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Quem é Michel Barnier, novo primeiro-ministro da França visto como conservador

Pouco conhecido na França, político de 73 anos é membro do tradicional Os Republicanos e vai precisar do apoio da extrema direita para se manter no cargo

Agência o Globo
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Publicado em 5 de setembro de 2024 às 13h13.

Última atualização em 5 de setembro de 2024 às 13h19.

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O presidente Emmanuel Macron nomeou nesta quinta-feira, 4, Michel Barnier como primeiro-ministro da França, um veterano político de direita e que foi o principal negociador europeu do Brexit, na esperança de romper um impasse político que atinge o país desde as eleições parlamentares inconclusivas há quase dois meses. Escolhido pelo líder francês para formar "um governo de unidade", Barnier terá como primeira missão obter maioria em um Parlamento dividido em três blocos para evitar uma rápida moção de censura.

Pouco conhecido na França, o político de 73 anos é membro dos Republicanos (LR), o principal partido conservador do país, mas que vem sofrendo um lento processo de deterioração. Ele foi eleito pela primeira vez para o Parlamento em 1978 e nas décadas de 1990 e 2000 ocupou vários cargos ministeriais em Gabinetes de direita, ficando encarregado do Meio Ambiente, Assuntos Europeus, Relações Exteriores e Agricultura ao longo dos governos de Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy.

Também foi três vezes comissário europeu, de 2016 a 2021, tendo liderado as negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia. Em 2021, tentou, sem sucesso, ser candidato à Presidência pelos Republicanos. Em sua conta na rede social X, se apresenta como um “patriota europeu”, embora também tenha reivindicado um certo nacionalismo francês em Bruxelas, sempre preferindo sua língua materna ao inglês em seus discursos.

Barnier é o primeiro-ministro mais velho da História da França — o mais jovem foi seu antecessor, Gabriel Attal. Ele jantou na quarta-feira no Palácio do Eliseu, sede do governo, com Macron, que queria conhecer suas ideias em primeira mão — o republicano é um político experiente, considerado pela maioria como um estadista e com um perfil internacional muito contrastante do líder francês.

Em uma entrevista ao El País no ano passado, Barnier afirmou que não tinha nenhuma agenda pessoal e que queria “cultivar e cultivar” alianças para impedir o que ele chama de “aventura da extrema direita”. Agora, curiosamente, será esse espectro político que decidirá se ele poderá vingar como primeiro-ministro, já que sua nomeação contraria violentamente a coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP), que ficou em primeiro lugar nas eleições legislativas, com 193 deputados, mas longe de obter a maioria absoluta de 289 assentos necessária para governar sem impedimentos.

Para tentar conter a extrema direita nas últimas eleições, a aliança de esquerda, que inclui A França Insubmissa, os Ecologistas, o Partido Comunista e o Partido Socialista, chegou a retirar seus candidatos em alguns círculos eleitorais em favor da maioria presidencial que Macron havia reunido. Mas agora, em vez de poder eleger um primeiro-ministro — sua indicada foi Lucie Castets, uma técnica praticamente desconhecida — vê um conservador dos Republicanos ocupar o cargo.

Não à toa, a decisão foi recebida com profunda amargura pela NFP e alguns de seus membros, como Jean Luc Melénchon, já estão prometendo lutar contra ela no Parlamento e nas ruas, onde uma manifestação anti-Macron foi convocada para sábado. Mas a ala mais moderada da aliança, o Partido Socialista liderado por Olivier Faure, também não pretende aceitar a decisão.

“A negação democrática em seu auge: um primeiro-ministro do partido que ficou em quarto lugar e nem sequer participou da frente republicana. Estamos entrando em uma crise de regime”, postou Faure em suas redes sociais.

Por outro lado, a posição firme de Barnier em relação à imigração irregular pode ajudá-lo a conquistar o apoio da extrema direita, que detém 126 assentos no Parlamento. Nas últimas primárias republicanas, ele propôs um referendo para decidir sobre a reforma das leis de imigração, mas Marine Le Pen afirmou nesta quinta-feira que aguardará o discurso oficial de apresentação da política do novo premier antes de decidir sobre a sua eventual censura. As condições antecipadas por seu partido, o Reagrupamento Nacional, são uma reforma do sistema eleitoral e novas eleições legislativas em 2025.

Por enquanto, Barnier só pode contar com o apoio dos Republicanos, que têm apenas 39 deputados no Parlamento, e da aliança de centro-direita de Macron, com 166. Mas isto seria insuficiente diante de uma possível moção de censura, caso tanto o Reagrupamento Nacional e seus aliados como a coalizão de esquerda votassem contra ele, já que os dois blocos juntos totalizariam 335 votos, muito acima dos 289 necessários.

Especialistas avaliam que a longa experiência de Barnier nos círculos do poder deve ajudá-lo na delicada tarefa de encontrar um caminho numa Assembleia Nacional rachada em três blocos — e com poucos partidos dispostos a trabalhar juntos —, mas sem dúvida, ele precisará da cumplicidade — ou tolerância — de Le Pen para superar seu antecessor e evitar que a próxima cabeça em perigo seja a do chefe de Estado, Emmanuel Macron. Segundo uma pessoa próxima a ele, citada pelo jornal Le Monde, “Michel não está ciente da deterioração do debate público na França, será um choque”.

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