As famílias fogem do enclave rebelde, mas muitos civis temem represálias em razão de seu suposto apoio aos grupos de oposição, afirmou comissário da ONU (Omar Sanadiki/Reuters)
AFP
Publicado em 20 de março de 2018 às 11h57.
Última atualização em 20 de março de 2018 às 12h04.
O regime sírio continuava nesta terça-feira (20) sua ofensiva contra os últimos bolsões rebeldes em Ghouta Oriental, nas proximidades de Damasco, enquanto no norte do país os curdos derrotados em Afrin se preparavam para a possibilidade de novos ataques turcos.
Essas duas frentes distintas mas representativas da complexidade da guerra na Síria resultaram em uma das piores crises humanitárias desde o início do conflito em 2011, com milhares de civis deslocados pelos combates.
Várias ONGs expressaram preocupação e advertiram sobre o desespero dessas populações.
Para escapar dos bombardeios do regime em Ghouta Oriental, último reduto insurgente perto de Damasco, quase 70 mil pessoas fugiram dos territórios rebeldes nos últimos dias.
Desde o lançamento da ofensiva do regime de Bashar al-Assad, em 18 de fevereiro, os ataques aéreos mataram mais de 1.450 civis, incluindo 297 crianças, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
Em um mês de operações aéreas e terrestres, o regime, apoiado por seu aliado russo, reconquistou mais de 80% do enclave.
Na segunda-feira à noite, 20 civis, incluindo 16 crianças, morreram em um ataque aéreo quando se escondiam em uma escola em Arbin, no sul do enclave.
"O subsolo da escola era utilizado como abrigo", explicou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, indicando que o ataque foi provavelmente realizado pela aviação russa.
Desde segunda-feira à noite, ao menos 15 ataques do regime visaram Duma, a maior cidade do enclave.
As equipes de resgate se concentram nos casos mais urgentes.
O alto comissário da ONU para os direitos humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, denunciou os bombardeios incessantes contra milhares de civis "aterrorizados e pegos numa armadilha".
"As famílias fogem do enclave rebelde, mas muitos civis temem represálias em razão de seu suposto apoio aos grupos de oposição", afirmou.
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) também advertiu sobre as condições dos deslocados abrigados em centros "saturados".
"As pessoas fazem filas durante horas para usar os banheiros e a maioria dos centros não têm iluminação", lamentou a agência
Ao mesmo tempo, em Damasco, os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) provaram que continuam a representar uma ameaça, tomando um bairro na periferia sul da capital.
"O EI assumiu o controle total de Qadam e 36 membros das forças do regime e combatentes aliados foram mortos", indicou o OSDH.
Os jihadistas controlam atualmente menos de 5% do território sírio, após sofrerem seguidas derrotas para as forças do regime e para as forças curdo-árabes apoiadas por Washington.
Em outra frente da guerra, no norte da Síria, a Turquia afirmou na segunda-feira que está disposta a ampliar sua ofensiva contra uma milícia curda, depois de assumir o controle do enclave curdo de Afrin, em grande parte esvaziado de seus habitantes e palco de pilhagens.
"Continuaremos esse processo até a destruição desse corredor - Minbej, Ain al-Arab (nome de Kobani em árabe), Tal Abyad, Ras al-Ain e Qamichli", no norte da Síria, advertiu o presidente turco Recep Tayyip Erdogan.
A polícia militar turca enviou agentes para Afrin nesta terça, de acordo com o OSDH, que descreveu uma situação de segurança "caótica".
A ofensiva turca, lançada em 20 de janeiro, visava a milícia curda das Unidades de Proteção do Povo (YPG), classificada como "terrorista" por Ancara, mas valiosa aliada de Washington na luta contra o EI.
A administração local curda da região de Afrin prometeu que seus combatentes se tornariam um "pesadelo permanente" para o exército turco e seus aliados sírios. De acordo com o OSDH, células dormentes das YPG permanecem presentes em torno de Afrin.