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Quem é Marine Le Pen, a cara da direita radical francesa

Filha de líder histórico da extrema-direita francesa se credencia como nome forte para 2027

Marine Le Pen vem tentando mudar a imagem do partido nos últimos anos (Marc Burleigh/AFP Photo)

Marine Le Pen vem tentando mudar a imagem do partido nos últimos anos (Marc Burleigh/AFP Photo)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 1 de julho de 2024 às 07h44.

Marine Le Pen tem o que comemorar. Seu partido, o Rassemblement National (RN) venceu o primeiro turno das eleições legislativas francesas neste domingo, 30. O RN conquistou o primeiro lugar com 33,2% dos votos, segundo pesquisas de boca de urna. Levantamento da Ipsos, publicado na sexta-feira, 28, porém, indicava que o grupo teria em torno de 36% das intenções de voto.

Mesmo assim, é um triunfo enorme, ainda mais conquistado no pleito com maior participação de eleitores desde 1997.

A filha do líder histórico da extrema-direita francesa, Jean-Marie Le Pen, apostou suas fichas nesta eleição em Jordan Bardella, de 28 anos, como candidato a primeiro-ministro. No programa de governo do RN consta limitar a imigração, impor "autoridade" nas escolas e reduzir as contas de luz das famílias. Na verdade, Marine está "preparando o terreno" para disputar a Presidência da França pela quarta vez em 2027 e chegar com reais condições de vitória.

Marine Le Pen assumiu a liderança do RN em 2011 e desde então vem tentando mudar um pouco a imagem do partido, mesmo que em algumas propostas a natureza de extrema-direita ainda seja clara para muitos, sobretudo na imigração.

E o curioso foi como a vida profissional de Marine (que tenta usar cada vez menos o sobrenome do pai para tentar afastar a imagem de extremista) começou: como advogada de imigrantes ilegais.

Advogada de ilegais, islamofóbica e busca por dinheiro russo

Graduada em direito em uma das melhores faculdades de Paris no início dos anos 1990, Le Pen passou a atuar em favor de réus que não podiam pagar por um advogado. Isso vezes envolveria imigrantes ilegais. Questionada sobre isso mais tarde, ela declarou que não via nenhuma contradição: "Eles são seres humanos, têm direitos, você não pode culpá-los pela política de imigração", falou à BBC.

Depois de seis anos, ela deixou a advocacia para assumir o cargo mais alto no departamento jurídico do Rassemblement National. Em 2004, ela foi eleita para o Parlamento Europeu e lá permaneceu por 13 anos.

Quando, em 2005, Jean-Marie Le Pen declarou a uma revista que a ocupação alemã da França "não era tão desumana, mesmo que houvesse algumas manchas", ela considerou deixar a vice-liderança do partido. O destino do pai foi selado de vez quando ele garantiu apenas 10% dos votos na campanha presidencial de 2007. Em quatro anos, Marine Le Pen estava no comando do partido.

Nesse início de jornada como líder do RN, Marine honrou as credenciais racistas e extremistas de seu berço. Ela disse a apoiadores em Lyon que a visão de muçulmanos rezando na rua era semelhante à ocupação nazista. "Primeiro vieram "mais e mais véus, depois "mais e mais burcas. Agora não havia tanques ou soldados, mas ainda é uma ocupação e pesa sobre as pessoas", declarou à época.

Na França, financiar um partido de direita radical não era bem visto. Ela, então, foi à Rússia buscar 11 milhões de euros em empréstimos no mesmo ano em que Vladimir Putin se apropriou de territórios na Ucrânia. Ela até apoiou a anexação da Crimeia pelos russos.

A partir de então, Marine Le Pen concentrou-se em criticar o que ela considera ameaças contra o estilo de vida francês: "islamificação", globalização, União Europeia e euro. Com essas bandeiras, ela ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais de 2012.

Em 2017, o Rassemblement National passou a atrair apoio em toda a França. Isso resultou em vitórias em eleições locais, regionais e na Europa, inclusive conquistando apoiadores judeus e muçulmanos. Embora tenha sido derrotada por Emmanuel Macron no segundo turno presidencial, ela registrou 7,7 milhões de votos, mostrando que estava construindo uma base sólida.

"Vou governar o país como uma mãe, sem extravagâncias e com bom senso", disse Marine em 2022. Essa linha mais "soft" não foi suficiente para levá-la à vitória contra Macron. No entanto, Marine Le Pen conquistou mais de 13 milhões de votos no segundo turno, consolidando seu papel como a líder da direita radical francesa. 

Depois dos resultados do domingo, Marine já vislumbra 2027 como o ano em que finalmente poderá morar no Palácio do Eliseu.

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