Donald Trump, presidente eleito dos EUA (Ting Shen/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 19 de janeiro de 2025 às 08h00.
Desde que venceu a eleição, Donald Trump tem ressaltado medidas em duas áreas principais: aumento de tarifas comerciais e deportação de imigrantes. O racional é simples. Nos dois temas, o presidente tem poder para tomar medidas imediatas por conta própria, sem depender do Congresso e com menor risco de haver questionamentos na Justiça.
"As políticas tarifárias e de imigração são as mais relevantes para a economia global. Se ele avançar no que promete, haverá mais inflação americana, menos crescimento na China, e isso terá reflexos nos mercados emegentes, como o Brasil", diz Christopher Garman, diretor para as Américas na consultoria Eurasia.
Trump faz da imposição de tarifas a outros países um dos cernes de sua política. É uma arma que ele pode usar livremente, embora não sem consequências.
"O presidente pode ditar alíquotas, quais países e produtos serão afetados e como e quando impô-las, sem precisar de aprovação do Congresso, apoio público ou revisão judicial", afirma Adam Looney, pesquisador da Brookings, em um artigo recente.
Para Trump, as barreiras podem favorecer empresas americanas, ao tornar produtos do exterior mais caros. E são uma moeda de troca: se o outro país adotar tal medida, as taxas podem ser retiradas ou nem mesmo implantadas.
A realidade, como sempre, é mais complexa. Empresas americanas se acostumaram a fabricar seus produtos no exterior, justamente em países como México e China — os alvos favoritos de Trump — para baixar custos. O gasto com as tarifas extras será repassado ao valor dos produtos, que ficarão mais caros para os consumidores americanos, apontam analistas.
Além disso, a menor competição com produtos estrangeiros pode fazer com que os fabricantes locais possam cobrar mais caro e gerar mais pressão sobre os preços.
A esperada inflação em alta faria uma roda girar: para conter a subida de preços o Fed teria de elevar, ou reduzir o ritmo de cortes da taxa de juros americana.
"No primeiro trimestre, é muito provável que os juros continuem nos patamares atuais e passem a cair mais para o meio do ano. Mas a magnitude desses cortes ainda é uma questão obscura", diz Paula Zogbi, gerente de research da Nomad.
Juros mais altos nos Estados Unidos atraem mais dinheiro ao país, o que valoriza o dólar e enfraquece moedas estrangeiras, como o real. O dólar superou 6 reais semanas após a vitória de Trump.
Estudos apontam ainda que o aumento das tarifas deve gerar mais impostos, mas podem cortar empregos e encolher o PIB. Um levantamento da Tax Foundation aponta que tarifas de 25% sobre todas as importações do Canadá e do México, além de 10% de tarifas adicionais sobre a China devem gerar 1,2 trilhão de dólares em taxas de 2025 a 2034. No entanto, elas reduziriam o PIB em 0,4% e cortariam 344.000 empregos americanos.
Isso sem contar os efeitos de retaliações que os países poderão tomar. Canadá, México e China compraram mais de 800 bilhões de dólares em produtos americanos em 2022, e poderão subir tarifas sobre eles ou apenas decidir comprar de outros países.
Um exemplo: a Seção 301, norma tributária que dita regras sobre tarifas, foi turbinada a partir do primeiro mandato de Trump e mantida por Joe Biden, e afetou um fluxo de comércio de 79 bilhões de dólares em mercadorias desde 2018. A China respondeu, e sobretaxou um fluxo comercial de produtos americanos de 106 bilhões de dólares no período.
Já o Canadá tem falado em reduzir o fornecimento de energia e petróleo aos americanos caso as ameaças de Trump sejam efetivadas.