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Reforma ´verde´ vai mudar data center da Apple

Centro de processamento de dados nos Estados Unidos será totalmente reformulado e passará a funcionar com 100% de energia limpa até o final de 2012

Apple iniciou um processo para minimizar as preocupações ambientais com a rápida expansão de centrais de servidores (Andrew Burton/AFP)

Apple iniciou um processo para minimizar as preocupações ambientais com a rápida expansão de centrais de servidores (Andrew Burton/AFP)

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Da Redação

Publicado em 10 de junho de 2012 às 11h29.

São Paulo – Em maio, a Apple anunciou que seu principal centro de processamento de dados nos Estados Unidos será totalmente reformulado. Com isso, ele passará a funcionar com 100% de energia limpa até o final de 2012.

A promessa da empresa de Steve Jobs sobre o data center de Maiden, na Carolina do Norte, foi feita exatamente um mês depois da Apple aparecer ao lado da Microsoft e da Amazon em um relatório do Greenpeace. O ranking "How Clean is your cloud?" (O quão limpa é a sua nuvem) indicou que mais da metade da energia que alimenta a nuvem da Apple tem origem em fontes de energia consideradas sujas.

Isso significa que boa parte da energia responsável por fazer o data center funcionar durante 24 horas por dia não é renovável. O carvão, por exemplo, é uma das fontes mais usadas atualmente nas centrais da Apple. O problema é que ele é considerado um dos grandes vilões do aquecimento global porque emite uma grande quantidade de gases efeito estufa.

Segundo Pedro Torres, coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace, o objetivo da ONG foi apontar as 15 maiores empresas do setor de TI e expor publicamente o uso de energia suja, como carvão e energia nuclear, dessas companhias como forma de pedir para que elas mudem sua matriz energética para fontes limpas. "O Greenpeace acredita no poder e na condição das empresas de se abastecer com energia renovável porque não se tratam de empresas de pequeno porte", explica Torres.

Para elaborar o ranking que aponta a Apple, a Amazon e a Microsoft com as empresas de TI que mais usam fontes sujas em seus data centers, o Greenpeace analisou os relatórios de sustentabilidade e de demanda energética gerados pelas empresas. "Ao verificar a quantidade de energia que cada data center e cada uma dessas companhias gasta no local, você consegue identificar de onde ela tira a energia”, explica Torres.

Agora, a Apple iniciou um processo para minimizar as preocupações ambientais com a rápida expansão de centrais de servidores. Segundo a empresa, até o final deste ano, 60% de toda a demanda de energia do seu data center em Maiden será suprida pela geração local de eletricidade.

Para atingir a meta, uma usina solar ao lado das instalações do data center será construída. Também haverá uma central de células de combustível a biogás. Logo, serão duas centrais de energia solar na região, com uma capacidade de fornecer até 84 milhões de kWh de energia anualmente.


Segundo a Apple, a união dessa usina solar com a central de células de combustível e biogás vai tornar o data center em Maiden o mais sustentável já construído por se tratar de uma escala de produção local de energia renovável que nenhuma outra empresa conseguiu até hoje.

Os 40% restantes dessa demanda de energia serão supridos pela compra de eletricidade da rede que tenha origem em fontes limpas próximas ou regionais. Por isso, a Apple fechou uma parceria com uma organização sem fins lucrativos, a NC Green Power. Dessa forma, a empresa pretende estimular o aumento da produção local de energia renovável em todo o estado da Carolina do Norte.

Diante dessa conquista, Torres conta que o Greenpeace ficou muito contente com a iniciativa da Apple. Para Torres, a esperança é que, com isso, a Apple, uma das maiores empresas da área de TI, consiga mostrar a importância do uso de energia limpa e influencie outras empresas do setor.

O Greenpeace acredita que ao solucionar esse problema ambiental, a Apple se torna capaz de atrair mais consumidores, que estão preocupados com a sustentabilidade e que consideram esse fator na hora de comprar seus produtos. Torres confia que ao servir de exemplo, a Apple pode estimular outras empresas a fazer o mesmo.

“Nós não somos contra a Apple, apenas desejamos que ela volte para o caminho verde que já trilhou conosco no passado”, diz Torres. Isso porque o Greenpeace já lançou uma campanha em que pedia para a Apple uma mudança no material usado no Macintosh, para que ele tivesse menos lixo tóxico. Na ocasião, a Apple concordou e mudou a fabricação de seus computadores.

A Apple também alega que outros data centers da empresa já passaram pela reforma verde. Segundo a empresa, nos últimos 10 anos, as instalações da empresa no Texas, Califórnia, e em outras cidades fora dos EUA começaram a funcionar apenas com fontes renováveis. Com isso, a empresa acredita diminuir emissões de 30 mil toneladas de gás carbônico (CO2) anualmente.

Por sua vez, Gilberto Mautner, CEO da Locaweb, acha louvável o esforço da Apple em fazer um data center funcionar com 100% de energia limpa. “Toda empresa tem que ter uma preocupação de mostrar o melhor uso de recursos”, explica.

Segundo Torres, essas mudanças da Apple demonstram que campanhas globais e coerentes têm muita força. “Quando você apresenta o que pode significar uma vitória para o público, para a empresa e para o planeta, ou seja, em três vetores importantes, a possibilidade de sucesso é muito grande”, afirma Torres.


Mas e os data centers brasileiros?

Diante de toda essa polêmica a respeito da falta do uso de energia renovável em data centers de grandes empresas de TI, muitos querem saber como fica o nosso país nessa história. As centrais de processamentos de dados também são alimentadas por fontes sujas?

Segundo Torres, o grande problema dos data centers brasileiros está nos geradores de backup, movidos a diesel, “o que há de mais sujo e poluidor em termos de energia de fonte energética”, explica. “Nos EUA, apesar das usinas a carvão e termoelétricas, não existe o uso de diesel nos geradores de backup”, justifica.

Segundo o Greenpeace, esse gerador a diesel é muito usado pelos data centers em horários de pico, período em que a tarifa da energia é maior. Para Torres, isso faz com que os data centers economizem dinheiro. O problema é que, como consequência, há um aumento da emissão de gás carbônico.

Para o Greenpeace, a solução consiste em investir na produção de geradores a etanol ou a biogás em larga escala, o que só pode ser alcançado com ajuda governamental. Para Mautner, essa mudança é muito difícil. “Hoje, a única tecnologia viável é o diesel e nós usamos, sim. Temos analisado alternativas, mas elas são bem complexas, algo que ainda está para ser viabilizado no Brasil”, justifica.

Além disso, Mautner explica que 99,9% da energia consumida em um data center com funcionamento normal vem de fontes hidrelétricas. Para ele, o consumo de diesel que a Locaweb tem no ano inteiro, por exemplo, deve ser de um tanque de caminhão, o que, para Mautner, não é algo significativo.

De qualquer forma, Torres acredita que o Brasil tem um grande potencial para ser um modelo de data center verde, uma vez que nosso país tem um grande potencial relacionado ao uso de energias renováveis.

Por sua vez, Mautner acredita que o Brasil já sai com uma vantagem enorme porque a maior fonte de energia elétrica no país é hidrelétrica, “a mais limpa que existe no mundo”, conta. “Se a Locaweb estivesse nos Estados Unidos, provavelmente puxaria energia nuclear, termoelétrica ou do carvão, as quais representam a matriz energética de lá”, explica.

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