Mundo

Reeleição dá fôlego a Netanyahu e leva Trump a apressar seu plano de paz

Netanyahu e seu partido, o Likud, venceram apesar de terem conquistado 35 cadeiras no Parlamento, o mesmo número que o principal oponente, Benny Gantz

Vitória de Netanyahu para um quinto mandato como primeiro-ministro de Israel levantou duas discussões importantes no país (Ammar Awad/Reuters)

Vitória de Netanyahu para um quinto mandato como primeiro-ministro de Israel levantou duas discussões importantes no país (Ammar Awad/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 11 de abril de 2019 às 08h58.

Última atualização em 11 de abril de 2019 às 10h02.

Jerusalém — A vitória de Binyamin Netanyahu para um quinto mandato como primeiro-ministro de Israel levantou duas discussões importantes no país: as negociações de paz com os palestinos e a própria sobrevivência do líder no cargo, uma vez que ele enfrenta uma série de denúncias de corrupção. Netanyahu e seu partido, o Likud, venceram apesar de terem conquistado 35 cadeiras no Parlamento, o mesmo número que o principal oponente, Benny Gantz.

Interligados, os dois temas pesarão nas negociações que devem levar a uma coalizão de direita, como prometeu o premiê na campanha. Para ter sucesso, analistas estimam que Netanyahu cumprirá a promessa de expandir a soberania israelense sobre partes ocupadas do território da Cisjordânia para fechar um acordo com os parceiros de coalizão.

Em contrapartida, a nova maioria no Knesset favorável a ele tende a mudar uma lei para beneficiá-lo com imunidade nas acusações de corrupção e suborno. "Esses dois objetivos poderiam ser resumidos como imunidade em troca de soberania", analisou o jornalista israelense Aluf Benn no Haaretz.

O presidente dos EUA, Donald Trump, felicitou Netanyahu e disse que sua vitória abre uma possibilidade de negociação de paz com os palestinos. O genro e assessor de Trump, Jared Kushner, e a Casa Branca anteciparam em março que planejavam publicar depois das eleições em Israel um plano de paz entre israelenses e palestinos.

Espera-se que o plano que Kushner vem preparando há quase dois anos aborde os temas mais espinhosos no conflito, entre eles o estabelecimento de fronteiras. Mas seu futuro é incerto, uma vez que os palestinos rejeitam negociar com os EUA depois do reconhecimento americano de Jerusalém como capital de Israel, em 2017. Além disso, novas anexações na Cisjordânia enterrariam a solução de dois Estados desejada pelos palestinos. Não está claro se a proposta americana incluiria a troca de territórios.

Segundo o Haaretz, o futuro líder da ultra direita e da coalizão no próximo Knesset Bezalel Smotrich deixou claras as condições para o premiê. Para garantir uma legislação que praticamente enterraria a investigação contra Netanyahu, ele terá de coordenar o que chamou de "acordo do século" com Trump, de maneira que Israel declare soberania sobre os assentamentos e garanta que nenhum colono seja despejado.

"Rei Bibi"

As eleições de terça-feira parecem ter sido uma prova do respaldo em Israel de Netanyahu, de 69 anos, apesar das graves acusações de corrupção que enfrenta e do impacto que um quinto mandato teria para o processo de paz com os palestinos. No dia 11, o premiê afirmou que Israel era "o Estado do povo judeu" e não de "todos seus cidadãos", o que despertou fortes críticas em um país onde 20% da população é árabe.

No sistema eleitoral proporcional de Israel, nenhum partido jamais obteve a maioria das cadeiras do Parlamento. As principais formações fecham alianças para conseguir 61 das 120 vagas da Casa. Com quase a totalidade dos votos apurados, os números indicavam que o Likud e um grupo de partidos aliados da direita terão 65 cadeiras, o suficiente para consolidar a maioria e formar o novo governo.

