Ernst Ligteringen discursa no World Economic Forum: As informações contidas nesses relatórios podem auxiliar governos em busca de formas de medir seu progresso (World Economic Forum/Edgar Cataño)
Da Redação
Publicado em 6 de julho de 2012 às 18h12.
São Paulo - Hoje, mais de 60 países seguem as diretrizes de desenvolvimento de relatórios de sustentabilidade estabelecidas pela Global Reporting Initiative (GRI). Em entrevista exclusiva, Ernst Ligteringen, presidente dessa instituição global, fala sobre a importância de se contar – cada vez mais – com esses relatórios, rumo ao desenvolvimento sustentável, e também sobre o destaque que os relatórios de sustentabilidade receberam na Rio+20
Criada em 1997, a Global Reporting Initiative (GRI) é uma instituição global independente e sem fins lucrativos, responsável pela criação de uma estrutura mundialmente aceita para medir o desempenho sustentável de empresas, repartições públicas, ONGs e outras organizações. Hoje, mais de 60 países seguem suas diretrizes de desenvolvimento. A conquista de tanta credibilidade internacional se deve à consulta de acionistas e à busca de consenso entre empresas, sociedade civil, trabalhadores, economistas, acadêmicos e governos em suas deliberações. Trata-se da maior referência mundial nesse campo.
Mas para que serve tanto relatório? De Amsterdã, Ernst Ligteringen, presidente da GRI, falou sobre a relevância, os critérios e o poder de mudança dos relatórios de sustentabilidade no mundo de hoje, em entrevista exclusiva ao Planeta Sustentável.
Qual a relevância dos relatórios de sustentabilidade e que efeito eles têm sobre a sociedade?
Ernst Ligteringen: Desenvolver relatórios de sustentabilidade é um processo que envolve identificação, mensuração e divulgação do desempenho sustentável, e estas informações podem ser publicadas periodicamente em forma de relatórios. Estes permitem às empresas fazer três coisas:
- desenvolver uma estratégia de gestão voltada para o futuro, baseada em informações consistentes sobre os impactos positivos e negativos da sustentabilidade, tanto causados pela empresa como por fatores externos, tais como alterações climáticas ou questões de direitos humanos;
- melhorar o diálogo entre os acionistas, o que auxilia as empresas a identificar riscos e oportunidades ligados à sustentabilidade; e
- ajudar a mudar a mentalidade, buscando o que faz sentido para os negócios em um mundo dinâmico, onde importa não somente o âmbito financeiro, mas também o econômico, o social e o ambiental.
Os relatórios de sustentabilidade representam, portanto, o interesse público, pois criam uma mentalidade de desenvolvimento sustentável entre os principais agentes de mudança, tais como os negócios. Eles também impulsionam maior transparência nos impactos críticos e relevantes de natureza ambiental, social e econômica.
Ao fornecer informações que o mercado utiliza para tomar decisões mais esclarecidas, os relatórios de sustentabilidade podem ajudar a torna-lo mais eficiente e eficaz em seu papel de criador de valores sustentáveis. As informações contidas nesses relatórios também podem auxiliar governos em busca de formas de medir seu progresso rumo ao desenvolvimento sustentável.
E, por fim, eles nos dizem das decisões dos acionistas em relação à empresa, incluindo funcionários, a sociedade civil e os consumidores. Por exemplo, em 2009, 75% da força de trabalho americana via responsabilidade social e compromisso ambiental como critérios importantes na escolha dos empregadores.
Como os critérios dos relatórios têm evoluído, em retrospecto, e onde se encontram nossos prognósticos?
Ernst Ligteringen: O desenvolvimento dos relatórios evoluiu de uma prática experimental, em finais dos anos 90, para o padrão estabelecido nas maiores empresas do mundo, hoje. Dentro do G250 - as 250 maiores empresa do mundo -95% dos membros agora desenvolvem relatórios de sustentabilidade. No Brasil, 88 das 100 maiores empresas o fazem e estima-se que cerca de 6 mil empresas em todo o mundo o façam também. Os investidores exigem cada vez mais informações sobre o desempenho sustentável das empresas. E as empresas de pesquisa de mercado, como a Bloomberg, oferecem, hoje, dados sobre sustentabilidade para mais de 4 mil interessados em seus 300 mil terminais.
Os reguladores também estão se tornando mais ativos. Alguns governos, como o da França, tornaram os relatórios de sustentabilidade obrigatórios, e bolsas de valores também se mobilizaram.
A Bolsa de Johannesburg exige que as empresas desenvolvam um relatório integrado ou expliquem porque não o fazem.
Além disso, as diretrizes para os relatórios de sustentabilidade da GRI são amplamente utilizadas ao redor do mundo e referenciam importantes normas e convenções internacionais, tais como o Protocolo GHG e as convenções da ILO - International Labor Organization. A GRI também é recomendada às Comunicações de Progresso dos signatários do Global Compact, da ONU. Com essa crescente demanda, bem como a crescente compreensão de questões de sustentabilidade entre as empresas e seus acionistas, as exigências de diretrizes como as da GRI também estão mudando. É por isso que estão desenvolvendo a nova geração de relatórios: a G4.
A G4 vai ajudar a encorpar o desempenho dos relatórios de sustentabilidade, adotando o mesmo rigor que os vistos nos relatórios financeiros. Ao mesmo tempo, vai ajudar as empresas a realmente focar no que é importante, oferecendo orientação clara e apoio material. Muitos dos temas abordados nas diretrizes da GRI serão atualizados. E as empresas que estão desenvolvendo seus relatórios de sustentabilidade vão reconhecer vários itens na G4, além de melhorias que lhes permitam criar relatórios melhores e mais focados.
Que mudanças a Rio+20 e a GRI podem promover?
Ernst Ligteringen: Em fevereiro, o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, clamou por uma política para que as empresas relatem seu desempenho sustentável ou expliquem porque não o fazem. A Rio+20 ofereceu uma oportunidade sem precedentes para a comunidade global apoiar o princípio de que a transparência corporativa é o pilar do desenvolvimento sustentável. A GRI trabalhou bem próximo a Estados membros e outros grupos, durante a conferência, para promover e explicar a abordagem da política de relatórios de sustentabilidade, além de encorajar os governos a se comprometerem com medidas concretas nos relatórios.
No dia 18/06, durante a Rio+20, diversos grupos chegaram a um acordo sobre o parágrafo 47 do documento final - "O Futuro que Queremos" -, que ressalta a importância dos relatórios de sustentabilidade corporativa. Este tema foi discutido em um grau de detalhamento sem precedentes, até agora, destacando a importância que todos os participantes da conferência associam à sustentabilidade e à transparência nos negócios e na indústria.
Independentemente do resultado final da Rio+20, não há nada que impeça reguladores individuais de agirem em favor de uma maior transparência. O governo dinamarquês e a BM&F Bovespa já colocaram em prática seus relatórios e uma explicação política com fundamentos e orientações para as empresas. A GRI encoraja outros governos e bolsas de valores a se amparar no trabalho desses pioneiros e ajudar a fazer dos relatórios uma prática padrão.