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Quarentenas e confinamentos contra ebola são questionados

A eficácia das medidas coercitivas na luta contra a epidemia de ebola nos países da África ocidental provoca debates


	Membro dos Médicos Sem Fronteiras trata um paciente sofrendo de ebola
 (Christopher Black/AFP)

Membro dos Médicos Sem Fronteiras trata um paciente sofrendo de ebola (Christopher Black/AFP)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2014 às 13h38.

Paris - A eficácia das medidas coercitivas na luta contra a epidemia de ebola nos países da África ocidental provoca debates, na véspera da decisão de confinar a população em Serra Leoa.

As autoridades de Freetown ordenaram que os seis milhões de habitantes do país permaneçam em casa durante três dias, de 19 a 21 de setembro, para facilitar a detecção dos doentes mantidos ocultos por seus familiares.

A medida coincide com uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para examinar uma proposta de resolução dos Estados Unidos em resposta ao vírus.

Serra Leoa é um dos três países mais afetados pelo vírus do ebola, junto com Libéria e Guiné.

Mas os países afetados ou seus vizinhos já haviam tomado outras medidas extraordinárias, como a imposição de toques de recolher, de quarentenas em bairros ou o fechamento das fronteiras, sem, com isso, conseguir frear o avanço da epidemia que acabou com a vida de 2.500 pessoas sobre um total de 5.000 casos.

Vários médicos, especialistas em assuntos humanitários ou direitos humanos criticaram estas medidas coercitivas gerais, e concordam que é preciso colocar rapidamente em quarentena cada novo doente.

A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), na linha de frente na luta contra esta doença, duvida da eficácia do confinamento em Serra Leoa. Medidas coercitivas em grande escala podem "comprometer a confiança entre a população e os profissionais de saúde".

Para o ex-presidente da MSF (2000-2008) Jean-Hervé Bradol, Serra Leoa carece "dos meios para visitar todas as casas em três dias" e, além disso, muitos habitantes "não têm recursos para permanecer três dias em casa sem sair".

Superlotados

"Há muitos jornaleiros que, se não saírem para trabalhar, não poderão alimentar sua família à noite", explica à AFP este médico que trabalhou para a MSF na África.

O governo de Serra Leoa afirma contar com 20.000 voluntários para ir de porta em porta registrar os novos casos, e promete centros de isolamento adicionais, sobretudo em escolas.

A medida não convence Joe Amon, especialista em temas de saúde para a ONG de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW).

"Detectar os casos de ebola não é fácil e Serra Leoa não tem leitos suficientes para hospitalizar os já identificados", afirma em um comunicado publicado na internet.

Os centros estão superlotados e todos os dias rejeitam doentes, então "o que farão quando os novos doentes forem descobertos?", se pergunta o doutor Bradol.

A colocação em quarentena de bairros ou cidades, como na Libéria, tem certa lógica quando a epidemia está começando para preservar as zonas saudáveis, considera.

Mas atualmente na Libéria (1.296 mortos de um total de 2.407 casos) e em Serra Leoa (562 falecidos de 1.620 casos) a epidemia superou um índice de difusão nas zonas urbanas "que faz com que não tenha sentido isolar um bairro de outro", estima o ex-presidente da MSF.

Também provoca polêmica o fechamento das fronteiras entre os países infectados e seus vizinhos, como fizeram Senegal, Costa do Marfim e Gâmbia.

"O fechamento da fronteira entre Costa do Marfim e Libéria pode ter algum efeito", estima o doutor Bradil, porque reduz os fluxos de população e, consequentemente, os riscos de contágio.

O chefe da missão na Guiné da organização americana CDC (centro de controle e prevenção de doenças), Michael Kinzer, opina, pelo contrário, que "fechar as fronteiras é como fechar os olhos".

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