Mundo

Putin pode declarar formalmente guerra à Ucrânia. O que muda?

O 9 de maio é conhecido como "Dia da Vitória" na Rússia, e comemora a derrota dos nazistas em 1945. Há expectativa crescente de que Putin usará a data para anunciar novo momento da guerra na Ucrânia

Putin: dentro da Rússia, guerra na Ucrânia é chamada de "operação especial" (Alexander NEMENOV/AFP)

Putin: dentro da Rússia, guerra na Ucrânia é chamada de "operação especial" (Alexander NEMENOV/AFP)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 3 de maio de 2022 às 14h39.

A Rússia pode declarar formalmente guerra à Ucrânia neste mês, marcando uma nova fase na guerra. A declaração ocorreria em 9 de maio, conhecido na Rússia como "Dia da Vitória", que marca a derrota dos nazistas na Segunda Guerra Mundial (1939-45).

A eventual mudança de estratégia, não confirmada, vem sendo ventilada por autoridades de potências ocidentais. A Rússia nega que isso esteja nos planos.

Assine a EXAME e fique por dentro das principais notícias que afetam o seu bolso. Tudo por menos de R$ 0,37/dia

Embora a guerra na Ucrânia ocorra desde 24 de fevereiro, quando começaram os primeiros ataques à capital Kiev, o conflito é chamado na Rússia de "operação especial" até o momento. O uso do termo "guerra" é passível de punição a cidadãos.

Segundo informou a rede de televisão CNN, a expectativa crescente é de que o presidente russo, Vladimir Putin, possa usar o nacionalismo que cerca o Dia da Vitória para entrar em uma nova fase do conflito dentro de casa.

Anunciar oficialmente a guerra o permitiria, por exemplo, convocar forças de reserva.

VEJA TAMBÉM 

Além disso, colocar a guerra às claras dentro de casa pode se tornar cada vez mais inevitável à medida em que o conflito se prolonga, o que não era inicialmente esperado por Moscou. Por estimativas conservadoras, ao menos 10 mil soldados russos já morreram, incluindo oficiais sênior.

A Rússia também terminou se retirando do norte do país, nos arredores da capital Kiev, onde as forças ucranianas conseguiram resistir aos ataques. Agora, o embate tem se concentrado no leste e no sul do país, como na cidade portuária de Mariupol.

O secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, disse à rádio LBC que acredita que Putin “está preparando o terreno para poder dizer ‘olha, agora é uma guerra contra os nazistas, e o que eu preciso é de mais pessoas'”.

Um dos argumentos internos de Putin a favor da invasão é que Moscou estaria combatendo nazistas em solo ucraniano. Admitir a guerra no dia da rendição nazista seria um ato simbólico, portanto.

O Dia da Vitória, em 9 de maio de 1945, marca a rendição da Alemanha nazista de Hitler e o fim, na prática, da Segunda Guerra Mundial (mais tarde, em agosto, ocorreria ainda o lançamento das bombas atômicas contra o Japão pelos EUA).

A data é também celebrada na Europa Ocidental, mas em 8 de maio, devido ao fuso-horário. Porém, na Rússia, como herdeira da antiga União Soviética (URSS), o Dia da Vitória é historicamente palco de grandes celebrações e feriado nacional.

Com o fim da URSS, o 9 de maio seguiu sendo amplamente celebrado, inclusive no governo Putin. O presidente russo costuma fazer discursos na data.

Fim da guerra em 9 de maio?

Mesmo que a declaração oficial de guerra não ocorra em 9 de maio, é certo que o evento neste 2022, com a guerra na Ucrânia superando dois meses, pode dar pistas de quais são os planos oficiais do Kremlin a partir de agora.

Na contramão de anunciar oficialmente o conflito, há ainda uma outra possibilidade, segundo os rumores: o fim da guerra.

A situação entrou no radar após declaração do papa Francisco ao italiano Corriere della Sera. O pontífice diz ter ouvido de Viktor Orbán, premiê da Hungria, que a Rússia planejava encerrar o conflito no Dia da Vitória. Os dois se encontraram em 21 de abril.

Embora a Hungria faça parte da União Europeia, Orbán é visto como relativo aliado de Putin e defende neutralidade europeia na guerra. O premiê húngaro de extrema-direita foi reeleito em abril e é acusado de medidas antidemocráticas para se perpetuar no poder.

VEJA TAMBÉM

O papa Francisco também afirmou que enviou à Rússia um pedido para se encontrar com Putin, mas não obteve resposta.

Ele diz ter recebido convites para ir a Kiev, capital da Ucrânia, mas negou temporariamente porque afirma que o ideal seria ir a Moscou primeiro.

Além do papa, a Ucrânia também citou o 9 de maio como data crucial para a estratégia de guerra russa. Em comunicado em março, as Forças Armadas da Ucrânia afirmaram que "o trabalho de propaganda" russo impõe "a ideia de que a guerra precisa terminar antes do 9 de maio".

A Rússia nega que haja mudança de planos prevista para 9 de maio. O ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, disse neste mês à TV italiana Mediaset que "os militares não ajustarão artificialmente as suas ações a qualquer data, incluindo o Dia da Vitória".

Acompanhe tudo sobre:RússiaUcrâniaVladimir Putin

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia