Goleiro do Roma, Mauro Goicoechea, defende chute de Kevin Prince Boateng, do Milan, em partida válida pelo Campeonato Italiano de Futebol (Giampiero Sposito/Reuters)
Da Redação
Publicado em 4 de janeiro de 2013 às 12h42.
Roma - Gritos racistas que levaram os jogadores do Milan a deixar o campo durante um amistoso provocaram indignação na Itália, nesta sexta-feira, e também reavivaram o debate sobre se as autoridades estão fazendo o suficiente para combater um problema profundo.
O atacante ganês do Milan Kevin-Prince Boateng chutou a bola para a arquibancada, tirou a camisa e conduziu seus companheiros de equipe para fora do campo ao 26 minutos de partida, na quinta-feira, depois de ouvir gritos de "macaco" e vaias de torcedores da equipe da 4ª divisão Pro Patria dirigidos a ele, a Urby Emanuelson e a Sulley Muntari.
O prefeito de Busto Arsizio, a cidade do Pro Patria onde ocorreu o incidente, disse que sua administração iria processar os torcedores responsáveis pelas ofensas. A polícia local disse que está interrogando os torcedores para identificar os culpados.
"Nós iniciamos uma ação civil contra os bandidos imbecis que mancharam a cidade", afirmou o prefeito Gigi Farioli ao canal de televisão Sky Italia.
"Amanhã, uma iniciativa de educação será lançada, com medidas concretas contra o racismo dentro e fora do estádio", disse ele, acrescentando que o Milan e os jogadores envolvidos foram convidados a participar. Mas ele afirmou que Boateng foi "pouco profissional" ao chutar a bola nos torcedores que gritavam.
Contudo, a ação de Boateng foi amplamente aplaudida e provocou novas críticas às autoridades por não tomarem medidas mais fortes para acabar com os insultos racistas que são comuns nos campos italianos.
"Finalmente, graças a Boateng, houve uma resposta adequada para as pessoas dementes que entoam gritos racistas nos estádios", escreveu Pierluigi Battista em um editorial do respeitado jornal Corriere della Sera.
Ele pediu para que jogos sejam suspensos e pontos sejam deduzidos da equipe dos torcedores ofensivos, mesmo em partidas da Serie A, quando houver gritos racistas.
"Agora é o momento para as autoridades do futebol se levantar e fazer alguma coisa. Precisamos ver ações reais que terão uma influência genuína", disse o ex-jogador do Milan e da Inter de Milão Patrick Vieira, no Twitter.
O presidente da Federação Italiana de Futebol (FIGC), Giancarlo Abete, disse que o incidente foi "inexplicável e intolerável", mas os críticos afirmam que a federação precisa tomar medidas muito mais draconianas do que as multas relativamente pequenas que impôs a clubes no passado.
No ano passado, 10 torcedores do londrino Tottenham Hotspur, que tem um grande contingente de torcedores judeus, foram feridos, um deles gravemente, quando dezenas de anti-semitas invadiram um bar no centro de Roma, em um ataque blanejado.
O Pro Patria foi multado em 15.000 euros durante o ano passado por ofensas racistas, segundo a imprensa italiana.
No Twitter, o jogador do Manchester City Mario Balotelli, que também já foi alvo de ofensas racistas antes de abandonar a Itália para jogar na Inglaterra, elogiou o "trabalho brilhante" de Boateng.
O atacante italiano, que aturou gritos de "macaco" e bananas sendo jogadas em campo, ameaçou no ano passado deixar a Eurocopa se ouvisse qualquer ofensa racial.