Prevost: cardeal é um poliglota nascido em Chicago, visto como um eclesiástico que transcende fronteiras (Frayjhonattan/Wikimedia Commons)
Agência de notícias
Publicado em 3 de maio de 2025 às 10h38.
Para quem gosta de apostas, a sabedoria convencional diz para não apostar em um papa dos Estados Unidos. Ainda assim, alguns observadores do Vaticano dizem que um americano poderia reunir votos suficientes: o cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, um poliglota nascido em Chicago, visto como um eclesiástico que transcende fronteiras. Ele serviu por duas décadas no Peru, onde se tornou bispo e cidadão naturalizado, e depois liderou sua ordem religiosa internacional. Atualmente ocupa um dos cargos mais influentes na Santa Sé.
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Enquanto alas ideológicas disputam entre continuar a agenda inclusiva do Papa Francisco ou retornar a um caminho doutrinário conservador, os apoiadores do cardeal Prevost o promovem como uma alternativa equilibrada entre os "potificáveis" — como são conhecidos os possíveis candidatos ao papado.
O padre Michele Falcone, de 46 anos, sacerdote da Ordem de Santo Agostinho (anteriormente liderada por Prevost), descreveu seu mentor e amigo como o "meio-termo digno". O cardeal se assemelha a Francisco em seu compromisso com os pobres e os migrantes, e em encontrar as pessoas onde elas estão. No ano passado, ele disse ao site oficial do Vaticano que "o bispo não deve ser um pequeno príncipe sentado em seu reino". Pelo contrário, afirmou que o líder da Igreja é "chamado, de forma autêntica, a ser humilde, estar próximo do povo que serve, caminhar com ele, sofrer com ele".
Indicado por Francisco em 2023 para chefiar o escritório do Vaticano responsável por nomear e administrar bispos no mundo todo, o cardeal Prevost passou grande parte de sua vida fora dos EUA. Ordenado em 1982, aos 27 anos, ele obteve doutorado em direito canônico na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino, em Roma. No Peru, atuou como missionário, pároco, professor e bispo. Como líder dos agostinianos, visitou ordens ao redor do mundo e fala espanhol e italiano.
O cardeal entende que o centro da Igreja Católica Romana "não está nos EUA ou no Atlântico Norte", disse Raúl E. Zegarra, professor assistente de estudos teológicos católicos na Escola de Teologia de Harvard.
Dada a experiência internacional do cardeal Prevost, seu conhecimento de Estados Unidos e seu trabalho na hierarquia do Vaticano, disse Marco Politi, veterano analista do Vaticano em Roma, "se ele não fosse americano, isso o tornaria automaticamente um pontificável, com certeza".
Descrito como reservado e discreto, Prevost teria um estilo diferente de Francisco, que até sua morte no mês passado atraía multidões entusiasmadas e parava para abençoar bebês, mesmo contra a recomendação dos médicos.
"Ele não comete excessos", disse o padre Falcone sobre Prevost. "Abençoar bebês, sim. Pegá-los no colo, não."
Apoiadores do cardeal esperam que ele continue o processo consultivo iniciado por Francisco para convidar leigos a se reunirem com bispos.
"Eu sei que Bob acredita que todos têm o direito e o dever de se expressar na Igreja", disse o padre Mark Francis, ex-colega de classe do cardeal Prevost e dirigente do braço americano da ordem religiosa Clérigos de São Viator.
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Enquanto Francisco disse "Quem sou eu para julgar?" ao ser questionado sobre clérigos gays, Prevost expressou visões menos acolhedoras em relação a pessoas LGBTQIA+. Em um discurso de 2012 a bispos, lamentou que a mídia ocidental e a cultura popular fomentassem "simpatia por crenças e práticas que estão em desacordo com o evangelho". Citou o "estilo de vida homossexual" e "famílias alternativas compostas por parceiros do mesmo sexo e seus filhos adotivos".
Como bispo em Chiclayo, cidade no noroeste do Peru, ele se opôs a um plano do governo de incluir ensinamentos sobre gênero nas escolas.
"A promoção da ideologia de gênero é confusa, porque busca criar gêneros que não existem", disse à imprensa local.
Apesar de ter sido elogiado no Peru por apoiar imigrantes venezuelanos e visitar comunidades remotas, o cardeal também foi criticado por sua condução de casos de padres acusados de abuso sexual.
