Foram registradas 5.282 mortes por "resistência à autoridade", a maior parte composta por homicídios cometidos pelas forças de segurança do Estado (Pilar Olivares/Reuters)
EFE
Publicado em 27 de dezembro de 2019 às 18h15.
Última atualização em 27 de dezembro de 2019 às 19h00.
São Paulo - Pelo menos 16.506 mortes violentas foram registradas neste ano na Venezuela, segundo a ONG Observatório Venezuelano da Violência (OVV), que calculou 60,3 homicídios a cada 100 mil habitantes, uma taxa 21 pontos percentuais menor que a de 2018, embora ainda seja a mais alta da América Latina.
O observatório, que informa anualmente sobre a situação da violência junto com oito das principais universidades do país, explicou que, apesar de os homicídios terem caído pelo terceiro ano consecutivo, a Venezuela continua sendo a nação "mais violenta" da América Latina e "talvez" do mundo.
Segundo um dos coordenadores regionais do OVV, Carlos Mélendez, o estado menos violento do país, Mérida (oeste), com uma taxa de 31 homicídios por 100 mil habitantes, continua a superar em violência países como Colômbia e México, que registram taxas de 25 e 29 mortes violentas, respectivamente.
A queda na taxa de homicídios é atribuída pela ONG à crise humanitária do país, à destruição generalizada da atividade econômica, ao aumento do controle territorial por parte do crime organizado, à emigração de criminosos e à redução de pessoas em espaços públicos.
Entre as mais de 16 mil mortes violentas "há 6.588 homicídios cometidos por criminosos, com uma taxa de 24 vítimas por 100 mil habitantes".
Epidemia de violência policial
Foram registradas 5.282 mortes por "resistência à autoridade, a maior parte composta por homicídios cometidos pelas forças de segurança do Estado, pelo uso excessivo da força ou por execuções extrajudiciais", sempre de acordo com dados do OVV.
A taxa de violência policial é o dobro do limiar estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de 19 por 100 mil habitantes. Em 18 das 24 entidades federais do país há uma "epidemia de violência policial", disse o diretor do observatório, Roberto Briceño León.
Segundo ele, depois que a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, apresentou seu primeiro relatório sobre a situação na Venezuela em julho e denunciou execuções extrajudiciais, 2.698 pessoas morreram no país como resultado de uma ação policial letal.
"Cem vítimas por semana", frisou.
Apesar disso, o número de mortes devido à resistência à autoridade é inferior ao registrado no ano passado, quando foram contabilizadas 7.523.
Os mais de 16 mil homicídios também incluem "4.622 mortes de intenção indeterminada registradas oficialmente como inquéritos de morte, mas que também são, em sua maioria, homicídios".
"É difícil para nós dizer que os números são precisos. De qualquer forma, os números são maiores, e não menores", alertou Briceño León.
O relatório do OVV se baseia em registros obtidos por um observatório de imprensa, inquéritos e "números não oficiais" que foram "levantados pelo Ministério do Interior".
O estudo também destaca a taxa de suicídio que, segundo León, aumentou nos últimos três anos, situando-se entre nove e dez por 100 mil habitantes. Os suicídios também estão relacionados com as condições de vida no país.
"Nunca atingimos uma taxa de suicídio como a que temos hoje", disse o diretor.
A ONG também relatou a incidência de crime e violência nas atividades dos comerciantes e produtores, que tiveram que reduzir viagens, mudar a rotina e até criar "grupos de autoproteção" ou fazer pactos com grupos criminosos para poderem circular pelas estradas do país.