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Refugiados enviados pela Austrália para ilha vivem inferno

Mega investigação do jornal The Guardian revelou mais de dois mil casos de violência em centros de detenção da Austrália instalados na ilha do Pacífico

Barco ocupado por refugiados e imigrantes é fotografado no Pacífico: pessoas que tentam chegar a Austrália são enviadas para ilhas próximas (Scott Fisher / Stringer)

Barco ocupado por refugiados e imigrantes é fotografado no Pacífico: pessoas que tentam chegar a Austrália são enviadas para ilhas próximas (Scott Fisher / Stringer)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 10 de agosto de 2016 às 15h13.

São Paulo – Uma mega investigação conduzida pelo jornal britânico The Guardian trouxe à tona mais de 2 mil casos de violência no centro de detenção de refugiados e solicitantes de asilo controlado pela Austrália e instalado na ilha de Nauru, no Pacífico.

Este centro, informou o jornal, custa 1,2 bilhão de dólares por ano aos contribuintes australianos e é administrado pelas empresas Broadspectrum e Wilson Security.

Apelidada de “Nauru Files” (Arquivos Nauru), a investigação apurou mais de 8 mil páginas de documentos datados de maio de 2013 a outubro de 2015 e que detalham casos de abuso sexual e infantil, automutilação e as más condições em que refugiados que tentam chegar à Austrália por barco enfrentam ao serem enviadas para esse centro.

A investigação mostra em detalhes o trauma e o desespero que vivem hoje essas pessoas que um dia buscaram proteção e uma vida melhor neste que é um dos países mais desenvolvidos do planeta.

Comprova também a vulnerabilidade das crianças que estão enfrentando essa situação, uma vez que a maior parte das vítimas desses episódios são justamente as crianças (50%), embora elas correspondam a apenas 18% da população instalada no local.

Entre os casos citados estão o abuso sexual de um menino e a automutilação de uma menina que costurou os próprios lábios e foi alvo de chacota pelos guardas. Uma jovem  que teria sido estuprada dentro do centro teria ouvido de um guarda que esse tipo de violência na Austrália era muito comum e que ninguém é punido por isso.

Críticas

Depois da publicação dos documentos, que foram reunidos em um banco de dados interativo e que permite aos usuários consultar todos os registros obtidos pelo jornal, a organização Save The Children emitiu um comunicado dizendo que os casos revelados são apenas a “ponta do iceberg” dos abusos cometidos contra essas pessoas no centro de detenção.

Para a Anistia Internacional, o vazamento destas informações mostra como é disfuncional e cruel a política migratória que a Austrália teria tentado esconder. Já a agência da ONU para refugiados (ACNUR) disse estar profundamente preocupada com os relatos e que esses são consistentes com uma investigação já conduzida por seus agentes sobre a situação.

O governo da Austrália, por sua vez, disse que segue apoiando o governo de Nauru na recepção dos refugiados transferidos para a ilha e que a reportagem do The Guardian reflete a política rigorosa de que todos os incidentes devem ser registrados. Lembrou ainda que muitos dos casos não tiveram a sua veracidade confirmada.

Histórico

Essa não é a primeira vez que a política migratória da Austrália sofre críticas pela comunidade internacional. Em 2013, o governo anunciou que pessoas que chegassem ao país via mar não seriam acolhidas sob o status de refugiadas e firmou acordos com países insulares para que recebessem essas pessoas em centros de detenções até que tivessem sua situação esclarecida.

A notícia foi recebida com desgosto pela ONU e entidades de direitos humanos, que passaram então a denunciar a superpopulação, má condições de higiene e outros abusos sofridos por aqueles que foram enviados para esses centros de detenção.

Refugiados

O número de refugiados que tentam chegar a Austrália é mínimo, na comparação com outros países do planeta. Segundo números da rede britânica BBC, em torno de 13 mil pessoas foram recebidas pelo país entre 2015 e 2016, fora 12 mil sírios fugindo da guerra. 

Estima-se que 18 mil tenham tentado chegar ao país por mar, mas esse número caiu nos últimos meses em decorrência da política rigorosa do país de não deixar as embarcações se aproximarem da sua costa.

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