Mundo

Regime sírio e oposição não conseguem consolidar trégua

O chefe da delegação do governo sírio acusou turcos e opositores de "falta de seriedade e autêntica vontade" de chegar a um acordo

Síria: "A não adoção hoje de um comunicado final se deve, sobretudo, ao fato de a delegação turca e os representantes da oposição terem chegado muito tarde a Astana" (Mukhtor Kholdorbekov/Reuters)

Síria: "A não adoção hoje de um comunicado final se deve, sobretudo, ao fato de a delegação turca e os representantes da oposição terem chegado muito tarde a Astana" (Mukhtor Kholdorbekov/Reuters)

E

EFE

Publicado em 16 de fevereiro de 2017 às 16h37.

Astana - As negociações entre o regime do presidente da Síria, Bashar al Assad, e a oposição armada realizadas nesta quinta-feira em Astana, no Cazaquistão, terminaram sem conseguir consolidar o cessar-fogo no país, faltando uma semana para o diálogo de paz convocado pela ONU em Genebra.

"A não adoção hoje de um comunicado final se deve, sobretudo, ao fato de a delegação turca e os representantes da oposição terem chegado muito tarde a Astana", disse Bashar Jafaari, chefe da delegação do governo sírio, em entrevista coletiva.

Jafaari acusou turcos e opositores de "falta de seriedade e autêntica vontade" de chegar a um acordo e de tentar "obstruir a bem-sucedida realização da reunião" na capital cazaque.

Apesar das grandes expectativas criadas, o regime e a oposição sírios não foram capazes de consolidar o cessar-fogo vigente desde 30 de dezembro do ano passado.

Apenas um dos três documentos sobre a mesa de negociação foi abordado: a criação de um grupo de trabalho para supervisionar a trégua.

O mecanismo para controlar a cessação das hostilidades, que devia incluir sanções para os que violem a trégua, e o plano detalhado que os dois lados deveriam seguir sequer foram discutidos.

Jafaari garantiu que o governo da Síria está totalmente comprometido com a cessação das hostilidades, mas alertou que o regime se reserva o direito de vetar acordos caso os grupos armados violem a trégua.

O representante de Al Assad acusou a Turquia de violar a soberania da Síria e pediu que Ancara feche a fronteira comum entre os dois países (930 quilômetros) para evitar a entrada de terroristas, processo que foi apoiado pela delegação russa.

Apesar de Jafaari ter destacado que nem todos na oposição apoiam o cessar-fogo e o acerto político na Síria, o representante considerou que as resoluções adotadas em Astana devem "servir de base para futuras negociações em Genebra".

A oposição, por sua vez, descartou ter sido responsável pelo fracasso do diálogo e acusou as tropas governamentais de descumprir o cessar-fogo.

"Não se assinou nada devido ao descumprimento do acordo anterior, incluídas as condições do cessar-fogo", disse o chefe da delegação de oposição, Mohammed Alloush, líder do Jaysh al Isla.

Alloush afirmou que outro motivo para as divergências é o papel destrutivo do Irã, cujas milícias apoiam o regime de Assad. Por isso, a oposição rejeitou a presença de Teerã no futuro mecanismo de controle da trégua.

No entanto, ressaltou que os grupos armados que ele representa apoiam o cessar-fogo e se mostrou disposto a iniciar negociações com o regime para a libertação dos detidos das prisões sírias.

"Analisaremos os resultados das negociações de hoje e tomaremos uma decisão", afirmou, revelando ter recebido um convite para comparecer aos diálogos que ocorrerão em Genebra.

Alloush também falou sobre o acordo firmado hoje com a Rússia, para que o Kremlin pare de bombardear as zonas libertadas do país.

O chefe da delegação russa, Aleksandr Lavrentiev, reconheceu que o encontro em Astana não representou um "avanço substancial", mas sim um "passo adiante" no processo de negociação.

"Para chegar a um diálogo, como se mostrou na prática, ainda falta muito. A desconfiança mútua ainda é muito grande e ainda há muitas acusações. É preciso ir passo a passo para não deixar espaços para o espírito de confronto", disse.

O Estado-Maior da Rússia destacou que as delegações reunidas na capital cazaque acertaram uma série de medidas para diminuir a tensão no território sírio.

"Ao longo de reuniões complicadas foi possível formular um mecanismo para a troca de reféns, sobretudo mulheres e crianças, e fixar os locais para a troca dos mortos em combate", explicou Sergei Afanasiev, chefe-adjunto da Direção-Geral do Estado-Maior.

Na realidade, porém, é que quase não houve avanços. Os dois grupos não entraram em contato direto, uma má notícia para as negociações de paz que serão retomadas na próxima quinta-feira, em Genebra, com mediação da ONU após dez meses de estagnação.

O enviado especial da ONU, Staffan de Mistura, afirmou hoje em Moscou que se o regime, a oposição e os mediadores fossem capazes de consolidar a trégua, esse seria o "começo de grandes mudanças no conflito" e destacou que "já não há mais combates diretos".

"Já vi muitas tréguas no Líbano, nos Bálcãs. Nesses casos, é importante prestar atenção nos possíveis incidentes", afirmou o diplomata, citando os mecanismos de cumprimento e supervisão da trégua que não foram acertados em Astana.

De Mistura disse que a nova Constituição, a formação de um governo de transição e a realização de eleições sob a supervisão da ONU serão os temas tratados em Genebra.

Acompanhe tudo sobre:Bashar al-AssadNegociaçõesSíria

Mais de Mundo

França utiliza todos os recursos para bloquear acordo UE-Mercosul, diz ministro

Por que a economia da Índia se mantém firme em meio a riscos globais?

Banco Central da Argentina coloca cédula de 20 mil pesos em circulação

Brasil é vice-lider em competitividade digital na América Latina, mas está entre os 11 piores