Cardeal Pietro Parolin: secretário de Estado e segundo no comando durante o pontificado de Francisco (Simone Risoluti/Vatican Media via Vatican Pool/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 30 de abril de 2025 às 14h06.
Última atualização em 30 de abril de 2025 às 14h09.
Nos dias que antecederam o conclave de 2013, o grande favorito era o cardeal italiano Angelo Scola, arcebispo de Milão, na Itália. Mas Scola, que entrou no encontro quase como Papa, continuou como cardeal. O eleito naquele conclave foi um arcebispo desconhecido de Buenos Aires, na Argentina, chamado Jorge Mario Bergoglio, que escolheu o nome Francisco para seu pontificado.
Agora, faltando uma semana e um dia para o início do conclave que elegerá o sucessor de Francisco, que morreu no último dia 21, os jornais italianos também não têm dúvidas de que o grande papável é um italiano: o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado e segundo no comando durante o pontificado de Francisco. Mas ele poderia, como Scola, entrar no conclave quase como Papa e sair como cardeal?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Além da lealdade que sempre demonstrou ao Papa Francisco, Parolin também tem suas fragilidades, que vão além da pressão que reina nas reuniões pré-conclave para que, depois de 47 anos, haja novamente um Papa italiano. O último foi João Paulo I, o Papa de 33 dias, em 1978, seguido pelo polonês João Paulo II (1978 - 2005), o alemão Bento XVI (2005 - 2013) e o argentino Francisco (2013 - 2025).
Mas comecemos pelos muitos pontos a favor de Parolin: ele é um cardeal muito gentil e moderado, um diplomata habilidoso, que muitos acreditam que acalmaria as coisas depois de um papado internamente tenso, considerado por alguns como muito aberto, informal e perturbador.
Todos os analistas concordam que o cardeal de origem veneziana entrará na votação com uma posição privilegiada e um bom número de votos. Aos 70 anos e com um estilo curial que é a antítese de seu antigo chefe, ele é o candidato mais conhecido entre um colégio de cardeais eleitores que nunca foi tão internacional (71 países representados), numeroso e diverso.
Durante seu mandato, Parolin, que quando criança brincava com missas e dizia que queria ser padre quando crescesse, viajou pelo mundo todo, o que o tornou o mais conhecido entre os cardeais eleitores.
Por outro lado, segundo as normas da Universi Dominici Gregis (a constituição apostólica que é a "bíblia" do conclave), Parolin, por ser o mais velho dos cardeais-bispos, será quem conduzirá o conclave. Tanto o decano do Colégio Cardinalício, o italiano Giovanni Battista Re, quanto o vice-decano, o argentino Leonardo Sandri, têm mais de 80 anos e não podem entrar na Capela Sistina. Além disso, ele se apresenta como candidato à continuidade, tendo sido o número dois de Francisco; embora muitos questionem essa interpretação.
Entre as fragilidades, além da falta de experiência pastoral — viveu apenas alguns anos numa paróquia — a primeira é que, tal como aconteceu com Scola em 2013, não conta com o apoio dos 19 cardeais italianos que participarão na votação. Estes não são um bloco compacto. Eles estão divididos e competem entre si. Parolin, de fato, enfrenta outros dois candidatos considerados "papáveis": o cardeal Matteo Zuppi, de 69, anos, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, na linha de Francisco, da Comunidade de Sant'Egidio; e o Patriarca Latino de Jerusalém, Pier Battista Pizzaballa, de 60 anos, apoiado por uma ala conservadora.
A divisão entre os italianos também tem a ver com algo que os jornais italianos mal mencionam, mas que é um segredo aberto. Embora Parolin tenha sido nomeado por Francisco como seu número dois em agosto de 2013 e trazido de volta a Roma da Venezuela, onde era núncio (embaixador no Vaticano), muitos sabem que, ao longo dos anos, eles se distanciaram.
— Embora Francisco o tenha nomeado Secretário de Estado, com o tempo ele percebeu que não confiava mais nele. Todo mundo sabe disso — disse um bispo italiano, que preferiu não se identificar. Ele não escondeu seu “terror” de que, se Parolin fosse eleito, poderia deter o “renascimento da Igreja” provocado pelo Papa argentino . — Não acredito que existam jornais italianos que estejam se calando sobre isso e dizendo que Parolin é o favorito "porque ele era o homem forte de Bergoglio", o que não é verdade.