Uma mulher em Chiclayo, que afirmou ter sido abusada sexualmente por dois padres junto com outras duas meninas muito antes de Prevost ser bispo, o acusou de conduzir mal a investigação e de não impedir um dos padres de continuarem celebrando missas.
A diocese de Chiclayo informou que o cardeal Prevost abriu uma investigação, que foi encerrada pelo Vaticano. Após a chegada de um novo bispo, a investigação foi reaberta. Apoiadores de Prevost dizem que ele é alvo de uma campanha difamatória por parte de membros de um movimento católico peruano que Francisco desmantelou.
Em Chicago, ativistas dizem que seu escritório não alertou uma escola católica próxima a um mosteiro de que um padre, considerado pelas autoridades eclesiásticas como abusador de meninos por anos, foi acolhido na instalação nas redondezas a partir de 2000. Como chefe da ordem agostiniana no Meio-Oeste americano na época, Prevost teria aprovado a mudança do padre para o mosteiro.
Tentativas de entrar em contato com o cardeal Prevost para esta reportagem não tiveram sucesso. Amigos do cardeal dizem que ele fala com cautela.
Comparado com Francisco, sua linguagem é "mais serena", disse o padre Alejandro Moral Antón, sucessor de Prevost como líder dos agostinianos. Em situações em que Francisco falaria de forma imediata o que pensa, Prevost "se contém um pouco", acrescentou.
A palavra "conclave" vem do latim, "cum clavis", e significa precisamente "fechado à chave". O sistema de fechar os cardeais teve início no Concílio Lyon II (1274).
Em contexto geral, conclave é uma reunião fechada, com acesso restrito a participantes específicos. No entanto, o termo é mais conhecido pelo seu uso no contexto da Igreja Católica. Assim, no Vaticano, conclave é o nome dado ao processo no qual os cardeais da Igreja se reúnem para eleger um novo Papa
Segundo veículos italianos, o novo conclave deve acontecer entre 5 e 10 de maio e deve reunir 135 cardeais aptos (com menos de 80 anos) a votarem no novo chefe da Igreja Católica. Eles se fecharão no recinto da cidade do Vaticano, declarado zona de conclave.
Antes, todo o Colégio Cardinalício, incluindo os maiores de 80 anos, terão realizado as chamadas congregações ou assembleias para debater o estado da Igreja e definir o perfil do sucessor de Francisco.
O novo Papa será eleito em uma das votações que serão realizadas na Capela Sistina. Durante a duração do conclave, os cardeais serão proibidos de utilizar qualquer tipo de comunicação com o exterior, sem telefone ou computadores. Não poderão enviar mensagens eletrônicas ou alimentar suas contas nas redes sociais.
No início do conclave, os cardeais farão um juramento de silêncio. Além dos cardeais, todos os funcionários do serviço que têm acesso a eles também deverão jurar que manterão segredo sobre tudo o que tiver relação com as reuniões, sob pena de excomunhão.
O conclave terá início com uma missa votiva, após a qual os cardeais se dirigirão em procissão até a Capela Sistina, local da eleição, cantando o "Veni Crator" para invocar a ajuda do Espírito Santo, segundo a Constituição Apostólica.
Além disso, o mestre de cerimônias pronuncia o "Extra omnes!" ("Fora todos!", ordenando que aqueles que não tenham a ver com a eleição saiam do recinto).
As portas se fecham e ficam sob a proteção da Guarda Suíça.
Para ser eleito, um cardeal precisará de uma maioria de dois terços. O voto é secreto. Os cardeais não têm direito de se abster nem de votar em si mesmos.
Na Capela Sistina serão realizadas duas votações matutinas e duas vespertinas. Duas vezes ao dia, uma depois de cada rodada, os papéis são queimados. A cor da fumaça que sairá da chaminé anuncia ao mundo o resultado: preta, se ainda não houver uma decisão, e branca, se um novo Papa tiver sido eleito.
Um repique de sinos de São Pedro se somará ao anúncio do evento, e assim tudo será mais claro para a imprensa e para os milhares de católicos que seguirão o evento.
Se depois do terceiro dia nenhum candidato alcançar o mínimo exigido, a Constituição estabelece uma pausa de 24 horas, que será dedicada "à oração, ao colóquio (...) e a uma breve exortação espiritual".
Se ocorrerem outras sete votações inúteis, será feita outra pausa de um dia.
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