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Putin resgata tática da Guerra Fria na política internacional

Durante a Guerra Fria, EUA e União Soviética tentavam unificar e dividir a Europa com a mesma urgência - e esses tempos parecem estar voltando

Putin: intenções da Rússia e reações do Ocidente têm deixado as lideranças internacionais nervosas e um clima de insegurança no ar (Reuters)

Putin: intenções da Rússia e reações do Ocidente têm deixado as lideranças internacionais nervosas e um clima de insegurança no ar (Reuters)

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Da Redação

Publicado em 13 de fevereiro de 2017 às 14h46.

Atenção: o Kremlin está tentando dividir o Ocidente espalhando “fatos alterados”, fazendo chantagens e formando organizações de fachada, informou o Departamento de Estado dos EUA — em 1981.

As chamadas “medidas ativas” eram comuns durante a Guerra Fria, quando os EUA e a União Soviética tentavam unificar e dividir a Europa com a mesma urgência.

Agora, parece que essas táticas estão de volta, adaptadas à era digital, porque o presidente Vladimir Putin está adotando uma tradição ainda mais antiga da política externa russa: “derzhavnost”, ou “grande potência”.

O que a Rússia pretende e como o Ocidente deveria reagir são provavelmente os assuntos que dominarão a conferência anual de comunidade de segurança transatlântica que acontecerá nesta semana na Alemanha.

O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, o secretário de Defesa, James Mattis, e o assessor nacional de Segurança, Michael Flynn, deverão comparecer, e eles encontrarão um público ansioso entre os aliados da Otan, como a chanceler alemã Angela Merkel.

O temor de interferência russa está desenfreado em todo o continente. Sacudida pelo Brexit, a União Europeia enfrenta uma série de eleições importantes a partir do próximo mês na Holanda, na França e na Alemanha.

A líder da Frente Nacional francesa, Marine Le Pen, promete abandonar o euro e talvez seguir os passos do Reino Unido e sair da UE, uma decisão que acabaria com o bloco.

Na Alemanha, Merkel, que liderou a frente unida da UE contra as ações da Rússia na Ucrânia, diz que está enfrentando a eleição mais difícil de sua carreira.

Os EUA têm em Donald Trump seu primeiro presidente a menosprezar publicamente tanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) quanto a UE, os dois pilares da segurança europeia nas últimas sete décadas.

Seus comentários sobre a Europa soaram contraditórios, como dizer que a Otan está “obsoleta” e expressar “forte apoio” à aliança militar duas semanas depois.

No entanto, o caráter imprevisível do bilionário que virou político não tranquiliza muita gente.

‘Poder coercitivo’

O Kremlin, de acordo com o ex-assessor de Putin Sergei Karaganov, está voltando a estratégicas soviéticas e imperiais com ênfase na soberania nacional e na competição de “poder coercitivo”, após um breve período em que tentou acomodar sistemas baseados em normas europeias e estruturas de segurança construídas pelo Ocidente.

“Não estamos interessados em nenhum tipo de unidade na aliança transatlântica”, disse Karaganov, por telefone, de Moscou. “Quanto mais fraca, melhor.”

Mas isso não significa que a Rússia esteja tentando ativamente desestabilizar a UE, disse Karaganov, porque o órgão de 28 países está colapsando por conta própria. “Não estamos jogando do jeito difícil”, disse ele.

Outros detectam a difusão das notícias chamadas falsas em sites alinhados à Rússia, o financiamento russo destinado a partidos contrários ao establishment, como a Frente Nacional de Le Pen, e outros sinais de interferência já vistos no passado.

O secretário de Defesa britânico, Michael Fallon, disse neste mês que a Rússia está “transformando a desinformação em arma” para testar o Ocidente, uma opinião defendida também pelos três países bálticos que integram a UE e a Otan, todos os três ex-membros da União Soviética.

A própria UE alertou para os “riscos cibernéticos” da Rússia para as eleições nacionais e a agência de inteligência interna da Alemanha afirmou ter encontrado “indícios crescentes” de interferências de Moscou.

Derzhavnost

As autoridades russas sempre foram conduzidas pela noção de “derzhavnost”, de acordo com Robert Legvold, professor emérito da Universidade de Columbia e autor do livro “Return to Cold War”, que remonta a ideia ao Principado de Kiev do século 9.

“A ideia de derzhavnost é que a Rússia tem o direito de ser reconhecida como uma grande potência”, independentemente de ter essas capacidades, e isso inclui ter o direito de opinar na definição das regras do jogo internacional, disse Legvold. “Isso faz parte do DNA deles há muito tempo.”

O interesse da Rússia em enfraquecer a união do Ocidente é claro — para minar a liderança mundial dos EUA e expandir sua própria influência, de acordo com Heather Conley, ex-vice-subsecretário de Estado para assuntos da Europa e Eurásia que agora está no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington.

“Em alguns aspectos, a relação transatlântica entre os EUA e a Europa é a força que o Sr. Putin precisa destruir a fim de atingir seus objetivos”, disse Conley, acrescentando que isso torna a abordagem de Trump “difícil de entender”.

Em Munique nesta semana, Pence, Mattis e Flynn poderão medir o crescente alarme na Europa, embora o sucesso da Rússia em dividir a aliança não esteja garantido.

Mesmo que Trump tente enfraquecer o pacto de defesa, republicanos e democratas seniores no Congresso ameaçaram impedi-lo através da legislação.

Os líderes europeus também estão começando a perceber a diferença entre os tweets de Trump e as ações dos EUA, e as autoridades em Moscou já estão preocupadas de que a aparente cordialidade do presidente dos EUA com Putin possa se voltar contra elas.

A Europa, por sua vez, poderia reagir a quaisquer mudanças significativas na ordem vigente por conta própria, recorrendo a tradições mais antigas e autossuficientes.

O novo ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Sigmar Gabriel, prometeu recentemente que seu país vai dar um passo à frente e desempenhar um papel maior nos assuntos internacionais caso os EUA recuem.

“Se Trump adotar um novo isolacionismo, é provável que a Europa se consolide”, em vez de se separar, disse Andrei Zubov, historiador e cientista político russo.

Os europeus, disse ele, vão entender que, se o guarda-chuva de segurança dos EUA desaparecer, eles estarão sozinhos “para enfrentar o terrível Putin e a Rússia dominada pela KGB com armas nucleares”.

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