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Qual o risco de guerra entre Líbano e Israel após as explosões de pagers?

Tensão aumentou nesta quinta-feira, 19, após discurso de líder do Hezbollah e novos ataques israelenses

Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, durante discurso na TV (AFP)

Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, durante discurso na TV (AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 19 de setembro de 2024 às 17h56.

O conflito entre o Hezbollah, baseado no Líbano, e o governo de Israel, se intensificou nos últimos dias, depois que uma ação coordenada explodiu centenas de pagers e rádios de comunicação do grupo, em uma situação que pode evoluir para uma guerra aberta.

As explosões mataram ao menos 37 pessoas e feriram mais de 3.000 libaneses. Na terça, houve uma onda de detonações de pagers, usados por membros do Hezbollah para evitar interceptações. No dia seguinte, rádios walkie-talkie explodiram. A suspeita principal é que agentes de Israel tenham colocado explosivos nos equipamentos, mas o governo do país não assumiu a autoria do ataque.

Nesta quinta, 19, líderes do Hezbollah e de Israel trocaram acusações e ameaças, e líderes de outros países buscam formas de acalmar a situação.

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, fez um discurso na TV e disse que Israel cruzou "todas as linhas vermelhas" com o ataque e que o grupo iria dar uma resposta, mas sem detalhar como ela ocorrerá. "Isso pode ser chamado de crimes de guerra ou declaração de guerra, como você quiser chamar. Essa era a intenção do inimigo", disse.

Enquanto Nasrallah falava na TV, houve novos ataques de Israel ao sul do Líbano e aviões do país sobrevoaram a região e fizeram ataques. Ao menos 30 lançadores de mísseis do Hezbollah foram atingidos, segundo o Exército de Israel.

Israel promete ataques

Israel tem dito que as ações contra o Hezbollah vão continuar e que o conflito está em nova fase. Nesta quinta, Yoav Gallant, ministro de defesa de Israel, prometeu mais ataques.

"Nesta nova fase da guerra há oportunidades significativas mas também riscos significativos. O Hezbollah se sente perseguido. Nossas ações militares vão continuar", disse Gallant, durante entrevista coletiva. "Nossa meta é garantir o retorno seguro das comunidades do norte de Israel para suas casas. Conforme o tempo passa, o Hezbollah vai pagar um preço cada vez mais alto."

O Exército de Israel disse ainda que dois soldados morreram em combate perto da fronteira com o Líbano nesta quinta,19.

Ao mesmo tempo, líderes de outros países buscaram amenizar a crise. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, está em Paris para uma rodada de conversas sobre a crise no Oriente Médio e disse que a França e os Estados Unidos estão trabalhando para buscar formas de reduzir a tensão na região, especialmente em relação ao Líbano.

O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, fez um alerta para que os britânicos que estejam no Líbano deixem o país. "A tensão está alta e a situação poderá se deteriorar rapidamente", disse, em uma rede social.

Por que Israel faz ataques ao Líbano?

Militares de Israel e o Hezbollah vivem um conflito há décadas. Após a invasão de Israel na Faixa de Gaza, há quase um ano, o grupo libanês passou a fazer ataques na região da fronteira entre Israel e Líbano. Isso fez com que mais de 200.000 pessoas tenham deixado suas casas, dos dois lados da fronteira.

Para Michael Young, editor sênior do centro de pesquisas Carnegie Middle East, baseado em Beirute, Israel tem duas opções: tentar ampliar uma zona de cessar-fogo ao redor da fronteira, o que impediria novos ataques na área, ou tentar ocupar partes do sul do Líbano, o que significaria manter uma força de ocupação no país vizinho por tempo indeterminado.

"Como estas opções vão recuperar a estabilidade e segurança no norte de Israel é um mistério. A zona de cessar-fogo na fronteira hoje não tem protegido Israel, e mesmo se as forças de Israel entrarem no Líbano, o Hezbollah pode fazer disparos por cima dela e ainda assim atacar o norte de Israel", aponta.

Young avalia que, no cenário atual, os dois lados parecem ter dúvidas sobre ampliar os ataques, sob o risco de entrarem em uma guerra longa e difícil de ser mantida. Israel mantém uma operação militar que invadiu a faixa de Gaza, e lidar com duas frentes ao mesmo tempo exigiria mais recursos e soldados, o que teria ainda um forte custo político ao governo de Benjamin Netanyahu.

"Apesar da superioridade militar de Israel, o problema é que não há pontos finais para uma guerra com o Hezbollah. Se as forças de Israel avançarem no Líbano, cada colina à frente pode ser um novo local de onde o Hezbollah poderá fazer ataques, justificando tomar aquela colina e empurrando Israel mais fundo em um atoleiro. Em que ponto Netanyahu poderia declarar vitória? Não há", diz Young.

Quem é o Hezbollah?

O Hezbollah é um grupo islâmico xiita, baseado no Líbano e considerado terrorista pelos Estados Unidos, Israel e outros países ocidentais. Ao mesmo tempo, atua na política, como um partido, e disputa eleições desde 1992.

Em 1978, militares de Israel invadiram e ocuparam partes do sul do Líbano, sob alegação de que militantes palestinos estavam abrigados ali. Nos anos seguintes, o Irã apoiou a criação do Hezbollah, um grupo armado para lutar contra a ocupação israelense. Em 2000, as forças israelenses deixaram o Líbano, mas o Hezbollah continuou fazendo ataques a Israel, por defender que o país vizinho estava ocupando irregularmente áreas na região da fronteira.

Em 2006, houve uma nova guerra entre Israel e Líbano, que durou cerca de um mês. O cessar-fogo previa um desarmamento do Hezbollah e a retirada das tropas de Israel. Depois disso, a tensão entre os dois países diminuiu, mas não cessou por completo.

O Hezbollah conseguiu se rearmar e crescer nos anos seguintes e atualmente tem entre 20 mil e 50 mil membros, além de algo entre 120 mil e 200 mil mísseis, segundo dados do think tank CSIS.

A crise entre os dois países voltou a ganhar força depois do ataque do Hamas a Israel, em outubro de 2023. Desde então, o Hezbollah disparou mais de 8.000 mísseis contra Israel, além de ataques com drones explosivos. Boa parte deles foi barrado pelo sistema de defesa israelense, mas ao menos 25 pessoas morreram pelos ataques, segundo o governo israelense. Israel fez ataques de retaliação e matou ao menos 589 pessoas no Líbano desde então, segundo o governo do país.

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