Um garoto envolto em uma bandeira da Rússia passa perto de membros de uma unidade de autodefesa da Crimeia, numa rua em Simferopol (Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2014 às 17h59.
Simferopol/Bruxelas - Os Estados Unidos e a União Europeia impuseram sanções nesta segunda-feira a algumas autoridades russas e crimeias envolvidas na tomada do controle do território da Crimeia, península ucraniana no Mar Negro, logo depois que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou um decreto reconhecendo a região como um Estado soberano.
A decisão aprofundou a mais grave crise Leste-Oeste desde o fim da Guerra Fria, após os líderes da Crimeia, no estilo soviético, terem declarado que no referendo realizado no domingo 97 por cento dos eleitores aprovaram a separação da região da Ucrânia.
Em questão de horas, o Parlamento da Crimeia pediu formalmente que a Rússia "admita a República da Crimeia como uma nova entidade, com o status de uma república". Putin vai se pronunciar na terça-feira em uma sessão especial conjunta da Duma (Parlamento russo), que poderá tomar uma decisão sobre a anexação da região, cuja população é principalmente de etnia russa.
Isso significaria desmembrar a Ucrânia, uma ex-república soviética, antes sob a influência da Rússia. O governo em Kiev se opõe à separação e, com o apoio de países ocidentais, afirmou que o referendo, realizado sob ocupação de tropas russas, violou a Constituição da Ucrânia e o direito internacional.
As forças russas assumiram o controle da Crimeia no fim de fevereiro, após a derrubada do presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, depois de confrontos com dezenas de mortos entre a polícia e manifestantes que se opunham à sua decisão de rejeitar um acordo de comércio e cooperação com a UE em favor de estreitar as relações com a Rússia.
O presidente dos EUA, Barack Obama, impôs sanções sobre 11 russos e ucranianos que responsabilizou pela ocupação da Crimeia, incluindo o ex-presidente Yanukovich, e Vladislav Surkov e Sergei Glazyev, dois assessores de Putin.
Putin, suspeito no Ocidente de tentar reaver ao máximo o poder da Rússia nas regiões da antiga União Soviética, não estava na lista negra. Um porta-voz da Casa Branca se recusou a descartar a possibilidade de inclusão do nome dele numa fase posterior.
Em meio a temores de que a Rússia possa ocupar o leste da Ucrânia, onde há uma expressiva população de língua russa, Obama advertiu que "novas provocações" só iriam aumentar o isolamento de Moscou e impor mais danos à sua economia.
"Se a Rússia continuar a interferir na Ucrânia, estamos prontos para impor novas sanções", disse ele.
Um alto funcionário dos EUA disse que a ordem de Obama abriu caminho para a imposição de sanções a pessoas ligadas à indústria armamentista e tem como alvo a "riqueza pessoal de compadres" dos líderes russos.
Em Bruxelas, os 28 chanceleres da UE concordaram em submeter 21 funcionários russos e ucranianos a restrições de vistos e congelamento de bens por seu papel nos eventos da Crimeia. A relação inclui três comandantes militares russos na Crimeia e distritos que fazem fronteira com a Ucrânia.
Há apenas três nomes em comum nas listas norte-americana e europeia: o primeiro-ministro da Crimeia, Sergey Aksyonov, o presidente do Parlamento da Crimeia, Vladimir Konstantinov, e o presidente do Comitê da Duma russa na Comunidade de Estados Independentes (CEI), Leonid Slutski, uma entidade que reúne ex-repúblicas soviéticas e é liderada pela Rússia.
A UE já havia colocado Yanukovich na lista negra no início deste mês.