Paz se apresenta como um reformista moderado que busca um "capitalismo para todos" (Getty Images)
Publicado em 19 de outubro de 2025 às 21h54.
O senador Rodrigo Paz, de 58 anos, venceu neste domingo, 19, o segundo turno das eleições presidenciais da Bolívia com 54,5% dos votos contra os 45,4% do ex-presidente conservador Jorge Quiroga.
Economista do Partido Democrata Cristão (PDC), Paz se apresenta como um reformista moderado que busca um "capitalismo para todos" e assume em 8 de novembro diante de uma série de desafios econômicos e políticos.
Nascido na Galícia, na Espanha, em 1967, durante o exílio de seu pai, o ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993), Paz viveu em dez países antes de chegar à Bolívia aos 15 anos.
Formado em Relações Internacionais, com mestrado em Gestão Pública pela American University, em Washington, Paz iniciou sua carreira política aos 32 anos como deputado por Tarija. Desde então, foi deputado, prefeito de Tarija e, atualmente, senador pelo departamento.
Filho de um dos principais líderes do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), partido que migrou da esquerda para a centro-direita, passou por diferentes siglas até chegar ao PDC.
O sucesso de Paz no primeiro turno foi atribuído por analistas à sua conexão com as camadas populares nas áreas rurais e periféricas, onde tradicionalmente o MAS vencia. Desde 2021, Paz percorreu diversos municípios bolivianos, participando de festividades e desfiles com sindicatos, estratégia visível em suas redes sociais.
Outro fator apontado para o apoio popular foi seu vice na chapa pelo Partido Democrata Cristão (PDC), o ex-policial Edman Lara, conhecido por denunciar supostos casos de corrupção na polícia boliviana antes de ser exonerado em 2024.
Lara, porém, também causou polêmicas ao fazer declarações agressivas, como comparar a corrupção a um "câncer" e chamar Quiroga de "covarde e maricón" (sic). Apesar de manter distância durante a campanha, Paz sempre defendeu seu companheiro de chapa.
Apoiadores de Quiroga acusaram Paz e o PDC de serem um "cavalo de Troia" do MAS e de Evo Morales, após setores tradicionalmente ligados ao partido governista manifestarem apoio a Paz -- acusação negada por ele.
O lema de campanha de Paz foi "Capitalismo para todos", com promessas de crédito barato, redução de impostos e tarifas para importação de tecnologia e veículos, fim do chamado "Estado tranca" (estado que impede o progresso) e destinação direta de 50% do orçamento nacional às nove regiões da Bolívia.
Seu enfoque pragmático vem com a promessa de recuperar a estabilidade fiscal da Bolívia. Entre os pilares de sua proposta está um plano de ajuste fiscal que prevê cortes de gastos públicos, mas com ressalvas.
"Não vamos prejudicar a saúde, a educação, a segurança nem os benefícios sociais", prometeu durante a campanha.
O presidente eleito garantiu que reduzirá impostos, dará acesso ao crédito e eliminará restrições às importações. Além disso, pretende cortar subsídios aos combustíveis e descentralizar o orçamento.
"O que me importa é que as pessoas possam comer e trabalhar, que o Estado não atrapalhe a vida de ninguém", afirmou à imprensa local, referindo-se ao que costuma chamar de "Estado travado".
Diferentemente de seu adversário Quiroga, Paz resiste a acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), mantendo um discurso moderado e estrategicamente afastado das ideologias mais radicais. Ele rejeitou recorrer a empréstimos internacionais, afirmando que não quer que "a Bolívia seja escrava de bancos".
Outra proposta polêmica é a legalização dos veículos "chutos" (sem documentação), criticada pelo Chile, que denuncia que muitos foram roubados em seu território. Paz garantiu que os veículos denunciados como furtados serão devolvidos ao país de origem.
A eleição de Paz representa uma ruptura histórica na política boliviana. Desde 2006, o país foi governado pelo Movimento ao Socialismo (MAS), primeiro sob o comando de Evo Morales e, a partir de 2020, com Luis Arce.
O novo presidente terá que lidar com uma sociedade polarizada e um Congresso onde o MAS ainda mantém força significativa. Além disso, enfrentará desafios econômicos como a inflação e a escassez de combustíveis que marcaram o fim da era socialista na Bolívia.
Esta foi a primeira vez em duas décadas que um presidente de direita assume o cargo por meio de eleições populares.