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Racha sobre Brexit derruba chanceler e ameaça May

Em três dias, três ministros que pregam uma "separação dura" pediram demissão. Contestada, May pode enfrentar voto de desconfiança no Parlamento

May: Se não obtiver uma maioria dos 316 votos no Parlamento, um novo deputado conservador poderá pleitear a chefia do governo (Hannah McKay/Reuters)

May: Se não obtiver uma maioria dos 316 votos no Parlamento, um novo deputado conservador poderá pleitear a chefia do governo (Hannah McKay/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de julho de 2018 às 08h53.

Última atualização em 10 de julho de 2018 às 17h34.

A decisão de optar por um divórcio "amigável" com a União Europeia detonou nesta última segunda-feira, 9, uma nova crise no governo da premiê britânica, Theresa May. Em três dias, três ministros que pregam uma "separação dura" pediram demissão, entre os quais o chanceler Boris Johnson e o encarregado das negociações do Brexit, David Davis. Contestada, May pode ter de enfrentar um voto de desconfiança no Parlamento.

A crise é provocada pelas divergências entre moderados e radicais dentro do Partido Conservador. Os primeiros defendem um "Brexit suave", com a imediata assinatura de um acordo de livre-comércio com a UE e, em contrapartida, aceitam a manutenção da política migratória. Essa tendência é apoiada por grandes empresários e investidores, que desejam que o divórcio, se de fato se confirmar, em março de 2019, tenha o menor impacto econômico e financeiro possível.

A segunda tendência é comandada pela ala mais eurocética dos conservadores, liderada por Johnson e Davis. Os dois defendem um "Brexit duro", ou seja, sem acordo de livre-comércio e sem concessões maiores a Bruxelas em troca da separação.

Até aqui, May flutuava entre uma tendência e outra. No início de seu governo, chegou a defender a hipótese do "Brexit duro". Mas, com as negociações com a UE se mostrando nocivas para o Reino Unido, sua linha política mudou. Na sexta-feira, a premiê chegou a um suposto "consenso" no Partido Conservador, segundo o qual a linha que vigoraria daqui para a frente seria a "suave".

Rompimento

Na noite de domingo, 8, porém, Davis decidiu romper a aparência de consenso e enviou uma carta à premiê informando sua demissão. Segundo ele, essa estratégia tornará o Reino Unido "vassalo" da Europa, porque o país não poderá negociar um acordos de livre-comércio com os EUA ou países da Ásia sem o acordo prévio de Bruxelas.

"No melhor dos casos, nós ficaremos em posição de fraqueza para negociar", argumentou Davis na carta. "O interesse nacional exige um ministro do Brexit que acredite muito na sua abordagem, e não apenas alguém que cumpra a política de forma reticente."

Diante da crise, May não perdeu tempo e nomeou um "eurocético", o deputado Dominic Raab, como sucessor de Davis. A premiê também falou ao Parlamento na expectativa de acalmar a turbulência, refutando as críticas por ter mudado de linha sobre o Brexit. "Não se trata de uma traição", assegurou.

Desconfiança

Seu discurso, entretanto, acabou sendo ofuscado pela demissão de Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, deputado eurocético e um dos líderes da controversa campanha em favor do Brexit, em 2016. Em sua carta de demissão, o chanceler foi duríssimo na crítica à premiê, cujo cargo ele cobiça. "Nós estamos claramente a caminho de um status de colônia", disparou, referindo-se à relação com a UE.

Diante da crise crescente, May pode ter de enfrentar nos próximos dias um voto de confiança que ameaça derrubar seu governo. Essa hipótese se concretizará se 48 deputados - 15% do total - assinarem o pedido. Se não obtiver uma maioria dos 316 votos, a premiê é afastada do cargo e um novo deputado conservador poderá pleitear a chefia do governo.

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