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Quem era o clérigo xiita executado pela Arábia Saudita

A execução de um importante clérigo xiita pela Arábia Saudita desencadeou a pior crise entre Arábia e Irã em mais de duas décadas


	Cartaz com o rosto do clérigo xiita Nimr al-Nimr: execução provocou uma condenação internacional e a reação mais dura veio do Irã
 (REUTERS/Essam Al-Sudani)

Cartaz com o rosto do clérigo xiita Nimr al-Nimr: execução provocou uma condenação internacional e a reação mais dura veio do Irã (REUTERS/Essam Al-Sudani)

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Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2016 às 20h15.

A execução de um importante clérigo xiita pela Arábia Saudita desencadeou a pior crise entre o reino sunita e seu principal inimigo no Oriente Médio, o Irã, em mais de duas décadas.

A execução de Nimr al-Nimr, que era uma voz crítica contrária à família real que governa a Arábia Saudita, provocou uma condenação internacional e a reação mais dura veio do Irã. Manifestantes invadiram a embaixada saudita em Teerã e atearam fogo no edifício.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, avisou as autoridades sauditas de que elas enfrentarão a vingança “divina” por seus atos. Em Riad, o governo respondeu no domingo rompendo relações diplomáticas e dando ao embaixador do Irã 48 horas para deixar o país.

A forte escalada nas tensões entre o maior explorador de petróleo do mundo e um país que busca emergir após anos de sanções internacionais pode ter amplas repercussões regionais, com os dois países já envolvidos em disputas de poder em lugares como Síria e Iêmen.

Confira este resumo sobre os envolvidos e o que poderia acontecer na sequência.

Quem era Nimr al-Nimr?

Nimr al-Nimr, 57, clérigo xiita da Província Oriental da Arábia Saudita, rica em petróleo, era uma personalidade proeminente nas manifestações contrárias ao governo e em alguns de seus sermões criticava as autoridades sauditas pelo tratamento dado à minoria xiita no reino.

Em 2009, ele ameaçou levar os muçulmanos xiitas da Arábia Saudita à secessão, provocando uma reação enérgica do governo no coração da minoria, na zona oriental. Em seus sermões, al-Nimr criticava tanto os governantes autocratas sunitas quanto os xiitas, mas reservava alguns de seus ataques mais contundentes às famílias reais da Arábia Saudita e do Bahrein.

Ele foi preso em 2012, um ano após as manifestações populares aumentarem no Oriente Médio, e sentenciado à morte em 2014.

O que sua execução significa para a Arábia Saudita?

A execução “institucionaliza a tensão na Arábia Saudita criando um símbolo para as reclamações xiitas”, disse Ibrahim Fraihat, pesquisador sênior de política externa do Brookings Doha Center, em entrevista. “Não era muita gente que o via como representante da comunidade xiita, mas agora ele se tornou um dos símbolos da tensão entre xiitas e sunitas”.

Em 2015, militantes do Estado Islâmico aproveitaram os atritos sectários sauditas e atacaram mesquitas xiitas na Província Oriental.

Os xiitas são maioria no vizinho Bahrein, uma pequena ilha que abriga a Quinta Frota dos EUA. As autoridades do Bahrein frequentemente acusam o Irã de apoiar grupos extremistas xiitas, uma acusação que a república islâmica nega.

Considerando as tensões regionais, por que realizar a execução?

Dada a dinâmica complexa na região no Iêmen, na Síria e no Iraque, a execução de al-Nimr ilustra uma política “mais firme” da Arábia Saudita contra o Irã e os dissidentes internos, disse Scott Lucas, analista especializado no Irã e professor de política internacional da Universidade de Birmingham, no Reino Unido.

“Os sauditas deliberadamente cruzaram o limite ao executá-lo e, para piorar a situação, usaram uma retórica que o alinha a terroristas da al-Qaeda”, disse ele.

Al-Nimr foi um dos 47 homens executados no sábado. Muitos deles eram sunitas condenados por delitos relacionados ao terrorismo, que as autoridades sauditas descreveram usando termos normalmente reservados para grupos jihadistas como a al-Qaeda e o Estado Islâmico.

As tensões entre o Irã e a Arábia Saudita vão piorar ainda mais?

“A bola está com os iranianos”, disse Lucas. Os sinais de que o regime em Teerã está pronto para ampliar o confronto poderiam incluir “um aumento do apoio iraniano aos [rebeldes] Houthi”, no Iêmen, ou uma maior atividade antissaudita do movimento xiita Hezbollah, que enviou combatentes à Síria, disse Lucas antes da decisão saudita de romper relações. “Mas eu não acho que isso vá acontecer”.

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