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Da Redação
Publicado em 24 de julho de 2012 às 15h26.
Damasco - Os rebeldes sírios acusaram nesta terça-feira o regime de Bashar al-Assad de ter transferido armas químicas para as fronteiras do país, no dia seguinte à ameaça de Damasco de usá-las em caso de "agressão externa".
Os combates se concentram em Aleppo, capital econômica do país, enquanto o Exército continua a combater os opositores em Damasco, após uma semana de intensos confrontos.
Pelo menos 80 pessoas morreram nesta terça-feira, segundo um novo registro do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Um registro anterior dessa organização com sede na Grã-Bretanha indicava nesta terça-feira 42 mortes.
Entre as vítimas estão 49 civis, entre os quais seis crianças mortas no bombardeio de Hirak, na região de Deraa (sul), segundo o OSDH que se baseia em uma rede de militantes e testemunhas na Síria.
O regime nomeou nesta terça-feira o general Ali Mamluk como novo chefe dos serviços de segurança depois que um atentado matou os principais membros da segurança na semana passada.
Já o Exército Sírio Livre (ESL) afirmou que o regime "transferiu algumas armas (químicas) e equipamentos de mistura de componentes químicos para aeroportos na fronteira", sem mais detalhes.
Um membro do Ministério israelense da Defesa, Amos Gilad, na tentativa de tranquilizar seu país, disse que o regime sírio controla "plenamente" o seu arsenal de armas químicas. Ele acrescentou ainda que o Hezbollah, movimento armado xiita aliado de Damasco, "não tem armas químicas da Síria".
O regime reconheceu pela primeira vez que possui um arsenal químico e advertiu que essas armas não-convencionais poderiam "ser usadas somente em caso de agressão estrangeira" e "nunca" contra a população, o que provocou a reação imediata da comunidade internacional.
Nesta terça-feira, a Rússia lembrou em um comunicado que Damasco havia ratificado o Protocolo
de Genebra de 1925, que proíbe a utilização de armas químicas.
"Queremos ressaltar que a Síria aderiu em 1968, por meio de sua ratificação, ao Protocolo de Genebra de 1925 que proíbe a utilização de gases asfixiantes, tóxicos ou outros gases deste tipo", indicou o Ministério russo das Relações Exteriores, que pede que Damasco cumpra seus compromissos internacionais.
Pelo quinto dia consecutivo, intensos combates foram registrados nesta madrugada em vários bairros de Aleppo (norte).
As áreas rebeldes da cidade foram metralhadas e bombardeadas por helicópteros, segundo o OSDH. Ontem um membro do conselho militar rebelde anunciou a "libertação" de vários bairros da cidade pelos insurgentes.
O Exército, determinado a esmagar a revolta iniciada em março de 2011, lançou ofensivas contra os bairros de Qadam e Aassali, últimos redutos de resistência rebelde na capital Damasco.
"Onde estão vocês muçulmanos? Que o mundo inteiro veja este massacre em pleno Ramadã!", exclamava, furioso, um homem mostrando corpos inertes de crianças mortas em Hirak, em um vídeo divulgado pelo OSDH.
O regime sírio tem realizado uma série de nomeações para o comando das instituições de segurança, e nomeou o general Mamluk, homem de confiança do presidente Assad, para chefiar o escritório de segurança nacional, e Rustom Ghazaleh para chefe geral de segurança política.
A reestruturação acontece menos de uma semana depois do atentado de 18 de julho, reivindicado pelas forças rebeldes, que atingiu em cheio a cúpula de segurança do regime, matando o ministro da Defesa, Daoud Rajha, e seu adjunto e o cunhado de Assad, Assef Shawkat .
O regime rejeitou uma proposta árabe de uma saída negociada do presidente Assad para evitar a continuação da violência que deixou mais de 19.000 mortos em 16 meses de revolta, de acordo com OSDH.
O Conselho Nacional Sírio (CNS) negou que esteja disposto a aceitar que uma "personalidade do regime" governe o país durante o período de transição, como foi dito anteriormente por um porta-voz desta que é a principal coalizão de oposição.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que a oposição está "mais do que nunca próxima da vitória", enquanto o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, considerou inevitável a queda do regime: "É uma questão de tempo".
Um alto funcionário militar do Irã, o general Massoud Jazayeri, chefe adjunto do Estado Maior das Forças Armadas, advertiu que os "amigos da Síria não vão permitir" uma mudança de regime em Damasco.