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Quem a AfD, a extrema-direita alemã, elegeu para comandar o partido

Líderes eleitos para comandar o partido, que chegou ao Parlamento em 2017, afirmam que Merkel e seus apoiadores estão "esgotados"

Joerg Meuthen e Tino Chrupalla: liderança da AfD (Fabian Bimmer/Reuters)

Joerg Meuthen e Tino Chrupalla: liderança da AfD (Fabian Bimmer/Reuters)

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AFP

Publicado em 30 de novembro de 2019 às 17h15.

Última atualização em 30 de novembro de 2019 às 17h52.

O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) elegeu durante um congresso neste sábado uma dupla que deverá agradar a moderados e radicais, cuja influência cresce neste jovem partido.

Reunidos em Brunswick, os cerca de 570 delegados da AfD designaram Tino Chrupalla, 44 anos, deputado da Saxônia, que conta com o apoio da ala mais radical do partido, para suceder o patriarca Alexander Gauland, 78, que desejava passar o bastão.

Os delegados também renovaram na liderança do partido, por dois anos, o eurodeputado Jörg Meuthen, que representa a corrente "moderada", que está em declínio frente aos radicais.

Chrupalla, um pintor de obras originário da antiga Alemanha Oriental, onde a ultradireita encadeou êxitos eleitorais, apresentou-se como um unificador ao convencer a grande maioria dos radicais. Ele insistiu na necessidade de uma direção "com representantes do leste e oeste, graduados e não graduados", para enviar um "sinal histórico" aos eleitores da AfD.

Em Brandeburgo, Saxônia e Turingia, a AfD ganhou mais de 20% dos votos e se tornou a segunda maior força. Por isso, as federações orientais reclamavam um dos dois postos de direção.

Jörg Meuthen, um economista de 58 anos, assinalou que o objetivo do AfD deveria ser se preparar para governar, aproveitando que os grandes partidos, como a CDU, de Angela Merkel, e os social-democratas do SPD, estão, segundo ele, esgotados. "Temos que estar preparados. A Alemanha precisa de nós", insistiu.

Paralelamente ao congresso, cerca de 20.000 manifestantes, segundo os organizadores, reuniram-se no centro de Brunswick para protestar contra a presença da ultradireita.

A AfD, terceira maior força política no Parlamento alemão - atrás de CDU e SPD -, com cerca de 90 deputados, chegou ao Parlamento pela primeira vez em 2017, ancorada na insatisfação de uma parcela dos alemães com os partidos tradicionais e o governo Merkel, no poder desde 2005.

Seu crescimento que outrora assustou, contudo, está estancado em nível nacional, com a legenda tendo de 13% a 15% das intenções de voto. A AfD como um partido contrário ao euro, mas, com o tempo, tornou-se uma força contrária aos imigrantes e a Merkel, rejeitando a política da chanceler de abrir as fronteiras em 2015 e 2016, quando o país acolheu 1 milhão de solicitantes de asilo.

Enquanto isso, na centro-esquerda

O fim de semana foi de eleições internas também no SPD, partido social-democrata alemão e de centro-esquerda.

Foi eleita para comandar o partido uma dupla que é crítica à coalizão que o SPD faz desde 2005 com a premiê Angela Merkel, de centro-direita. Os eleitores para comandar o SPD foram os até então pouco conhecidos Saskia Esken e Norbert Walter-Borjans, da ala mais progressista do partido.

A dupla venceu o "candidato de Merkel", Olaf Scholz, que era visto como uma opção de continuidade. Ex-prefeito de Hamburgo e parte do governo Merkel como ministro das Finanças, Scholz carece de carisma, segundo seus críticos.

Merkel, que é do partido democrata-cristão CDU, está no que deve ser seu último mandato. Ela afirmou que espera concluir sua legislatura em 2021 e depois retirar-se da política. Até agora, ela se manteve no poder não só com os votos de seu partido, mas com uma ampla coalizão que inclui o CSU, também de centro-direita e visto como um "partido irmão" do CDU, e o SPD (os social-democratas só não ficaram no governo Merkel entre 2011 e 2013).

Nos últimos anos, a social-democracia do SPD sangra: sem conseguir se distanciar da centro-direita de Merkel rumo a uma candidatura própria, o partido perdeu eleitores para o Partido Verde, mais à esquerda, e passou a ser visto como “moderado demais”.

Os dois novos dirigentes eleitos hoje querem principalmente mais investimentos do governo Merkel, pedindo até 1 bilhão de euros em favor do clima e em infraestrutura, além de um aumento do salário mínimo.

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