.

A associação setorial britânica de transporte rodoviário estimou que, agora, cerca de 220 milhões de novos formulários terão de ser preenchidos a cada ano para permitir que o comércio flua com os países da UE.

"Esta é uma mudança revolucionária", disse o diretor-geral da associação, Rod McKenzie, ao The Times esta semana.
Outra mudança histórica foi anunciada ontem pela ministra espanhola dos Assuntos Exteriores, Arancha González Laya: Londres e Madri chegaram a um acordo de último minuto para deixar aberta a fronteira entre Espanha e Gibraltar.

O pequeno território britânico situado no extremo sul da Península Ibérica será integrado ao espaço Schengen europeu para, ao contrário do restante do Reino Unido, manter a liberdade de circulação das pessoas.

Desaparece, assim, o "portão" histórico, a fronteira fechada em 1969 pelo ditador espanhol Francisco Franco, em que a passagem livre - sob controle - foi restaurada somente em 1985, dez anos após sua morte.

Separatismo escocês

Também na Irlanda do Norte se vigiará de perto a fronteira com a vizinha República da Irlanda - um país-membro da UE -, para garantir que o movimento continue sem restrições. Este é um elemento-chave do Acordo de Paz da Sexta-feira Santa, que encerrou, em 1998, três décadas de um sangrento conflito entre republicanos católicos e unionistas protestantes.

Enquanto isso, na Escócia pró-europeia, a primeira-ministra pró-independência, Nicola Sturgeon, alertou sobre a batalha iminente que se aproxima para conseguir um novo referendo de autodeterminação. Os separatistas já foram derrotados em uma consulta em 2014.

"A Escócia estará de volta em breve, Europa. Deixem as luzes acesas", tuitou Sturgeon, cujo partido SNP espera que sua país possa um dia reintegrar a UE como um estado independente.

Apesar das divisões e dos desafios, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, surgiu otimista em um artigo de opinião publicado no Daily Telegraph nesta sexta-feira (1o).

O Brexit apresenta "oportunidades desconhecidas para a memória moderna", escreveu este polêmico e carismático jornalista que se tornou político.

"Precisamos da oportunidade que o Brexit nos dá para impulsionar os setores em que nos destacamos", acrescentou, fazendo particular referência à ciência.

Cientistas da Universidade de Oxford, juntamente com o laboratório britânico AstraZeneca, acabam de ver sua vacina contra a covid-19 aprovada. Esta é, hoje, a principal esperança para um Reino Unido onde a pandemia continua a piorar, devido ao surgimento de uma nova cepa do coronavírus, muito mais contagiosa.
Já são mais de 73.500 mortos no território.

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