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Reconciliação e segurança, um desafio para Ouattara

"Reconciliação", "retorno à ordem e à calma", "esperança", primeiras palavras de Alassane Ouattara após a prisão Gbago, manifestaram a sua vontade de virar uma página

A Comissão Europeia pretende desbloquear 180 milhões de euros de ajuda à reconstrução da Costa do Marfim (AFP)

A Comissão Europeia pretende desbloquear 180 milhões de euros de ajuda à reconstrução da Costa do Marfim (AFP)

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Da Redação

Publicado em 12 de abril de 2011 às 21h51.

Abdjian- O presidente marfinense Alassane Ouattara assumiu nesta terça-feira um país à deriva com a imensa missão de reconciliar uma nação dividida e de restabelecer a paz e a segurança, no dia seguinte à prisão de seu rival Laurent Gbagbo.

Disparos com armas pesadas foram ouvidos no fim da manhã em Abidjan nos bairros de Plateau (centro) e Cocody (norte), dois bastiões do ex-presidente Laurent Gbagbo, indicaram à AFP várias testemunhas.

"Houve trocas de tiros com armas pesadas", pouco antes da 12h00 locais (09h00 de Brasília), declarou um morador de Plateau, bairro onde está situado o palácio presidencial.

"Reconciliação", "retorno à ordem e à calma", "esperança", as primeiras palavras de Alassane Ouattara após a prisão do ex-presidente que se recusava a deixar o poder há quatro meses, manifestaram a sua vontade "de virar uma página".

De fato, o secretário-geral das Nações Unidas Ban Ki-moon considerou que a Costa do Marfim tem uma "chance histórica" de promover a reconciliação nacional, estabelecer um governo de unidade e recuperar a autoridade do Estado.

Ban Ki-Moon pediu a Ouattara, reconhecido internacionalmente como o presidente eleito, após a votação de 28 de novembro, que evite mais um "banho de sangue" e represálias.

A Comunidade Econômica dos Estados do Oeste da África (Cedeao) considerou nesta terça-feira que a prisão de Laurent Gbagbo oferecerá uma chance de pôr um ponto final na longa crise na Costa do Marfim, mas pediu que ele seja tratado corretamente.

Mas a reconciliação se mostrou ainda mais complicada nesta terça, depois do anúncio da morte de Désiré Tagro, ex-ministro do Interior e aliado de Gbagbo.

De acordo com fontes concordantes, a morte ocorreu em circunstâncias turvas.

Tagro fazia parte de aliados de Gbagbo presos com ele e foi levado ao Hotel du Golf, indicaram uma fonte do campo de Ouattara e um diplomata em Abidjan.

Segundo as mesmas fontes, Tagro foi ferido em sua chegada ao hotel, e transferido em seguida para uma clínica, onde morreu nesta terça-feira de manhã.

Pascal Affi N'Guessan, líder do partido de Gbagbo, a Frente Popular marfinense (FPI), afirmou à AFP que ele tinha sido "assassinado" com "um tiro no Hotel du Golf", versão negada com firmeza pelos assessores de Ouattara.

Segundo a fonte diplomática, ele tentou se suicidar com um tiro na boca durante a prisão e não resistiu aos ferimentos.

Désiré Tagro era um homem forte do regime derrubado. Porta-voz de Gbagbo e depois ministro do Interior com amplos poderes, ele havia sido nomeado secretário-geral da Presidência após a polêmica eleição de novembro de 2010.

Homem enérgico, considerado com frequência "duro", ele foi um dos artífices do acordo de paz de 2007 entre Gbagbo e a rebelião.

Os quatro meses de crise deixaram pelo menos 800 mortos, a metade em Abidjan, segundo a ONU.

A batalha de Abidjan deixou a capital econômica, cuja população é estimada em quatro milhões de habitantes, à beira de uma catástrofe humanitária, com bairros inteiros saqueados.

Abidjan ainda era nesta terça-feira palco de saques e, em alguns bairros, de tiroteios.

Enquanto as Forças Republicanas (FRCI) do novo chefe de Estado, Alassane Ouattara, tentavam manter a ordem, muitos saques eram realizados no norte.

"À uma hora da manhã, pessoas armadas chegaram a bordo de vários 4x4, derrubaram o portão de uma casa, entraram e saíram com a televisão, com eletrodomésticos, e até o veículo 4x4 que estava estacionado", contou um morador do bairro de Cocody-2 Plateaux.

A situação humanitária é muito difícil também no interior do país, principalmente no oeste, onde combatentes dos ambos os campos foram acusados pela ONU e por ONGs de abusos.

Cerca de 536 pessoas morreram desde o fim de março, a maioria em Duékoué, indicou nesta terça-feira o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.

Em Genebra, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU anunciou nesta terça-feira os três especialistas encarregados de investigar os crimes cometidos depois das eleições presidenciais

Em seu primeiro discurso televisionado na segunda-feira à noite, Alassane Ouattara disse que pretende criar uma comissão de verdade e reconciliação "que esclarecerá todos os massacres, crimes e outras violações dos Direitos Humanos".

Laurent Gbagbo, de 65 anos, foi preso na segunda-feira durante uma ofensiva contra a sua residência em Abidjan.

No poder desde 2000, ele foi encontrado às 13h00 locais (10h00 de Brasília) em companhia de sua esposa Simone após uma ofensiva das FRCI, graças ao apoio decisivo da força francesa Licorne e das forças da ONU (Onuci).

O campo de Gbagbo acusou nesta terça-feira "as forças especiais francesas" de terem "sequestrado" se líder, mas o ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, desmentiu.

"A ONU e a França queriam o respeito às resoluções do Conselho de Segurança, nada mais". E "a Onuci esteve à frente, pois foram os helicópteros da Onuci que começaram a bombardear e a França, como nos foi solicitado, apoiou", indicou.

A missão da Licorne foi "totalmente cumprida" e deve ser desfeita progressivamente, declarou nesta terça-feira o ministro francês da Defesa, Gérard Longuet, Dos 980 soldados no início da crise, o efetivo da Licorne foi elevado para 1.700 depois de fevereiro.

Ouattara anunciou o lançamento de um procedimento judicial contra o seu rival, sua esposa e seus colaboradores, assegurando que "todas as medidas serão tomadas" para garantir sua "integridade física".

A França e a ONU enviaram "uma mensagem simbólica extremamente forte a todos os ditadores", declarou nesta terça-feira o primeiro-ministro francês François Fillon.

A Comissão Europeia pretende desbloquear 180 milhões de euros de ajuda à reconstrução da Costa do Marfim, indicou nesta terça à AFP uma fonte diplomática.

Paris já anunciou uma ajuda "excepcional" de 400 milhões de euros a sua antiga colônia, para ajudas, principalmente, a satisfazer as necessidade urgentes da população.

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