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Quais são semelhanças e diferenças entre crises da Nicarágua e Venezuela

País governado por Nicolás Maduro também viveu recentemente violentas manifestações nas ruas que exigiam a saída do presidente do poder

Nicarágua: assim como a Venezuela, o país experimenta crescente isolamento internacional (Marvin RECINOS/AFP)

Nicarágua: assim como a Venezuela, o país experimenta crescente isolamento internacional (Marvin RECINOS/AFP)

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AFP

Publicado em 19 de julho de 2018 às 16h46.

Última atualização em 19 de julho de 2018 às 16h46.

Manágua - A grave crise da Nicarágua traz à memória o conflito na Venezuela, que também viveu recentemente violentas manifestações nas ruas.

A seguir, algumas semelhanças e diferenças entre as crises dos respectivos países:

Semelhanças

1. Controle político:

Os dois protestos, que explodiram em um mês de abril, exigem a saída do poder dos presidentes de esquerda Nicolás Maduro (Venezuela) e Daniel Ortega (Nicarágua), por renúncia, ou antecipação das eleições. E os dois governos adotaram a mesma estratégia.

"Tiram do jogo os líderes e partidos de oposição, mas não em uma disputa eleitoral, e sim com sentenças do poder judicial e eleitoral, espúrias e ilegais. Assim fez Ortega nas eleições de 2016, e Maduro o copiou em 2018", disse à AFP o analista político venezuelano Luis Salamanca.

Juan Felipe Celia, do think tank Atlantic Council (Washington), assinala que os dois presidentes, além disso, "censuram os meios de comunicação e consolidaram o poder eliminando os contrapesos".

2. Repressão dos protestos:

A Nicarágua tem as chamadas "hordas sandinistas" e grupos civis fortemente armados; a Venezuela, os conhecidos popularmente como "coletivos". "Usam paramilitares ligados ao governo para enfrentar os manifestantes", destaca o analista venezuelano Mariano de Alba.

"Supostamente agem por conta própria, mas, apesar de seu carácter civil, fazem parte dos aparelhos de segurança do governo para agredir e intimidar opositores", comentou o analista Diego Moya-Ocampos, do IHS Markit (Londres), em conversa com a AFP.

"Mas o governo nicaraguense extrapolou, foi muito mais letal", destacou Salamanca.

Na Venezuela, foram quatro meses de protestos e 125 mortos; na Nicarágua, mais de 280 mortos em três meses.

O representante da Nicarágua na OEA, Denis Moncada Colindres, fala na sede do organismo em Washington, DC, em 18 de julho de 2018

3. Retórica do conflito:

Em ambos os países, os opositores apontam Maduro e Ortega como tendo estabelecido uma ditadura, marcada pela corrupção e pelo controle dos poderes do Estado, especialmente o Judiciário e o Eleitoral.

O governo nicaraguense acusa os manifestantes de "terroristas" e "golpistas de direita" financiados pelos Estados Unidos, como aconteceu na Venezuela, aponta Alba.

"O roteiro perfeito, que hoje eles estão aplicando na Nicarágua", sustenta Maduro, denunciando uma campanha para mostrar os dois países "no caos" e à beira da "guerra civil".

4. Negociação:

O sociólogo nicaraguense Oscar Vargas acredita que, como fez Maduro, Ortega busca oxigênio na negociação, enquanto aposta no "atrito e divisão do movimento de oposição", em uma "venezuelanização do conflito".

Ambos, concorda Alba, usam o "diálogo para ganhar tempo e baixar a pressão interna". "A solução depende em grande parte do colapso da coalizão oficial e do apoio militar", acrescentou.

A Igreja Católica participou dessas conversas.

5. Pressão internacional:

Ambos os governos também experimentam um crescente isolamento internacional, com os Estados Unidos aplicando sanções.

"A situação na Nicarágua não recebeu, porém, tanta atenção quanto a da Venezuela", aponta Alba, embora a Organização dos Estados Americanos (OEA) tenha dedicado várias sessões à crise.

Diferenças

1. Economia:

A Venezuela vive uma crise severa, mas o governo controla a renda do petróleo (96% de seus ingressos). "Ortega depende do setor empresarial e dos nicaraguenses para que a economia funcione", indica Alba.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, saúda seu colega de Cuba, Miguel Díaz-Canel, no XXIV encontro do Foro de São Paulo em Havana, em 17 de julho de 2018

"A Nicarágua é uma economia frágil e muito fraca e chegará à beira da quebra, se a crise não for resolvida no curto prazo", opina a analista nicaraguense Elvira Cuadra.

O Banco Central reduziu a projeção de crescimento para este ano de 4,9% para 1%, e mais de 200 mil empregos foram perdidos.

2. Peso político:

Para Cuadra, outra diferença é o peso regional de cada país. Com a petrodiplomacia do falecido Hugo Chávez (1999-2013), a Venezuela conquistou lealdades em países do continente, e alguns permanecem fiéis.

"O sistema interamericano levou mais tempo para inclinar a balança contra o governo venezuelano do que contra o governo nicaraguense, que ultrapassou todos os limites", acrescentou.

3. Forças Armadas:

As Forças Armadas da Nicarágua proclamaram sua não deliberação e apoio ao diálogo. "São mais institucionais, enquanto as da Venezuela são altamente politizadas", comenta Moya-Ocampos.

O Exército venezuelano se declara leal, chavista e socialista. "Maduro continua a ter o apoio da força militar. Na Nicarágua, as principais forças repressivas têm sido grupos civis armados pró-Ortega", explica Celia.

4. Movimento opositor:

Na Nicarágua, os protestos são liderados pela Aliança Cívica pela Justiça e Democracia, que reúne estudantes, empresários, camponeses e outros grupos da sociedade civil.

A maioria dos manifestantes é jovem, como na Venezuela, segundo Celia. Mas o movimento nicaraguense não tem uma liderança partidária.

Na Venezuela, os protestos foram convocados pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), uma aliança de partidos com aspirações particulares, que está profundamente dividida e não conseguiu se conectar com os setores populares.

5. Bloco de apoio:

O analista nicaraguense Mauricio Díaz vê "confusão" na Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e assinala que "os quadros históricos não definem claramente suas lealdades".

"Os sandinistas não são totalmente coesos em torno de Ortega, e vários acham que deve haver uma mudança. Já o madurismo sofreu perdas importantes, mas a coalizão governante permaneceu unida durante a crise", disse Alba.

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