A verdade é que o próprio Francisco, em seus últimos meses, deixou claro que Parolin não era sua escolha para o conclave, nem seu sucessor. Em fevereiro, pouco antes de ser internado no hospital Gemelli, em Roma, e considerar sua sucessão, Francisco decidiu estender o mandato como decano do Colégio Cardinalício a Re, de 91 anos, que já ocupava o cargo há cinco anos. Ele, porém, não deu nenhuma explicação sobre sua decisão.
No entanto, ninguém deixou de notar que, como o decano do Colégio Cardinalício desempenha um papel fundamental na "cadeira vaga", ele preferiu deixá-la para Re, que, devido à idade, não pode entrar no conclave. No conclave de 2005, após a morte de João Paulo II, o decano do Colégio Cardinalício era Joseph Ratzinger, o Bento XVI, que presidiu tanto o funeral quanto a missa de eleição do Pontífice — dois momentos que lhe permitiram consolidar sua candidatura.
Se Francisco não tivesse renovado o mandato de Giovanni Battista Re como decano do Colégio Cardinalício, é muito provável que os 12 cardeais-bispos encarregados de eleger o cardeal para ocupar o cargo tivessem optado por Pietro Parolin. E isso teria dado a Parolin enorme visibilidade, aumentando suas chances de se tornar um candidato papal. Além disso, Francisco não queria dar a Pietro Parolin nenhum papel relevante nos acontecimentos da última Semana Santa, quando Bergoglio estava se recuperando de sua internação por pneumonia.
Durante sua última e difícil internação no Gemelli, Papa Francisco preferiu receber a primeiro-ministra da Itália, Giorgia Meloni, em seu leito, em vez de Parolin, quem sempre o visitou, mas junto com seu substituto, o Arcebispo venezuelano Edgar Peña Parra.
— Eu confiava no substituto, mas não em Parolin — afirmou o bispo, que preferiu não se identificar.
Segundo outra fonte do Vaticano, Parolin quer se apresentar como a solução para a abordagem econômica de Francisco, que muitos consideram falha. Para ele, isso é uma falácia, porque por trás de todo o escândalo do investimento multimilionário de Giovanni Angelo Becciu Cardeal — o cardeal que desafiava Francisco e desistiu de participar do conclave — em Londres, estava Parolin, que era seu superior direto e não conseguiu impedi-lo.
— Os cardeais italianos que são diplomatas ou membros da Cúria querem fazer de Parolin o próximo Papa por todos os meios necessários para manter seus cargos, e porque esperam que ele recentralize tudo na Secretaria de Estado, da qual Francisco tirou não só o poder, mas também os fundos, o que seria um retrocesso. O plano é retornar ao sistema anterior, com tudo centralizado na Secretaria de Estado, que é o que levou à corrupção que o Papa Francisco tentou coibir — explicou ele, que anunciou que nesta quarta-feira, na sétima congregação geral dos cardeais, o tema em pauta é a economia.
Neste clima aquecido de contagem regressiva, o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, confirmou em encontro com jornalistas que, ao final, 133 cardeais eleitores entrarão no conclave. Dois cardeais, segundo o Vaticano, não poderão participar por motivos de saúde. São eles o espanhol Antonio Cañizares, emérito de Valência, e John Njue, do Quênia. Assim, o próximo Papa precisará de 89 votos (dois terços) para ser eleito.
Além disso, foi confirmado que o conclave começará no dia 7 de maio, quando os 133 cardeais entrarão na Capela Sistina para o juramento de posse antes da eleição, conforme previsto no Ordo Rituum Conclavis, após rezarem na Capela Paulina. Na ocasião, haverá apenas uma votação. Pela manhã, o cardeal Re, decano do Colégio Cardinalício, presidirá a "Missa Pró-Eleição do Pontífice" na Basílica de São Pedro, com os 133 cardeais eleitores.
Se a tendência dos dois últimos conclaves, que duraram apenas dois dias, se repetir, poderá haver um novo Papa no dia seguinte, quinta-feira, dia 8 de maio. Mas teremos que esperar.