Durante a campanha, Gantz, da coalizão de centro Azul e Branco, liderou as pesquisas. Netanyahu se esforçou para obter o respaldo de toda a ala de direita. Nos últimos dias de campanha, ele esteve ao lado do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, do russo Vladimir Putin e do próprio Trump, que declarou reconhecer as Colinas do Golan como parte de Israel. A região faz parte da Síria. (Com agências internacionais).

Termina apuração de votos, mas há irregularidades

O Comitê Eleitoral Central de Israel encerrou nesta quinta-feira a contagem dos votos das eleições realizadas anteontem, que foram adiadas por conta dos votos dos militares, diplomatas e presos, entre outros, mas anunciou que existem irregularidades.

Nos dados divulgados no site oficial do comitê não coincide a soma de votos obtidos por cada partido (4.291.707) com o total de votos válidos emitidos de 4.231.424, com uma diferença de 60.283 cédulas.

O comitê informou que investiga a disparidade, enquanto o partido Nova Direita, do ministro de Educação, Naftali Benet, e da ministra da Justiça, Ayelet Shaked - que poderia ficar fora da Câmara por um décimo ou entrar com quatro cadeiras - pede uma recontagem dos votos.

A apuração dos votos de soldados, diplomatas, emissários da Agência Judia, marinheiros, mulheres protegidas em refúgios, presos e doentes em hospitais terminou, informou o comitê.

O órgão acrescentou que "como tem sido feito durante toda a campanha eleitoral, o processo de verificação e controle de dados introduzidos no sistema começou antes de os resultados serem divulgados", sem especificar o motivo das irregularidades.

"Em vista dos resultados tão próximos e a importância de cada voto que pode causar oscilações na distribuição dos mandatos, e para preservar a pureza do pleito, o Comitê Eleitoral anuncia que a inspeção continua", se limitou a informar o comitê.

De acordo com a lei eleitoral, os resultados oficiais devem ser divulgados nos oito dias seguintes à votação e estes podem ser apelados ao Tribunal de Distrito que atua como Tribunal Administrativo até o dia 1 de maio.

Segundo os últimos dados, tanto o Likud, do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, como o partido Azul e Branco de Beni Gantz teriam obtido 35 assentos no Parlamento, mas o primeiro tem mais opções para criar uma coalizão de direita para formar um governo

Mas, minutos antes de ser anunciado o final da apuração, o partido de Benet tinha quatro cadeiras e os assentos dos dois grandes partidos tinham caído para 34.

Não se espera que as possíveis mudanças alterem o fato de que Netanyahu tenha a melhor posição para formar governo, mas sim poderia mudar as negociações para formar coalizão e a força negociadora dos pequenos partidos necessários para formá-la.

Bolsonaro

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi parabenizado na manhã desta quinta-feira, 11, pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, por sua vitória eleitoral na véspera, que garantiu a recondução do político israelense ao cargo.

"Parabenizo @netanyahu pela grande vitória e pela renovação de seu mandato como Primeiro Ministro de Israel", escreveu Bolsonaro em publicação no Twitter. "Bibi é um grande líder e seguiremos trabalhando juntos pela prosperidade e pela paz dos nossos povos, com base em nossos valores e convicções profundas", finalizou o mandatário brasileiro.

A relação de Bolsonaro com o líder de Israel é intensa. Na posse do ex-capitão do Exército brasileiro como presidente da República, Netanyahu foi um dos chefes de Estado presentes. Após a tragédia em Brumadinho (MG), com colapso de uma barragem da Vale, Israel enviou uma missão de três dias para ajudar no resgate de vítimas.

Recentemente, Bolsonaro retribuiu a visita e se encontrou com Netanyahu em Israel, quando anunciou a criação de um escritório em Jerusalém para aumentar a corrente comercial entre os países. A medida, entretanto, frustrou o premiê israelense, que esperava a transferência da embaixada brasileira, atualmente em Tel-Aviv, para a cidade santa.

Acompanhe tudo sobre:Benjamin NetanyahuDonald TrumpEstados Unidos (EUA)Israel

Mais de Mundo

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia

Irã manterá diálogos sobre seu programa nuclear com França, Alemanha e Reino Unido