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Movimento MAGA, de Trump, volta a Washington mais diverso e sem oposição nas ruas

Apoiadores do presidente celebram início do governo Trump e esperam que ele combata a inflação

Apoiadores de Trump perto do Congresso no dia da posse, em Washington (Jim Vondruska/AFP)

Apoiadores de Trump perto do Congresso no dia da posse, em Washington (Jim Vondruska/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 25 de janeiro de 2025 às 06h07.

Última atualização em 25 de janeiro de 2025 às 12h08.

Washington — O boné vermelho com a frase "Make America Great Again" esteve em muitas cabeças em Washington nos últimos dias. Milhares de apoiadores de Donald Trump vieram para a capital americana celebrar sua posse como presidente e, na prática, ver seu movimento voltar a comandar o país mais rico do mundo.

Os seguidores de Trump foram protagonistas nas últimas três transições de poder nos EUA. Em 2017, eles encheram as ruas de Washington para celebrar a vitória republicana, mas tiveram de encarar protestos contrários. Quatro anos depois, em 2021, parte dos apoiadores dele invadiram o Congresso, para tentar impedir que a derrota de Trump nas urnas fosse confirmada. Depois disso, centenas de pessoas envolvidas no caso foram presas e processadas, e os bonés vermelhos ficaram mais raros de se ver na cidade.

Nos últimos dias, no entanto, o inimigo era apenas o frio. Houve poucos protestos contra Trump durante a posse, e os apoiadores, muitos deles com toucas ou bonés vermelhos, encheram a cidade e fizeram filas em eventos com presença confirmada do novo presidente para tentar vê-lo. A reportagem da EXAME conversou com vários deles em diversas ocasiões e viu perfis bastante variados. Havia jovens, adultos, idosos, homens e mulheres, vindos de vários estados do país, inclusive de bastiões democratas, como Nova York e Califórnia. E também americanos de origem imigrante, como Brasil e Índia, que apoiam Trump.

Do lado de fora do Capitol One Arena, onde ocorreram eventos da posse, Gabriela, vinda de Los Angeles, estava enrolada em uma bandeira de Trump, além de vestir touca e blusa em homenagens ao presidente. "Apoio ele porque precisamos de um presidente de verdade. Hoje em dia não temos um", disse ela, que tem origem latina.

A fila tinha apoiadores que, embora vivendo nos EUA há décadas, mostravam símbolos de outros países. Corina, que vive em Nova York há 30 anos, levava uma bandeira do Brasil. "Vim porque a esperança do mundo está aqui hoje", disse.

Apoiadores de Trump em fila para evento da posse, em Washington, no domingo (Christopher Furlong/AFP)

"Ele vai ajudar a recuperar a economia, que está ruim. Nossa indústria está enfraquecida, e com ele as coisas serão grandes de novo", disse Balvin, um senhor que nasceu em Punjab, na Índia, vive no estado da Virgínia e estava vestido com um turbante laranja.

Christian, 58, um morador de Nova York que esperava na fila preferencial, disse que votou nele principalmente pela esperança de que a inflação baixe. “Quero que Trump repita o sucesso de seu primeiro mandato na economia, e controle a imigração irregular. Eu vim das Filipinas há 42 anos, mas de forma legal", afirmou.

A expectativa de melhora na economia era comum nas conversas. Embora o país esteja com desemprego baixo e PIB com crescimento esperado em quase 3%, a inflação ainda acima dos 2% ao ano trouxe a sensação de que a vida ficou mais difícil.

"Queria comprar uma casa, mas em Arlington, onde moro hoje, não consigo pagar, mesmo fazendo horas extras", diz Mengesha, que veio da Etiópia em 2019 e trabalha como atendente de companhia aérea e motorista. Na cidade, vizinha a Washington, o preço médio dos anúncios de casas passou de US$ 559 mil em janeiro de 2022 para US$ 702 mil em dezembro de 2024, uma alta de US$ 142 mil em três anos, de acordo com o site Realtor. "Espero que Trump ajude a melhorar as coisas e baixar os preços."

Volta a um passado bom

A ideia por trás do slogan, Faça a América Grande de Novo, é simples e potente. Basicamente, traz a promessa de melhorar as coisas no país e devolver os EUA a um passado nem tão distante, onde tudo parecia mais fácil. O caminho proposto para isso passa por soluções que parecem simples: expulsar imigrantes, reduzir o tamanho do governo e tomar decisões que façam os Estados Unidos ganharem mais vantagens frente aos outros países.

O movimento traz ainda uma defesa de valores ditos tradicionais, como a valorização da força masculina, o combate ao aborto e a defesa de um modelo de família formado por homem e mulher.

Este conjunto de ideias ajudou Trump a atrair e manter uma base fiel de eleitores há quase uma década, desde as eleições de 2016. Apesar da derrota em 2020, das dezenas de processos na Justiça contra eles e das prisões pelo 6 de janeiro, milhares de pessoas mantiveram o apoio. O presidente diz que as dezenas de processos contra ele eram uma armação de seus adversários. Após ele vencer a eleição, os casos foram anulados, pois presidentes dos EUA têm direito a imunidade em diversas situações.

O tiro contra Trump, durante um comício em julho de 2024, reforçou o apoio a ele. Cenas de Trump erguendo o punho enquanto era retirado do palco ainda ensanguentado viraram pôsteres e estampa de camisetas, vendidas na posse. Os processos na Justiça também foram parar em camisetas, como ironia. "Eu votei nos fugitivos", dizia uma delas, vendida ao lado de outra com a frase "Jesus é meu salvador, Trump é meu presidente".

Produtos sobre Trump à venda em Washington, antes da posse (Christopher Furlong/AFP)

Clima de campanha eterno

Uma das formas de manter a base mobilizada é a manutenção da energia de campanha, mesmo após as eleições.

Após tomar posse, Trump fez um discurso em uma arena esportiva lotada, no mesmo clima dos comícios de eleitoral. É quase como um ritual. Trump entra em cena ao som de "God Bless the USA", dá deixas para que a plateia complete suas frases e, muitas vezes, dança "Y.M.C.A", do Village People, mexendo os braços. O grupo se apresentou em dois eventos paralelos da posse, e Trump dançou ao lado deles.

Em eventos, a plateia aplaudiu de forma mais intensa quando Trump mencionou medidas contra a imigração e contra políticas de inclusão e de combate ao preconceito. O novo presidente ressaltou sua visão de que só existem dois gêneros, homem e mulher, por exemplo, e determinou que o governo americano encerre programas para ampliar a presença de pessoas LGBT e não-brancas nas carreiras públicas. Ele disse que a medida visa defender a meritocracia.

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"A base trumpista continua bastante energizada. Geralmente, discursos de posse são mais conciliadores. Mas Trump continua falando bastante dos temas que são relevantes para sua base de apoio e, em vários momentos, bastante populista", diz Mauricio Moura, professor da Universidade George Washington.

Moura vê o futuro do movimento MAGA atrelado à popularidade de Trump como governante.

"Quanto mais popular for seu mandato, maior a chance de que seu eventual substituto venha deste movimento", diz. "Caso contrário, outras alas republicanas, hoje coadjuvantes, poderão se tornar protagonistas."

Uma das grandes questões dos próximos quatro anos, afinal, será se o trumpismo seguirá forte depois que Trump não puder mais ser presidente — ele não poderá disputar a reeleição em 2028 pois já conquistou dois mandatos.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)

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