Donald Trump (Sean Gallup/Getty Images)
Alexa Meirelles
Publicado em 22 de julho de 2017 às 06h00.
Última atualização em 22 de julho de 2017 às 06h00.
São Paulo – Completando o primeiro semestre de mandato, Donald Trump devolveu a Casa Branca aos republicanos. Dono de uma política protecionista e de um orgulho nacionalista americano, o presidente dos Estados Unidos tem feito uma gestão que mescla vitórias, derrotas e desafios.
Neste pouco tempo de mandato, Trump parece estar isolando os EUA do resto do mundo. Na última reunião da cúpula do G20 em Hamburgo, na Alemanha, o presidente americano esteve afastado do restante dos líderes – inclusive na foto oficial do evento, na qual ficou na ponta esquerda, longe do centro uma vez ocupado por seu predecessor, o democrata Barack Obama.
Sua postura protecionista – um de seus maiores pontos de choque com outras potências mundiais – apresentou-se na cúpula em dois momentos. Primeiro, quando o republicano não reafirmou compromisso com o acordo climático de Paris, como já havia adiantado em maio deste ano.
Depois, assinou a contragosto o texto de compromisso pelo livre comércio. Isso, contudo, não aconteceu antes da inclusão de um adendo controverso: todos os países podem recorrer a instrumentos de defesa comercial para se proteger de “práticas injustas”.
Assim, em meio a algumas concessões e certos impasses, o presidente vem tentando cumprir o lema que encabeçou sua campanha eleitoral: “América em primeiro lugar”. Na visão de analistas, apesar de percalços enfrentados por Trump, há de se considerar que o que o republicano vem fazendo é inédito.
"Pela primeira vez desde 1940, o executivo-chefe dos Estados Unidos está repensando o apoio incondicional dos americanos à ordem internacional liberal. Há dois anos, ninguém sonhava que esta seria a mensagem da Casa Branca", diz Danilo Petranovich, doutor em Ciência Política e ex-professor da Universidade de Yale.
Antes da saída do acordo de Paris em maio, Donald Trump iniciou seu mandato cumprindo uma de principais promessas de campanha ao retirar os Estados Unidos do Tratado de Associação Transpacífico (TPP, na sigla em inglês).
A partir daí, o presidente seguiu avançando em outra proposta polêmica: o bloqueio imigratório para cidadãos de seis países cuja maioria da população é muçulmana (Síria, Sudão, Somália, Líbia, Irã e Iêmen).
Em meio à opiniões controversas, o decreto que antes havia sido derrubado pela Justiça entrou parcialmente em vigor às 21h do último dia 29. Pelos próximos 120 dias, está suspensa a entrada de refugiados nos EUA, e durante 90 dias, também está suspensa a entrada de cidadãos daqueles seis países.
Outro momento importante para o presidente foi a revisão de um dos acordos mais importantes firmados pelo ex-presidente democrata Barack Obama e que reaproximava Cuba de Washington, sob a justificativa de que estabelecerá outro que traga “mais vantagens” aos EUA. Mas isso só acontecerá desde que a ilha realize eleições livres e coloque em liberdade os presos políticos.
Trump ainda persiste em construir um muro de 3,5 mil quilômetros na fronteira com território mexicano. Ele, inclusive, repetiu diversas vezes que o México deverá arcar com esses gastos. Nesse ponto específico, Petranovich vê como possível o sucesso do republicano, visto que o controle de fronteira é um tema popular entre os eleitores americanos.
A eleição do magnata foi uma grande surpresa para o establishment de Washington e o eleitorado, já que as pesquisas de opinião conduzidas durante a corrida eleitoral sempre mostravam cenários apertados, mas jamais cravaram que ele venceria. No entanto, Petranovich lembra que a vitória o consolidou como "representante de uma classe média americana irritada".
Para Fernanda Magnotta, coordenadora do curso de Relações Internacionais da FAAP, algumas das atitudes do presidente têm se mostrado prejudiciais para sua imagem - como a saída do Acordo de Paris, um documento cuja assinatura pelos EUA foi bem aceita pelos americanos.
Apesar da aparente aversão pela diplomacia e mesmo pela globalização, o republicano hoje tem a maioria nas duas casas do Congresso americano. Contudo, há de se levar em conta o fato de que o partido republicano é heterogêneo e possui diversas lideranças.
Exemplo disso foi a mais recente derrota do presidente, que aconteceu exatamente na semana em que Trump completava um semestre de mandato: o fracasso da aprovação da lei que substituiria o Obamacare. E isso aconteceu depois que dois senadores republicanos votaram contra.
Para Magnotta, o principal desafio do presidente hoje é mobilizar os grupos mais influentes e capitalizá-los na agenda que quer realizar. “O Trump eleito estabeleceu um pacto com o eleitorado, mas uma boa parte dessas medidas não são convergentes com a base de seu partido”, nota ela.
Agora, cabe ao partido analisar o impacto que a sua gestão trará a longo prazo. Um bom momento para o balanço serão as ‘midterm elections’, no qual parte do congresso americano será renovado.
Desta forma, se os republicanos perderem um número significativo de cadeiras, e isto for interpretado como um “efeito Trump”, o presidente enfrentará inimizades no próprio partido. Agora, se seguirem com a maioria, a pré-disposição para apoiá-lo tomará força.
Mas nada disso acontecerá da noite pro dia, ainda mais quando se lembra do índice de reprovação histórico enfrentado pelo presidente. Segundo o jornal The Washington Post, o nível de aprovação do republicano caiu 42% ao longo de seis meses de mandato. Cerca de 48% da população desaprova fortemente a gestão de Trump, número antes alcançado apenas pelo ex-presidente George W. Bush durante o seu segundo mandato.